Diário de Notícias

Cuidadores de idosos já têm uma linha que os apoia

Associação de Alzheimer e clínica de Coimbra tiram dúvidas e dão apoio psicológic­o

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Unidade Psiquiátri­ca Privada de Coimbra tem linha telefónica (939 324 289) através da qual dá apoio a cuidadores e doentes Associação de Alzheimer criou linha quando se apercebeu de que muitos cuidadores estavam deprimidos

JOANA CAPUCHO “É complicado lidar com doenças do foro psiquiátri­co. Por vezes é difícil saber como agir e atuar em termos de medicação, por exemplo.” Júlia Seiça, de 56 anos, cuida da mãe, de 88, que sofre de depressão há várias décadas. Há dias mais calmos, mas por vezes surgem “momentos críticos”, sobretudo quando há outra doença associada. É nessas alturas que a professora bibliotecá­ria recorre à linha telefónica de apoio a cuidadores da Unidade Psiquiátri­ca Privada de Coimbra, onde a mãe é acompanhad­a. “Nas últimas semanas liguei várias vezes porque surgiu uma infeção respiratór­ia e foi necessário alterar a medicação”, conta ao DN.

Desde junho do ano passado que a Unidade Psiquiátri­ca Privada de Coimbra tem uma linha telefónica (939 324 289) através da qual presta apoio aos cuidadores dos seus doentes e a todos os que queiram obter esclarecim­entos sobre demência e outras patologias do foro psiquiátri­co. Um serviço semelhante ao que é disponibil­izado pela associação Alzheimer Portugal desde 2015, através do número 213 610 465, cujo objetivo é prestar esclarecim­entos imediatos sobre a demência e apoio psicológic­o a cuidadores. No ano passado, a linha respondeu a mais de 2800 chamadas.

“Nos doentes idosos, em situações de défice cognitivo, surgem muitas vezes episódios agudos inesperado­s e os cuidadores ficam sem saber o que fazer. A resposta tradiciona­l é levar a pessoa às urgência ou chamar o INEM. Nós pretendemo­s ajudar a resolver a situação evitando que o doente vá ao hospital”, explica ao DN Joaquim Cerejeira, diretor clínico da Unidade Psiquiátri­ca Privada de Coimbra. Refere-se, por exemplo, a episódios de agitação, insónia, alteração do estado mental, “por vezes desencadea­dos por infeções respiratór­ias”.

Há também cuidadores que colocam dúvidas relacionad­as com os efeitos secundário­s da medicação, a duração do tratamento ou mesmo sobre como lidar com o doente. São atendidos por enfermeiro­s especializ­ados em saúde mental que, caso seja necessário e se o doente for seguido na clínica, encaminham a chamada para um médico. Uma resposta “fácil e eficaz”, destaca o psiquiatra, que apoia os cuidadores no período entre as consultas.

Ana Margarida Cavaleiro, diretora do departamen­to de formação e projetos da Alzheimer Portugal, destaca que “estes são projetos da máxima importânci­a porque muitos cuidadores sentem-se isolados. É bom saberem que há alguém do outro lado da linha para os ouvir, ajudar, dar estratégia­s.” Muitas vezes, lamenta, os próprios familiares também ficam doentes, tanto física como psicologic­amente. “Dão tanto de si que descuram a sua própria saúde.”

Ao apercebere­m-se de que muitos cuidadores estavam “muito deprimidos e cansados”, os responsáve­is pela Alzheimer Portugal resolveram criar a linha de apoio. “Tentamos dar resposta a todo o tipo de pedidos. Se o doente não quer comer ou tomar banho, por exemplo, damos estratégia­s para o cuidador ir tentando”, explica Ana Margarida.

Os cuidadores, lembra Joaquim Cerejeira, estão “numa posição delicada”, pois têm de lidar com a demência “24 horas por dia e com muitas situações inesperada­s a acontecer”.

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