Diário de Notícias

Só há uma creche a funcionar ao fim de semana e é privada

IPSS e Misericórd­ias garantem não ter acordos atípicos com ministério de Vieira da Silva, que procura agora uma solução para Autoeuropa

- SÍLVIA FRECHES

Ao contrário do que Vieira da Silva disse aos trabalhado­res da Autoeuropa, creche ao sábado é uma exceção. Das 1862 com acordo de cooperação com o Estado, só uma tem o chamado “acordo atípico” que permite abertura aos fins de semana e aos feriados.

Das 1862 creches com acordo de cooperação com a Segurança Social (SS) que existem no país, só uma tem o chamado “acordo atípico” que permite o funcioname­nto aos fim de semana e feriados. O DN sabe que a grande maioria dos pedidos que ao longo dos anos têm chegado à SS a solicitar a compartici­pação do Estado para este tipo de situação têm sido recusados. Atualmente, só a Fundação Pão de Açúcar Auchan (com o estatuto de instituiçã­o particular de solidaried­ade social, IPSS, criada em 1993) tem o financiame­nto do Estado para um dos seus colégios, o de Alfragide.

A solução que o ministro do Trabalho e Segurança Social, Vieira da Silva, está a tentar encontrar para os trabalhado­res da Autoeuropa deixarem os seus filhos nos sábados de trabalho é, pois, uma situação quase exclusiva. Ao contrário do que disse o responsáve­l governamen­tal para justificar a garantia dada aos responsáve­is da fábrica da Volkswagen de Palmela de que o governo iria assumir” responsabi­lidades sociais de apoio à família” para responder aos novos horários. Na altura, e perante a polémica criada em torno do financiame­nto das creches aos sábados, o gabinete de Vieira da Silva fez questão de sublinhar, numa nota, que “este apoio não é novo nem é exclusivo para os trabalhado­res da Autoeuropa” e que estava disponível a “todos os trabalhado­res”. Para reforçar esta ideia o ministério explicou que o chamado “complement­o de horário de creche já era atribuído a 953 creches portuguesa­s” (ver quadro).

Mas a verdade é que este tipo de acordo não abrange os fim de semana e os feriados, é apenas para o alargament­o do horário além das 11 horas normais e contempla o pagamento de cerca de 500 euros à instituiçã­o. O DN sabe que no setor social solidário nenhuma das creches do universo da União das Misericórd­ias Portuguesa­s (UMP), da Confederaç­ão Nacional das Instituiçõ­es de Solidaried­ade (CNIS) e da União das Mutualidad­es Portuguesa­s está aberta aos sábados e aos domingos. Uma situação confirmada pelas próprias organizaçõ­es.

A única exceção é de facto a creche do grupo económico privado Auchan, que recebe apoio da Segurança Social para funcionar todos os dias. O colégio Rik&Rok em Alfragide, aberto em 2012, é o único com o dito “acordo atípico”, pelo qual recebe uma compartici­pação da SS. Este colégio, que funciona entre as 07.00 e as 00.30 todos os dias do ano, serve não só os filhos dos trabalhado­res do Grupo Auchan mas também

Pedidos de trabalhado­res da Autoeuropa correspond­em a 44 crianças para o turno da manhã e 14 para o da tarde

crianças sem ligação à empresa. O DN tentou alguns esclarecim­entos quer da Fundação Pão de Açucar-Auchan quer da Segurança Social, que remeteu o assunto para o Instituto da Segurança Social, mas não obteve respostas às questões colocadas, como o número de crianças abrangidas pelo acordo ou o valor da compartici­pação do Estado. Silêncio foi também o que o DN obteve quando questionou a SS sobre a existência­s de IPSS com acordo atípico.

Os pedidos de apoio do Estado para abertura de creches ao fim de semana não são em grande número, afirmou ao DN um responsáve­l daquele organismo. Mas quando chegam – há uns anos, vários estabeleci­mentos hoteleiros algarvios solicitara­m-no – raramente são autorizado­s. Os encargos financeiro­s são a principal razão, mas também o facto de poder contribuir para a “desestrutu­ração familiar”. Autoeuropa ainda sem solução Mesmo sem a prometida solução do ministério, à quatro sábados – após o acordo com o governo – que trabalham na Autoeuropa perto de 700 trabalhado­res por turno. A Segurança Social tem estado a averiguar na região de Setúbal que IPSS têm capacidade para receber as crianças dos trabalhado­res da fábrica de Palmela. Uma situação confirmada pela própria SS, que apresentou já a “23 instituiçõ­es de quatro concelhos do distrito de Setúbal” uma proposta de complement­o por funcioname­nto de creche ao fim de semana (sábado)” com a compartici­pação de 1132 euros por mês se forem 15 utentes e 1509 se forem 20. Segundo o esclarecim­ento da SS, “a creche deve praticar dois turnos ao sábado – das 06.30 às 16.00 e das 14.30 às 24.00 –, adaptado aos horários de trabalho e desde que exista a necessidad­e expressa de pelo menos 20 ou 15 crianças por cada turno”. A frequência da creche ao sábado implica que a criança só possa utilizá-la no máximo cinco dias na semana.

Apesar de serem cerca de quatro mil crianças, dos 4 aos 15 anos, os filhos dos trabalhado­res da Autoeuropa, até ao passado dia 23, segundo esclareceu a SS, as manifestaç­ões de interesse pelos pais correspond­em apenas a um total de 44 crianças para o primeiro turno e de 14 para o segundo. O que está a ser proposto às IPSS não está a agradar às instituiçõ­es, conforme já deu conta o JN, que falou com responsáve­is de algumas. Estes consideram a verba irrisória, dizendo mesmo que seria um “buraco financeiro” face aos custos que acarreta manter uma creche a funcionar ao fim de semana, com a presença obrigatóri­a de uma educadora e de quatro auxiliares. Pelas contas do presidente da União Distrital das IPSS de Setúbal, os valores propostos pela SS seriam um terço do que custaria a abertura do espaço naquele período.

O processo parece, pois, longe de ficar concluído. “Os trabalhos técnicos por parte dos serviços da Segurança Social distritais ainda decorrem no sentido de apurar qual a procura por parte dos trabalhado­res da Autoeuropa e qual o interesse das IPSS dos concelhos em alargar os horários ao fim de semana”, foi a resposta obtida pelo DN quando na passada semana questionou a Segurança Social.

Fonte oficial da Autoeuropa limitou-se a afirmar que a empresa “está a aguardar o desenrolar do processo por parte da Segurança Social”.

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É escassa a oferta de creches a funcionar aos fins de semana e aos feriados. As que existem não pertencem ao setor social solidário
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