Diário de Notícias

“Além de Mengele havia outro SS aqui na região”

- PEDRO BURINI AUTOR DE O ANJO DA MORTE EM SERRA NEGRA

Fez a sua tese final de curso sobre a presença de Josef Mengele em Serra Negra e mais tarde transformo­u-a em livro e em DVD. Porquê, sempre foi um assunto muito comentado na região? Não, as pessoas aqui nem gostam de falar disso. Eu é que sempre me interessei pela Segunda Guerra Mundial. E, de repente, ter a possibilid­ade de estudar a vida de dois SS aqui na região, saindo da bibliograf­ia e mergulhand­o na realidade, foi muito interessan­te. Dois? Sim, descobri a presença de Gunther Schouppe, também muito reservado, como o Pedro Hungarez, o nome de Mengele por cá, que não recebia visitas e fechava sempre todos os portões da casa. Era um cabo das SS que conhecia Mengele e que se tornou um industrial milionário aqui. Construiu uma casa a dez quilómetro­s da do Mengele por cá, também com uma torre de observação no cimo. Essas torres podem ter sido inspiradas em Auschwitz? Quando visitei a casa onde Mengele morou, achei a torre de observação peculiar. Mais tarde, entrei em contacto com o Clube Hebraica, organizaçã­o de judeus de São Paulo, e eles averiguara­m que a torre, não sendo igual às de Auschwitz, até por questões de matérias-primas diferentes, é uma herança material de lá. Na pista de Mengele, andou também pelo Uruguai e pelo Paraguai... Fui ao Paraguai, onde encontrei o documento, que ainda guardo, da naturaliza­ção dele e em que garante perante a lei não ter antecedent­es criminais, o que parece quase cómico. Descobri que ele havia tido uma relação muito próxima com o [ditador paraguaio Alfredo] Stroessner, que tinha nacionalid­ade alemã. Antes tinha casado com a cunhada, viúva do irmão, em Nueva Helvecia, perto de Colónia do Sacramento, no Uruguai, para se manter como herdeiro perante a família. J.A.M

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