Estamos a pagar a escolaridade de Donald Trump
Quando da Conferência de Berlim (1885), houve um acordo diplomático entre grandes e pequenos países europeus para dividir a África. Mas já com dezenas de povos africanos não houve diplomacia nenhuma, retalharam-se os territórios e está a andar... A diplomacia é uma aprendizagem segundo as relações de força. Depois de duas guerras mundiais, o mundo evoluiu um bocadinho. Embora com muitos abusos práticos, os poderosos habituaram-se a homenagear a diplomacia, pelo menos no domínio da teoria. Um dia, porém, um poderoso candidato a líder da maior das nações disse, em discurso público,sobre um país vizinho:“Vou construir um muro a separar-nos e os mexicanos ainda não sabem, eles é que o vão pagar...” Houve na frase mais do que soberba, houve desprezo. Depois disso, nem Trump foi à Cidade do México, nem o presidente mexicano Peña Nieto foi aWashington.Por causa daquela frase. Na terça-feira passada, mais um telefonema entre Trump e Nieto, durante 50 minutos, e mais uma visita adiada. Nieto voltou a dizer que, a haver visita, o México diria que não paga o muro. E para Trump essa declaração pública era insuportável. A diplomacia diria: sem aquela frase estúpida de Trump, de há ano e meio, não haveria assunto hoje, mesmo havendo muro. Agora, porque a frase encurralou o México, há outra hipótese: invadir o México, ocupar o Banco do México e pagar o muro. Pode Trump fazer isso? Se puder, é um criminoso como os conferencistas de Berlim. Se não pode, temos de ser prudentes e, havendo como única prova aquela frase, há que considerar Trump só estúpido.