Costa não é um político; é o génio da lâmpada mágica. Nunca a imprensa andou tão subservientemente deliciada, atropelando-se para louvar o sucesso da esquerda
o orçamento estaria marginalmente positivo, o que seria pouco para um país tão endividado, mas muito melhor que os inaceitáveis 1% de défice em 2018 de que o governo tanto se orgulha.
Pior, como pensões e salários subiram 3476 milhões, as despesas só não aumentaram mais graças às reduções no capital público e as famigeradas cativações, que têm paralisado os serviços. O pessoal é aumentado, mas os utentes não são servidos. Entretanto o ministro Centeno, estrela internacional das Finanças, não fez uma única reforma no Estado. Agora sabe-se que até «aumentou o número de funcionários públicos pelo 3.º ano consecutivo» (DN 15/Fev), o que prova definitivamente que o propósito do Estado não é servir o país, mas as clientelas que o rodeiam. É isto «política de esquerda», que em Portugal é, não marxista, mas corporativa.
Esta táctica demagógica vê-se bem a cada nível sectorial. Na educação, por exemplo, o ministro está disposto a sacrificar algumas das melhores escolas do país para satisfazer as exigências da Fenprof de um ensino funcionalizado. Agora o ministro do Ensino Superior vai permitir aos politécnicos atribuir doutoramentos (JN 15/Fev). Sempre a questão do aparelho, sem sequer pensar no interesse nacional.
Entretanto na economia os sinais de alarme soam cada vez mais alto, perante a complacência de um primeiro-ministro que triunfa num crescimento de 2,7%. Poupança, investimento e crédito às empresas estão em mínimos nunca vistos, próprios de uma economia em decadência. Com a produtividade e a competitividade a cair, o crescimento é alimentado só pela redução do desemprego. Mas o governo não nota que a melhoria do mercado de trabalho aumenta a precariedade laboral, com mais de um quinto dos trabalhadores em contratos a prazo.
Assim, nesta recuperação económica, a força produtiva fica cada vez mais frágil, mais descapitalizada, mais dependente do turismo, sem qualquer estratégia razoável para enfrentar os enormes desafios de desenvolvimento que tanto preocupam a Europa e o mundo. Mas isso não interessa, se o país está contente com a reposição de rendimentos, que permite voltar aos níveis de consumo insustentáveis que nos conduziram à crise anterior.
Isto é mais uma prova de que António Costa é, simultaneamente, o melhor e o pior governante. Ele limita-se a dar ao povo o que ele quer, por muito irresponsável que isso seja. O país encaminha-se alegremente para uma das maiores crises da história, tendo depauperado empresas, bancos e força laboral, para alimentar grupos instalados à sombra do Estado. Quando ela acontecer, terão de se tomar medidas altamente impopulares, ajustamentos que seriam simples, acessíveis e baratos agora, num período de crescimento. Só que, como as pessoas são míopes, então as culpas cairão sobre quem na altura estiver no poder, deixando Costa como o melhor governante da democracia.