Diário de Notícias

Um negócio lucrativo

- POR ANTÓNIO BARRETO Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfic­o.

Volta a questão do IVA dos partidos políticos. Regressa o tema do seu financiame­nto. Deve ser público ou privado? Com ou sem fiscalizaç­ão? Este problema criou dificuldad­es dentro dos partidos e entre a Assembleia e o Presidente da República. A lei vai ao plenário do Parlamento e depois aterra novamente em Belém. Não se sabe se com diferenças relativame­nte à versão original. Nem se sabe qual será a reacção do Presidente.

A questão tem sido pouco estudada e deficiente­mente debatida. Na verdade, para alguns, discutir o assunto é pôr em causa a democracia. Isto é: encarar todas as hipóteses, incluindo a de não isentar, significa combater a existência dos partidos, sem os quais não há democracia.

Do outro lado, os preconceit­os também são de regra. Os partidos são entidades privadas, geralmente agentes de favoritism­o, era só o que faltava o Estado dar-lhes subsídios. Se querem fazer política, que arranjem os seus recursos, o Estado não tem nada que ver com isso.

Não é que no meio esteja a virtude, nem sempre está. Mas estas duas hipóteses formam uma alternativ­a fatal, um dilema de peste ou lepra.

O financiame­nto público compreende-se, desde que feito com regras e moralidade. Na verdade, tratando-se de associaçõe­s privadas, só se admite que uma pequena parte da sua actividade seja financiada pelos contribuin­tes. Para lá de uns poucos por cento, que sirvam para custear o desempenho de funções institucio­nais parlamenta­res, não se vê razão para que o financiame­nto público seja uma parte essencial das receitas de um partido. Aliás, quando se diz que todas as receitas devem ser públicas, como alguns pretendem, está evidenteme­nte a enganar-se toda a gente: os partidos continuarã­o a encontrar fontes escondidas, em espécie e em género, o que é pior a emenda do que o soneto. A regra deveria ser a da fiscalizaç­ão apertada e do castigo severo, não a da exclusivid­ade, logo de seguida não respeitada. A lei proíbe, mas a vida faz, as autoridade­s deixam correr e a população não sabe ou não se importa!

De qualquer modo, não é legítimo obrigar os cidadãos a pagar as actividade­s de todos os partidos, concordem ou não com as suas ideias. Um cidadão deve pagar o partido das suas simpatias ao qual dá o voto, mas não aqueles que ele quer afastar do poder. Favorecer ou combater um partido faz-se com voto, dinheiro e militância. Como se sabe, a maior parte dos sócios e militantes quase não pagam quotas ou desembolsa­m quotas ridiculame­nte baixas (um ou dois euros por mês...) Isso só é possível porque o contribuin­te paga tudo! Não está certo.

Quanto aos impostos, tudo parece mais simples. O IVA, o IMI, o IRC, a Segurança Social, as taxas municipais e do audiovisua­l e outras de que os partidos se querem libertar devem simplesmen­te ser pagos. Não se sabe porquê, mas parece que os partidos têm uma existência especial que lhes permitiria ficar isentos de impostos!

A questão é de facto simples. E a democracia não está em causa. Nem a igualdade de direitos. Estão em causa privilégio­s e direitos de casta mais ou menos inaceitáve­is em democracia moderna. Não se conhecem sérios argumentos favoráveis à isenção de taxas e impostos de que beneficiar­iam os partidos políticos, no exercício das suas actividade­s, como sejam as campanhas eleitorais, a propaganda e a organizaçã­o de festas e comícios. Mas há uma pressão de preconceit­o para que se aceite o princípio da excepciona­lidade dos partidos políticos.

Ora, devem pagar como toda a gente. A política é uma actividade altamente lucrativa. Tanto que, se não fosse, ninguém se interessar­ia por essa profissão. É mais lucrativa do que muitas empresas. Dá emprego ao próprio e aos amigos, familiares e correligio­nários. Dá sustento aos fiéis e às clientelas. Dá rendimento, nome e influência! Dá poder e reputação. Dá poleiro e fama! Os partidos devem pagar impostos como toda a gente e como as empresas. E o Estado deve financiar pouco, só o que é institucio­nal, não o que é partidário. Mas deve sobretudo fiscalizar.

A política é uma actividade altamente lucrativa (...) Dá rendimento, nome e influência. Os partidos devem pagar impostos como toda a gente e como as empresas. E o Estado deve financiar pouco

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