Diário de Notícias

De que vale um líder certinho?

- PAULO TAVARES

OPSD que saiu do congresso da FIL levou para a primeira semana de vida real a divisão nas votações para os diferentes órgãos do partido, no domingo. Estava mais do que anunciada a reação dos órfãos do passismo – teve bastante palco no congresso –, mas o motim na bancada parlamenta­r foi sério e tem todos os ingredient­es para vir a criar ruído à afirmação da nova liderança, ou talvez não.

Rui Rio viveu toda a sua carreira executiva na política, os mandatos na Câmara do Porto, em confronto. Contra hábitos instalados na autarquia, contra o statu quo na cultura ou contra o Futebol Clube do Porto. Num tempo ainda livre de redes sociais e em que a representa­tividade não vivia uma crise tão profunda como atualmente, Rio foi ganhando eleições. Uma guerra com o grupo parlamenta­r, no atual estado de coisas, com o fraco capital de credibilid­ade que a Assembleia da República tem junto da opinião pública, será algo que Rui Rio poderá usar mais como currículo do que como cadastro. A mesma lógica pode ser aplicada à poeirada levantada pela escolha de Elina Fraga para uma das vice-presidênci­as do PSD. Se Rio conseguir, com gestos como esse e convivendo com uma frente interna de contestaçã­o, provar que não é “um político como os outros”, terá mais a ganhar do que a perder.

Não veremos certamente Rui Rio a abrir conta no Twitter para falar diretament­e para as bases, mas a estratégia de não seguir um guião previsível tem tudo para agradar a faixas do eleitorado mais cansadas da política. Se isso vai conquistar votos ao centro, onde o PSD terá de ser competitiv­o se quiser recuperar as perdas dos últimos anos, já é mais incerto. Aí, Rio parece apostar numa outra face da diferencia­ção em relação a Passos Coelho, com uma disponibil­idade para dialogar com o PS. O eleitor médio do centro valoriza a capacidade de diálogo, de entendimen­to e penaliza a crispação ou a oposição pela oposição. Passos capitalizo­u em votos cada PEC ou OE viabilizad­o a Sócrates, por muitos engulhos internos que lhe tenham criado essas opções.

Será esse o guião que Rui Rio vai discutir hoje com Marcelo Rebelo de Sousa à hora do almoço em Belém. Não sairá desse esforço a três – Marcelo, Costa e Rio –, certamente, vontade política suficiente para afrontar corporaçõe­s e avançar nas reformas, mas todos têm mais a ganhar do que a perder com a encenação.

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