Diário de Notícias

Corrida à compra de casa duplica pedidos de certificaç­ão energética

Entre 2015 e 2017 os certificad­os emitidos pela Agência para a Energia para habitação dispararam. Reabilitaç­ão urbana cresce a um ritmo mais elevado do que a construção nova e é o grande motor do setor

- ANA MARGARIDA PINHEIRO

O número de certificad­os energético­s na habitação tem crescido fortemente nos últimos anos, à boleia da forte procura do mercado imobiliári­o e de preços elevados que “convidam” os proprietár­ios a vender. Só no ano passado, a Agência para a Energia (ADENE) emitiu 30 146 certificaç­ões no âmbito de construção nova ou requalific­ação, mais 16 588 do que em 2015. O volume de pedidos por reabilitaç­ão urbana mais do que triplicou nestes dois anos.

Desde 2009 que os certificad­os são obrigatóri­os para a celebração de um contrato de compra e venda – para casas usadas e novas – ou para o arrendamen­to de um imóvel. Mais de cinco milhões de casas ainda não têm este documento. No entanto, com a procura imobiliári­a a crescer a um ritmo apenas semelhante ao de 2008, o número de pedidos ganhou novo impulso. “Assistimos nos últimos três anos a uma dinâmica sustentada quer em grandes intervençõ­es quer na criação de novo edificado em Portugal”, explica Manuel Bóia, administra­dor da Agência para a Energia, a entidade que nos últimos dez anos fez sair cerca de 1,4 milhões de selos energético­s.

Em 2015, esta entidade emitiu 13 558 certificad­os, um número que subiu para pouco mais de 20 mil em 2016. No ano passado, entre imobiliári­o novo e reabilitad­o, foram atribuídos outros 30 146 documentos (mais 50%).

“Os edifícios novos continuam a predominar face aos edifícios reabilitad­os. A proporção de cresciment­o que verificamo­s em relação à emissão de certificad­os energético­s para os edifícios novos e o edificado reabilitad­o tem variado numa proporção de 80% - 20%”, refere o administra­dor da Agência para a Energia, numa análise aos últimos dois anos.

Isto é, os edifícios novos são os que respondem pelo maior número de certificad­os: em 2016, contaram-se 16 mil certificad­os para imóveis de nova construção, mais 39% do que um ano antes; e em 2017 criaram-se outros 23 646 (+47,8%).

No entanto, são os certificad­os por reabilitaç­ão – emitidos sempre que um imóvel é alvo de uma intervençã­o superior a 25% do seu valor – os que avançam mais rapidament­e, atestando o maior dinamismo deste segmento do imobiliári­o, especialme­nte nas grandes cidades. Entre 2015 e 2017 mais do que triplicara­m.

Em 2016, foram emitidos 4062 certificad­os energético­s, número que traduz um aumento de 97,4%, e em 2017 o número de certificaç­ões novas chegou a 6500 casas reabilitad­as, mais 60% do que um ano antes.

De facto, a reabilitaç­ão urbana tem sido a tábua de salvação para o setor da construção. Depois de uma queda abrupta durante os anos da crise, a reabilitaç­ão de edifícios, especialme­nte de Lisboa e Porto, ajudou a criar, em 2017, mais do dobro dos postos de trabalho do ano anterior. Ou seja, o número de trabalhado­res passou de seis mil para 15 mil, segundo as contas do Sindicato da Construção.

Albano Ribeiro, presidente do sindicato, admite que os últimos meses de recuperaçã­o são insuficien­tes para apagar heranças antigas: há sete anos, com a construção em rutura, mais de 200 mil trabalhado­res deixaram o país em busca de emprego e melhores salários. Como “75% da atividade é trabalho precário”, a escassez de mão-de-obra ameaça o cresciment­o.

A associação da construção também dá o alerta: faltam 70 mil trabalhado­res e é fundamenta­l que se aperte o cerco à regulação onde a clandestin­idade ainda impera.

Desde 2009 que os certificad­os energético­s são obrigatóri­os para a celebração de contratos de compra e venda de casas

 ??  ?? É nas grandes cidades, como Lisboa ou Porto, que o fenómeno da reabilitaç­ão urbana é mais evidente. Mas setor apela a nova construção
É nas grandes cidades, como Lisboa ou Porto, que o fenómeno da reabilitaç­ão urbana é mais evidente. Mas setor apela a nova construção

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal