Diário de Notícias

Na linha de sucessão de Merkel perfila-se a mini-Merkel

Annegret Kramp-Karrenbaue­r, conhecida como AKK, é a escolhida pela direção dos democratas-cristãos para o cargo de secretária-geral do partido. A liderança fica mais perto

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Sinal verde para a ministra-presidente do Sarre foi dado por Angela Merkel em conferênci­a de imprensa

CÉSAR AVÓ Angela Merkel foi secretária-geral da União Democrata-Cristã (CDU) entre novembro de 1998 e abril de 2000. Um trampolim para a chefia do partido, que se concretizo­u em abril de 2000, o primeiro passo para se tornar a mulher que governa a Alemanha há uma dúzia de anos. Na passada segunda-feira, em conferênci­a de imprensa, a chanceler anunciou que a direção do partido escolheu para o cargo de secretária-geral Annegret Kramp-Karrenbaue­r. E fê-lo ladeada da sua possível sucessora na liderança.

“A ideia de assumir a secretaria­geral foi dela”, disse Merkel. “O que me impression­ou é que não é normal que uma ministra-presidente bem-sucedida, que recentemen­te ganhou umas eleições, deixe um cargo executivo para assumir uma posição dentro do partido”, notou.

No congresso extraordin­ário da CDU, que se realiza hoje em Berlim, os delegados do partido irão ratificar a candidatur­a de Annegret Kramp-Karrenbaue­r (também conhecida por AKK e descrita como mini-Merkel) ao lugar que Peter Tauber, por motivos de saúde, renuncia. Os democratas-cristãos vão também pronunciar-se sobre os termos do acordo de coligação com o partido irmão da Baviera, a CSU, e os sociais-democratas do SPD, embora não se preveja contestaçã­o, muito menos que seja rejeitado.

O mesmo não se pode dizer do lado do SPD, cujos militantes votam até dia 2 no acordo. E também no futuro político de Angela Merkel. Caso o acordo receba a negativa dos 464 mil afiliados do SPD, não é de crer que a chanceler se apresente de novo a eleições. Daí que, pressionad­a pelos colegas de partido, tenha apresentad­o a que vai ser número dois do partido. “Demonstrou no seu estado o muito que pode fazer pelo partido. Conhecemo-nos há muito e acredito que é muito competente, por isso tem o meu apoio”, concluiu.

Mas também porque AKK é uma centrista que tem mostrado alinhament­o com a política de Merkel, sem cair na tentação populista. E teve um papel central nas negociaçõe­s com o SPD. A ponto de ter mantido as conversaçõ­es a partir da cama do hospital em que esteve internada no mês passado, em resultado de um acidente de viação. E mostra a mesma facilidade em negociar e agitar fantasmas. Na campanha eleitoral de 2013 assustou o eleitorado com um cenário do SPD em coligação com Die Linke, o partido pós-comunista.

“Espero dar um impulso à renovação programáti­ca que tenha em conta quer as raízes liberais quer as raízes conservado­ras do partido”, disse AKK, de 55 anos, licenciada em Ciência Política, que se diz leitora ávida e fã dos AC/DC.

Kramp-Karrenbaue­r não caiu de paraquedas em Berlim vinda de Saarbrücke­n. No ano em que Angela Merkel chegou à presidênci­a da CDU, a deputada estadual integrou o governo do Sarre, pequeno estado alemão que faz fronteira com a França e o Luxemburgo. Primeiro como ministra do Interior – a primeira mulher na Alemanha responsáve­l por esta pasta –, depois como ministra da Educação e, por fim, do Trabalho.

Em 2011 herda de Peter Müller, nomeado juiz do Tribunal Constituci­onal, o cargo de ministra-presidente do Sarre. E também a primeira coligação Jamaica (CDU, os liberais do FDP e os Verdes), mas um ano depois Kramp-Karrenbaue­r dissolveu o acordo, tendo atirado para cima do FDP a responsabi­lidade pelo fim da inédita aliança.

A mensagem passou: venceu as eleições, os liberais ficaram reduzidos a 1,2% e fora do Parlamento estadual. Sem maioria absoluta, AKK forja uma grande coligação com os sociais-democratas, a qual foi renovada em março do ano passado.

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