Diário de Notícias

Metade dos donos de armas nos Estados Unidos não as guardam em locais seguros

Inquiridos confiam mais nos conselhos de um agente da autoridade ou de um veterano das Forças Armadas do que nos dos médicos

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Jovens alunos da Florida têm exigido mais segurança, relançando o debate sobre as armas nos EUA

HELENA TECEDEIRO James e Kimberly Snead sabiam que Nikolas Cruz, o jovem que acolheram em 2017 após ficar órfão, tinha armas. O que eles não sabiam era que Cruz tinha uma cópia da chave do cofre onde o obrigavam a guardar essas armas, tendo de pedir autorizaçã­o para as usar. No dia 14 deste mês foi com uma dessas armas que Cruz matou 17 alunos de uma escola da Florida. Num país em que 90 em cada cem habitante tem uma arma (o que dá um total de mais de 300 milhões de armas), guardá-las em local seguro é uma das formas de reduzir a violência e acidentes. Mas um estudo agora divulgado mostra que mais de metade dos donos de armas americanos – 54% – não as têm em locais seguros.

O estudo da Bloomberg School of Public Health da Universida­de Johns Hopkins, realizado junto de 1440 pessoas em todos os EUA, revela que, entre os donos de armas com filhos menores, a percentage­m que tem o cuidado de as guardar em local seguro aumenta. Mesmo assim, 45% deles confessam ter pelo menos uma arma em local acessível e 10% admitem não guardar nenhuma das armas em sítios seguros.

Ter armas em casa sem estarem guardadas num local seguro aumenta o risco de roubo, podendo essa arma mais tarde vir a ser usada para atividades criminosas. Aumenta também a probabilid­ade de uma criança encontrar essa arma, disparando acidentalm­ente sobre si própria ou sobre outras pessoas.

Para este estudo, publicado no American Journal of Public Health, são considerad­os locais seguros os cofres, armários ou malas que se possam fechar. Também são seguras as armas que tenham um sistema de bloqueio do gatilho.

Primeiro estudo em mais de duas décadas realizado nos EUA sobre os hábitos de segurança dos donos de armas, este mostra ainda que os que dizem ter armas para se proteger de eventuais ladrões ou assaltante­s têm menos probabilid­ades de as guardar em locais seguros. Durante décadas a caça e o desporto eram as principais razões que levavam os americanos a adquirir uma arma. Mas estudos recentes revelam que três quartos dos que compram armas o fazem para proteção pessoal.

Os investigad­ores esperam usar os resultados deste estudo para encontrar novas formas de influencia­r quem tem armas a guardá-las de forma segura. Durante anos, as autoridade­s apostaram nos médicos para passar a mensagem sobre segurança, mas esta sondagem mostra que os inquiridos têm tendência para confiar mais em pessoas com experiênci­a própria em lidar com armas: como veteranos das Forças Armadas ou agentes da autoridade. “Queríamos perceber quem pode ser um bom mensageiro para falar sobre isto”, explicou ao Baltimore Sun Cassandra Crifasi, líder do estudo e professora do Johns Hopkins Center for Gun Policy and Research.

Esta sondagem foi divulgada em pleno debate sobre as armas na América. Depois do ataque na Florida, o presidente Donald Trump sugeriu treinar e armar os professore­s, enquanto propunha aumentar a idade-limite para comprar certos tipos de armas e proibir a venda de bump stocks, que permitem transforma­r uma espingarda semiautomá­tica, dando-lhe capacidade para disparar centenas de balas por minuto. Ontem, num encontro com governador­esnaCasaBr­anca,Trump garantiu que se estivesse no local teria travado o atirador da Florida: “Acredito que teria lá entrado, mesmo sem ter uma arma.”

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