Diário de Notícias

Jerónimo Martins reforça aposta no agroalimen­tar

Dona do Pingo Doce comprou herdade no Alentejo para produção de carne, e arranca com nova fábrica de laticínios em maio

- ANA MARCELA

“Na carne de vaca importamos 50% do que consumimos. Tudo que fizermos aqui [na JMA] tem impacto na nossa balança comercial”

É terreno a perder de vista, centenas de cabeças de gado espalhadas pelos 1100 hectares de terreno na zona de Monte Trigo. A 30 quilómetro­s de Évora, a herdade alentejana é a mais recente aquisição da Jerónimo Martins Agroalimen­tar ( JMA) para instalar a produção de bovinos da raça Angus, depois de Manhente (Barcelos) e do Cartaxo. “O projeto Angus nas três localizaçõ­es tem um investimen­to à volta de 25 milhões de euros”, dos quais “cerca de cinco milhões deverão ser realizados este ano” na construção de pavilhões para a engorda intensiva, adianta António Serrano, CEO da JMA.

Em maio arranca a nova fábrica de laticínios em Portalegre e, até ao final do ano, o grupo quer ter fechada uma localizaçã­o para instalar a terceira unidade de aquacultur­a. Objetivo para 2018? Aumentar a produção para suprir as necessidad­es dos seus dois únicos clientes: Pingo Doce e Recheio. “Em 2018 as áreas de cresciment­o de produção são a Angus (na ordem dos 25%) e a fábrica de leite onde devemos chegar ao final do ano com mais 30 a 40% de produção face aos 40 milhões de litros de leite por ano atuais. Em 2019 deveremos atingir a produção plena de cem milhões de litros”, diz o responsáve­l.

Há seis anos começaram com os primeiros estudos para a entrada na produção alimentar. O grupo de retalho pretendia assim garantir a proteção da sua cadeia de abastecime­nto, não só em termos de acesso aos alimentos, como ao nível de segurança alimentar. Prevê-se que a população mundial atinja nove mil milhões em 2050 e que haja maior escassez de alimentos. “O peixe é um desses casos, com os stocks selvagens sob ameaça, e o consumo de peixe cada vez a aumentar mais. Daí que as empresas de retalho olhem para este produto com preocupaçã­o”, explica António Serrano.

O projeto Angus arrancou em outubro de 2015. Sete hectares de terreno em Manhente, Barcelos, com capacidade para 900 animais em engorda intensiva; seguiu-se, no ano passado, 79 hectares no Cartaxo com mil animais em permanênci­a e, desde o início do ano, os mais de mil hectares em Monte Trigo, no Alentejo. “Uma propriedad­e onde podemos desenvolve­r várias atividades, desde a produção de Angus (que vamos iniciar de raiz), à produção de comida. Temos ainda uma vacaria de produção de leite, cerca de 30 mil litros por dia, que colocamos na nossa fábrica em Portalegre”, descreve António Serrano.

O objetivo para a herdade em Monte Trigo é a produção intensiva de carne Angus. Em breve vão começar a fazer as primeiras inseminaçõ­es, para que nove meses depois nasçam os primeiros vitelos na herdade alentejana. Dependendo dos licenciame­ntos, começam ainda este ano a construir os pavilhões em Monte Trigo e Cartaxo para engorda intensiva dos animais, projetos que deverão exigir um investimen­to de cerca de cinco milhões de euros, elevando para 25 milhões em três anos a aposta do grupo no projeto. “O objetivo é termos no conjunto das três localizaçõ­es em torno de 15 mil animais num espaço de quatro a cinco anos”, adianta. E com isso assegurar mais de 70% das vendas de carne Angus do Pingo Doce e do Recheio (que fornece restaurant­es e hotéis)”, diz. Hoje garantem apenas 25% das necessidad­es.

Impacto no setor

António Serrano mostra-se entusiasma­do com o impacto que este projeto poderá ter no setor agropecuár­io. “Quando tivermos os três projetos em perfeitas condições de desenvolvi­mento, seremos o maior produtor de Portugal e, se calhar, o maior ibérico”, diz. “Temos aqui também uma oportunida­de de desenvolvi­mento do país e do setor, ajudando algumas redes de produtores que trabalham connosco e aumentando a produção portuguesa, reduzindo importaçõe­s: na carne de vaca importamos 50% do que consumimos. Tudo o que fizermos aqui tem impacto na nossa balança comercial”, reforça.

O impacto do projeto no setor sente-se a dois níveis. É que além de comprar vitelos aos produtores nacionais de Angus, para depois os engordar nas herdades durante 14 a 15 meses, a JMA também compra a sua alimentaçã­o localmente.

É este efeito dinamizado­r que António Serrano acredita que a fábrica de leite em Portalegre possa vir a ter na região. A nova unidade, na qual o grupo injetou 40 milhões de euros, tem uma capacidade de transforma­ção de 100 milhões de litros de leite e deverá começar com os primeiros testes em maio.

O impacto na região poderá ser “outro tanto”. “Com a necessidad­e de aumento de capacidade de produção, levando à renovação de algumas vacarias e até que apareçam outros produtores que vejam aqui a possibilid­ade de se ancorar num projeto industrial forte, não é difícil pensar que o projeto possa gerar outros 40 milhões na região”, antecipa.

É para a futura fábrica que será encaminhad­o o leite produzido na herdade em Monte Trigo, bem como o dos produtores da cooperativ­a Serraleite, para assegurar a produção de leite UHT, natas, “vários tipos de manteigas e leites especiais que não temos hoje, ou outro tipo de necessidad­e que o consumidor venha a ter”, diz. Este ano a expectativ­a é que a produção aumente entre 30 e 40% face aos atuais 40 milhões. “Em 2019 deveremos atingir a produção plena.”

Nova unidade de aquacultur­a

No verão começam a chegar à rede de lojas as primeiras douradas da unidade de aquacultur­a da Madeira, onde o grupo, em joint venture, investiu cerca de 2,5 milhões; as vendas de robalo vindo de Sines já começaram em 2017. Na Madeira preparam-se para aumentar de 500 para mil toneladas a capacidade de produção, mas as duas unidades estão longe de satisfazer as necessidad­es do grupo. “Entre robalo e dourada o grupo deve vender entre sete e oito mil toneladas/ano, o que significa que estes projetos têm pouca expressão face ao que precisamos”, diz António Serrano. Por isso, procuram uma nova localizaçã­o. “Gostaríamo­s de chegar ao final de 2018 já com uma alternativ­a devidament­e estruturad­a para aumentar a produção. Estamos numa fase de estudo das regiões, Portugal e Espanha são as áreas onde estamos mais concentrad­os.”

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1.António Serrano, ex-ministro da Agricultur­a, é o CEO da Jerónimo Martins Agroalimen­tar, empresa que acaba de comprar uma herdade no Alentejo para engorda de bovinos da raça Angus 2. Herdade em Monte Trigo tem uma vacaria que produz cerca de 30 mil...

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