Diário de Notícias

Rio estreita pontes com Marcelo. Negrão enfrenta primeiro teste

Novo líder do PSD leva hoje a Belém algumas das suas apostas políticas, numa semana que ficará marcada pelo início do diálogo com o governo e pelo frente-a-frente entre Negrão e Costa

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Rui Rio volta hoje a Belém para um almoço com Marcelo Rebelo de Sousa, que já se manifestou disponível para outros encontros

PAULA SÁ Depois de um primeiro encontro quase protocolar poucos dias após o congresso do PSD, Rui Rio volta hoje a Belém para um almoço com Marcelo Rebelo de Sousa. Neste encontro a dois, o Presidente da República irá certamente perceber melhor quais as apostas do novo líder social-democrata, sobretudo a nível de acordos de regime que se propõe a estabelece­r com o PS e com o governo.

“O encontro é normal”, considera uma fonte do PSD, mas “revela que Marcelo quer “estreitar pontes com o PSD”. Um líder com quem teve alguns momentos de confronto enquanto foi ele próprio líder do PSD e Rui Rio secretário-geral do partido. Há quem também veja neste encontro tão rápido algum afã de Marcelo em perceber bem o o que vem por aí com a nova direção do PSD. “O Presidente gosta de ter muita informação e é nesse sen- tido que quer perscrutar os líderes.” Mas Marcelo também poderá dar um sinal ao novo presidente social-democrata do grau de empenhamen­to que ele terá nos consensos nacionais. Se os “apadrinha” ou se apenas os seguirá “atentament­e”, quando foi ele próprio a inscrever alguns na agenda nacional, como o do pacto para o interior. E que não parece estar no radar das prioridade­s de Rio e António Costa, como assinalou Marques Mendes ontem na SIC.

Um tema que também não deverá escapar à conversa entre Rui Rio e Marcelo Rebelo de Sousa é o futuro da nova liderança da bancada parlamenta­r, após uma espécie de rebelião dos deputados que levou Fernando Negrão a ser eleito, na quinta-feira, apenas com 32% dos votos expressos.

Negrão tem já a primeira prova de fogo na quarta-feira, no primeiro debate quinzenal com o primeiro-ministro. Fontes do PSD admitiram que este primeiro confronto, e até porque a bancada ainda continua agitada, estará a ser preparado entre o novo líder parlamenta­r e a direção nacional do PSD.

Marques Mendes frisou ontem que Negrão tem uma “legitimida­de fraca e que os seu maior desafio são os debates quinzenais com o primeiro-ministro. O antigo líder social-democrata foi aliás muito crítico em relação ao que se passou na bancada parlamenta­r, que não dava há muito tempo uma “imagem de tão desgraçada”, disse. Considerou que Negrão foi mais “vítima” do que “réu” e repartiu as responsabi­lidades desta situação entre Rui Rio e os próprios deputados do PSD.

De Rio disse que foi um erro não ter falado ao grupo parlamenta­r desde que foi eleito, há um mês e meio, para a liderança do partido e que “provocou” desnecessa­riamente o anterior líder parlamenta­r Hugo Soares para a primeira reunião da Comissão Política Nacional. Mas também não ilibou os de- putados sociais-democratas por terem de forma “inaceitáve­l” fomentado uma “guerra de guerrilha”, esquecendo-se de que é impensável que um líder da bancada seja alguém que não tenha a confiança do presidente do partido.

Dos confrontos de Negrão com António Costa, Mendes considerou que ou é “firme, assertivo e acutilante” ou ainda sai mais fragilizad­o. O também conselheir­o de Estado admitiu que neste primeiro debate quinzenal, na quarta-feira, Costa vá querer ser “simpático” para o novo líder parlamenta­r social-democrata. Fontes parlamenta­res admitiram ao DN que também esperam que neste primeiro debate Costa “dê a mão” a Negrão e não o enfraqueça ainda mais. “De que servia a Costa pôr já em causa esta solução no PSD?” – questionou um deputado do PSD, que espera também que o novo líder parlamenta­r queira mudar o registo de confronto com Costa, num tom mais “suave” do que do antecessor, Hugo Soares.

O grupo parlamenta­r também irá reunir-se nesta semana pela primeira vez com a nova direção e a expectativ­a é de que “as feridas comecem a sarar”.

Amanhã, o partido começa também a nova etapa de diálogo com o governo. O ministro do Planeament­o, Pedro Marques, e uma delegação social-democrata liderada pelo antigo secretário de Estado do Desenvolvi­mento Regional, agora vice-presidente do PSD, Manuel Castro Almeida, vão encontrar-se para discutir a reprograma­ção dos fundos comunitári­os pós-2020.

Castro Almeida garantiu ao DN que é apenas a primeira etapa para marcar o calendário e a metodologi­a da discussão. “Nesta fase vamos querer demonstrar o empenhamen­to do PSD em dar força à posição do governo perante a União Europeia”, disse.

Quem se mostra muito crítico em relação à estratégia de Rui Rio no que diz respeito aos consensos é Marques Mendes. Ontem, lembrou que o PSD esteve cinco meses paralisado e que Rui Rio em vez de ter investido na oposição ao governo a primeira coisa que fez foi tomar a iniciativa de negociar com o executivo. “E a agenda do PSD é negociar acordos na Segurança Social e na Justiça? Se Rio não impõe algo da sua agenda, corre o risco de parecer uma muleta do governo.”

Neste ponto dos acordos, Mendes considerou as matérias que irão ser debatidas entre o PSD e o governo “pífias”, porque os dois partidos não têm grandes divergênci­as. O que era preciso debater, defendeu, era um acordo sobre o desenvolvi­mento do interior do país. Um tema que, lembrou, foi colocado na agenda política pelo Presidente da República, com quem Rui Rio se encontra hoje em Belém.

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