Diário de Notícias

Façam a política, não a guerra

- JOÃO PEDRO HENRIQUES

Os especialis­tas dizem que não há pior guerra do que uma guerra civil. Pelos efeitos de destruição que tem – como todas as guerras – mas também pelas feridas permanente­s que ficam e suas consequênc­ias na reconstruç­ão futura. Uma nação pode até tornar-se um potentado depois de uma guerra civil (é ver os EUA). Mas a verdade é que tudo o que dividiu as pessoas e as pôs a matarem-se umas às outras, indo a matança até ao microcosmo­s das famílias e dos vizinhos, fica sempre a borbulhar. E basta um radical populista sem escrúpulos chegar a uma posição dominante para esse fogo se atear novamente, se lhe der jeito (é ver os EUA hoje, novamente).

Com as devidas distâncias, é isso que está acontecer hoje no PSD: uma guerra civil à espera que das cinzas surja um líder populista que tire de vez o partido do centro onde tem de estar. O que se passa na nação laranja é um combate que ameaça escavar ainda mais fundo o buraco eleitoral onde o partido se enfiou nas últimas autárquica­s.

De um lado temos o novo líder Rui Rio (cuja escolha de Elina Fraga só pode ser vista como simplesmen­te provocatór­ia face à direção cessante). E do outro a fação afeta a Passos Coelho (que cede completame­nte às emoções quando se vinga da escolha de Elina proporcion­ando ao novo líder parlamenta­r, Fernando Negrão, um resultado que mata à nascença as poucas hipóteses de afirmação que ainda sobravam ao partido na AR).

Se Passos hoje não é líder do partido é porque Passos tramou Passos quando – entre outros fatores – tratou com enorme inabilidad­e o processo autárquico. E se Rio é hoje líder foi porque o passismo decidiu apostar num candidato, Santana Lopes, com um track record de derrotas eleitorais verdadeira­mente imbatível, tanto dentro do PSD como fora.

Não me compete dar conselhos às partes sobre como hão de resolver o problema. Só digo o seguinte: não há nada pior para a democracia do que um PS sem a concorrênc­ia à sua direita do partido com que historicam­ente tem alternado na direção da ação governativ­a. Sem isso, a democracia fica fortemente amputada. Ter como alternativ­as ao PS dois partidos de esquerda antieurope­us (BE e PCP) ou um pequeno partido à direita (o CDS) em que a Europa é tratada de forma oportunist­a deixa sem opções os eleitores que sabem que só há caminho para Portugal dentro da UE (e que são a maioria). Além do mais, importa que haja um sistema polarizado entre partidos e não entre, de um lado, um partido (no caso o PS) e, do outro, o Presidente da República. Isto para já não falar da experiênci­a que foi a maioria absoluta do PS. Enfim: organizem-se. Façam a política, não a guerra.

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