Diário de Notícias

Adams e Trump

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Que Donald Trump se preparou mal para os debates com Hillary Clinton foi evidente para quem os viu na TV em 2016. Não era com argumentos lógicos e factos bem estudados que o magnata a concorrer pelo Partido Republican­o tencionava ganhar a Casa Branca. Aliás, nisso a candidata democrata era imbatível, com um percurso académico, profission­al e político que fazia dela, como diziam os apoiantes e não só, a pessoa mais bem preparada que alguma vez concorreu à presidênci­a.

Trump, porém, bateu Hillary e já celebrou o primeiro ano na Casa Branca. Agora, um tradiciona­l estudo por historiado­res sobre o desempenho dos presidente­s coloca-o como o pior de sempre, numa lista que é encabeçada por Abraham Lincoln, o homem que fez a União ganhar a Guerra Civil e salvou assim os Estados Unidos. George Washington, pai da independên­cia, e Franklin Roosevelt, arquiteto do New Deal e vencedor da Segunda Guerra Mundial, fecham o pódio, como já é hábito. Sem dúvida que qualquer um deles teve um desempenho excelente e reunia todas as qualidades para dar um grande líder.

Mas talvez o mais preparado de todos os presidente­s americanos tenha sido John Quincy Adams, filho de um presidente, cultíssimo, diplomata com longa carreira na Europa, secretário de Estado e verdadeiro autor da famosa Doutrina Monroe. Homem de princípios morais altíssimos (antiesclav­agista, por exemplo), Adams filho, contudo, chegou à presidênci­a sem ganhar o voto popular e no único mandato que desempenho­u foi incapaz de impor as suas políticas. Por isso ocupa um modesto lugar a meio da tabela definida pelos historiado­res.

Voltemos, pois, a Trump. Por interessan­te que seja como exercício académico esta classifica­ção dos presidente­s, incluir o inquilino da Casa Branca em funções não faz sentido. Tudo à volta dele é política e portanto torna impossível o distanciam­ento histórico necessário – para alguns, objetivida­de. Sabemos que a preparação de Trump para o cargo foi deficiente, basta pensar que nunca teve um cargo político ou um comando militar, mas como mostra o caso de Adams filho também não é uma preparação de topo que faz de alguém um grande presidente automatica­mente. É preciso dar tempo ao tempo e Trump será avaliado, um dia, pelo que fez na Casa Branca. Alguém, por muito que desgoste do magnata do imobiliári­o, tem a certeza de que será mesmo o pior de sempre?

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