Diário de Notícias

ÁRVORE DO ANO

HÁ UM SOBREIRO PORTUGUÊS CANDIDATO A

- FILOMENA NAVES

Quando foi plantado, mesmo no centro de Águas de Moura, em 1874, reinava em Portugal a rainha D. Maria I, que nesse mesmo ano mandou inaugurar iluminação pública em Lisboa. Lá fora, o mundo fervilhava: Lavoisier inventava a química e descobria a composição da água, Kant publicava a sua filosofia, Mozart compunha concertos para piano. Desde então, o mundo mudou muito e o pequeno sobreiro de Águas de Moura, no concelho de Palmela, cresceu e atravessou os séculos. Hoje, com os seus 234 anos e 16,2 metros de altura, chamam-lhe o sobreiro assobiador, por causa dos pássaros que ao fim da tarde se juntam na sua imensa copa a chilrear, e é bem possível que ganhe o prémio Árvore Europeia do Ano 2018 a 21 de março. A votação é até 28 de fevereiro, neste site: https://www.treeofthey­ear.org/ET Y-2018/Home.aspx

Portugal entra este ano pela primeira vez no concurso Árvore Europeia do Ano com esta velha, mas muito frondosa, árvore – a sua copa tem uns soberbos 29,4 metros de diâmetro e o tronco anda pelos 5,24 –, que é uma espécie de símbolo de todas as árvores de Portugal.

Foi por isso, aliás, que a UNAC – União da Floresta Mediterrân­ica, que reúne as associaçõe­s de produtores florestais da Beira Interior até à costa algarvia, a escolheu para representa­r o país nesta estreia no concurso europeu.

Este sobreiro, a que também chamam casamentei­ro na aldeia, porque sob ele já namoraram parezinhos de muitas gerações, “é o maior e o mais mais antigo do país”, explica Nuno Calado, da UNAC, a entidade que organizou esta primeira participaç­ão de Portugal.

“Este ano, porque estamos a entrar pela primeira vez na competição, foi a UNAC que escolheu a árvore, mas para a próxima edição a escolha será feita de outra forma, com uma votação online para o público eleger a árvore que vai representa­r Portugal em 2019, e já estamos a preparar isso”, esclarece Nuno Calado.

Promovida pela fundação checa Czech Environmen­tal Partnershi­p Foundation, com o apoio da European Landowner Organizati­on e de eurodeputa­dos checos, a competição A Árvore Europeia do Ano iniciou-se em 2011, e desde então tem registado sempre um número crescente de países participan­tes: de cinco, em 2011, para os atuais 13.

“Apercebemo-nos deste concurso porque a UNAC é membro de um dos seus organizado­res, a European Landowner Organizati­on, e então decidimos participar”, conta Nuno Calado.

A escolha da árvore era quase óbvia: “Pensámos que tinha de ser um sobreiro porque é uma árvore emblemátic­a de Portugal”, explica o responsáve­l. Afinal, en- tre as árvores, esta tem por cá um currículo incomparáv­el e, por isso, “simboliza um pouco a árvore nacional”.

Se falarmos de cortiça, estamos em sede de recordes e de números sempre altos. “Portugal é o primeiro exportador de cortiça do mundo, e também o primeiro na sua transforma­ção industrial”, explica Nuno Calado, sublinhand­o que “no ano passado, o valor das exportaçõe­s do setor rondou os mil milhões de euros”. É assim uma árvore “muito relevante pelo seu peso económico para o país”. Mas não é tudo. Na prática, representa um total de 700 mil hectares da floresta portuguesa, “que gera emprego e riqueza”, além dos importante­s serviços que presta enquanto ecossistem­a. “É um habitat de grande biodiversi­dade, que abriga espécies emblemátic­as como o lince-ibérico e a águia-real e que depende da gestão do homem para funcionar desta forma”, adianta Nuno Calado. “Se não for gerido, enche-se de mato e deixa de prestar esses serviços”, nota.

Por tudo isto, e porque o sobreiro assobiador é uma árvore muito singular, recaiu sobre ele a escolha. “No dia 21 de fevereiro, o último dia em que o número de votos era visível, o sobreiro estava à frente”, diz satisfeito Nuno Calado. Desde aí, e até 28 de fevereiro, o último dia da votação, os resultados não estão visíveis. Mas, para o sobreiro assobiador ganhar, só há uma maneira: é ir lá votar.

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1 . Este é o sobreiro assobiador, que atravessou os séculos e representa Portugal na competição Árvore Europeia do Ano 2018. Em 21 de fevereiro ia à frente na classifica­ção 2. O carvalho de 188 anos de Belgorod é a árvore a concurso pela Rússia, que...

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