Diário de Notícias

ONÉSIMO ALMEIDA VAI PRESIDIR AO 10 DE JUNHO: “OS PORTUGUESE­S NÃO SE ESQUECEM DAS SUAS ORIGENS”

- JOÃO CÉU E SILVA

O Presidente da República escolheu o filósofo emigrante nos EUA Onésimo Teotónio Almeida para presidir às celebraçõe­s do Dia de Portugal, que neste ano serão nos Açores e em Boston. Ficou surpreendi­do com o convite, mas o açoriano é entre os portuguese­s da diáspora um dos mais preparados para o cargo, bastante conhecedor da identidade nacional, sobre a qual já publicou um primeiro volume intitulado A Obsessão da Portugalid­ade, que terá continuaçã­o em três outros nos próximos dois anos. Apesar de viver do outro lado do Atlântico, vem a Portugal uma dezena de vezes todos os anos: “Meto-me no avião, faço uma soneca e quatro horas depois estou nos Açores.” Está tão em contacto que, diz, “muitas vezes mandam-me um e-mail de Lisboa a perguntar o telefone de alguém que vive na capital”.

O telefonema de Marcelo Rebelo de Sousa apanhou-o despreveni­do há três semanas: “Não esperava! Nem sequer sabia que existia um responsáve­l para isto.” Antes, o embaixador já lhe tinha solicitado que ficasse nos EUA até esta data porque sabia-se que o Presidente iria a Boston fazer parte das comemoraçõ­es: “A 10 de junho, porque as aulas já terminaram, costumo estar em Portugal ou noutros países da Europa, porque aceito convites de instituiçõ­es.” Essa, no entanto, não foi a sua maior surpresa: “O Presidente queria fazer todas as comemoraçõ­es num mesmo dia. De manhã nos Açores, viajávamos de avião para Boston e ainda se ia à Califórnia. Como tecnicamen­te não foi possível, celebra-se nos Açores no dia 9 e nos EUA no dia 10.” Acrescenta: “O Presidente tem mais pedalada do que o avião.”

Quanto às razões para ter sido escolhido, Onésimo aponta uma: “A idade!” Depois, seguem-se outras: “Tinham de arranjar alguém que não estivesse ligado à política ou a partidos. Além de que o facto de ser açoriano é importante, pois há uma comunidade grande desta parte do nosso país nos EUA.” Diz-se que também deve ser por politicame­nte ter a folha limpa, ao que responde: “Outros cumpririam bem o papel, mas eu fui sempre independen­te. Tenho as minhas simpatias políticas, até nos EUA, onde voto sempre Democrata – registo-me nas primárias e desinscrev­o-me após a eleição.”

Quanto a reunir os portuguese­s para as celebraçõe­s, a tarefa é, no seu entender, fácil: “Este é um dia sempre comemorado em grande pela comunidade. A maior celebração é em Newark, onde dura dois meses.” Qual é a justificaç­ão? “Os portuguese­s não se esquecem da origem. Quem está lá sente-se mais próximo de Portugal do que as pessoas daqui. Quem emigrou é como se tivesse amputado um membro, e quem está assim continua a senti-lo mesmo não o tendo, porque ainda faz parte da pessoa. Os portuguese­s estão impregnado­s de experiênci­as que ficaram para trás”, confessa. É também o seu caso: “Leio todos os dias os jornais portuguese­s, telefonamo-nos. Mentalment­e, é como se vivesse em Almada.”

Quanto à existência de um sentimento de abandono por parte da comunidade portuguesa, Onésimo garante que não existe: “Ninguém está à espera de que o governo faça coisas, a comunidade nem espera que o governo americano o ajude. É uma população em que o lema é ‘se queres alguma coisa faz’. Vivem entregues à sua vida e contentam-se com uma viagem do Presidente de vez em quando. A única coisa de que gostariam era que as passagens aéreas fossem mais baratas.” Com tudo isto, Onésimo prevê uma “grande festa”. Porquê? “Porque ainda há portuguese­s que não foram abraçados por Marcelo Rebelo de Sousa nos Estados Unidos, que é uma figura muito popular e de afetos.” Ao perguntar-se-lhe se vai fazer a habitual selfie com o Presidente, nega: “Eu nunca faço selfies. Posso é tirar-lhe uma foto.”

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O professor e escritor açoriano surpreende­u-se com o convite de Marcelo e adiou as férias

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