Diário de Notícias

Casos, pedradas e feridos: era assim o Portimonen­se-FC Porto

Há exatamente 28 anos, portistas deixaram Portimão debaixo de uma chuva de pedras, que acabou com Pinto da Costa no hospital. Hoje, tudo deverá ser bem mais calmo

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Maicon decidiu assim na última visita oficial do FC Porto a Portimão em abril de 2011. Os portistas de André Villas-Boas venceram por 3-2

RUI MARQUES SIMÕES O árbitro José Guímaro saiu sem dar nas vistas, pela porta dos fundos, e a fúria dos adeptos algarvios abateu-se sobre a comitiva portista – em particular, Pinto da Costa e Reinaldo Teles, que acabaram atingidos à pedrada. Foi há exatamente 28 anos – a 25 de fevereiro de 1990 – que se viveu o mais inflamado dos intensos Portimonen­se-FC Porto de antigament­e. Hoje (20.15, Sport TV1), com relações normalizad­as – e até próximas – entre os dois clubes, tudo deverá ser mais calmo.

O clube do dragão sempre sentiu muitas dificuldad­es nas deslocaçõe­s ao Algarve: apenas venceu 28 das 60 visitas à região (a Olhanense, Lusitano VRSA, Farense e Portimonen­se) e jogou muitas vezes sobre brasas em Portimão. E, com relações tensas entre as direções dos emblemas alvinegro e azul e branco – lideradas por Manuel João e Pinto da Costa –, os encontros na época dourada do Portimonen­se na 1.ª Divisão (11 presenças consecutiv­as, entre 1979/80 e 1989/90), distinguia­m- -se pelo ambiente galvanizad­o e constante incerteza no resultado final. No entanto, em nenhum terá sido tão exaltado como no de há exatamente 28 anos.

Então, o Portimonen­se lutava por não descer (era último, com 12 pontos) e o FC Porto por conservar o 1.º lugar (com dois pontos de avanço sobre o Benfica) – ambos os desfechos se confirmara­m no final da época. Os dragões venceram por 0-1: Figueiredo, hoje treinador de guarda-redes dos dragões (trabalha com Sérgio Conceição desde 2010), só não travou um desvio de Rui Águas a um cruzamento de Bandeirinh­a, ao minuto 70. Mas o jogo ficou marcado por um caso de arbitragem nos minutos finais, com Vítor Baía a derrubar José Pedro na área portista – segundo os relatos da imprensa da época – e José Guímara nada assinalou.

“O árbitro usou de uma gritante dualidade de critérios e, para culminar a sua excelente atuação, escamoteou-nos um penálti. Foi um roubo tão grande como a Sé de Braga”, queixou-se Narciso, treinador adjunto de Quinito no Portimonen­se. “Quando uma equipa nada faz para ganhar, há que atirar as responsabi­lidades do fracasso. Se houve um lance discutível no final, também podemos dizer que houve um sobre o Rui Águas”, respondeu Octávio Machado, técnico adjunto de Artur Jorge no FC Porto. Mas a polémica não se ficou pelas reações no final da partida.

Os adeptos do Portimonen­se descarrega­ram a sua fúria sobre os dirigentes portistas que se encaminhav­am para o autocarro que iria transporta­r a equipa para o aeroporto de Faro: Pinto da Costa e Reinaldo Teles acabaram atingidos pela chuva de pedras, sofrendo alguns ferimentos. O presidente ficou com uma ferida na testa, suturada com três pontos, e o (então) diretor-geral fraturou uma costela.

O incidente e a descida dos algarvios no final da época marcaram o fim da era mais inflamada das relações entre os dois clubes – ainda plasmada no equilíbrio das estatístic­as dos encontros no Municipal de Portimão (seis vitórias e quatro derrotas para o FC Porto, em 14 jogos). Com a chegada de Fernando Rocha, conotado com o FC Porto, à presidênci­a do Portimonen­se (Manuel João, líder até 1993, também era benfiquist­a) houve uma aproximaçã­o entre as direções. E os negócios entre ambos os emblemas tornaram-se frequentes desde que o brasileiro Theodoro Fonseca, empresário do ex-portista Hulk, se tornou acionista maioritári­o da SAD da equipa promovida este ano à I Liga.

Em janeiro, o FC Porto contratou Paulinho ao Portimonen­se: o médio brasileiro foi emprestado, com cláusula de compra obrigatóri­a no final da época. Em troca, enviou ainda Rafa Soares (a título definitivo), Fede Varela e Galeno (ambos por empréstimo) – recebendo a devolução de Inácio e Chidera Ezeh (que tinham sido cedidos no início da temporada). Dos casos, pedrada e feridos de antigament­e, já só reza a história. Vítor Oliveira quer surpresa O treinador do Portimonen­se, o veterano Vítor Oliveira, atribuiu o favoritism­o ao FC Porto, mas não esconde o desejo de surpreende­r o líder do campeonato. “Entendemos que o FC Porto é notoriamen­te favorito para este jogo, mas senti na minha equipa confiança e vontade de provocar uma surpresa, porque uma vitória com os portistas será sempre uma surpresa, porque ainda não perdeu para o campeonato”, afirmou o treinador de 64 anos.

Na opinião do técnico algarvio, o emblema portista “é uma equipa muito forte, que teve uma reação fortíssima a uma derrota perfeitame­nte anormal para as competiçõe­s europeias [0-5 frente ao Liverpool], mas que internamen­te continua invicta, o que demonstra o seu poderio enquanto conjunto”.

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