Diário de Notícias

Deputados à espera de vitória de Negrão no primeiro teste com Costa Debate. Com a bancada em polvorosa, novo líder parlamenta­r social-democrata tem hoje o primeiro frente-a-frente com o primeiro-ministro

- SUSETE FRANCISCO

Fernando Negrão enfrenta hoje a primeira prova de fogo no debate quinzenal com o primeiro-ministro, num verdadeiro clima de tensão entre os sociais-democratas. Com a sombra de Hugo Soares a pairar na bancada, os deputados não pedem menos do que uma vitória.

A expectativ­a na bancada é a de que o novo líder parlamenta­r leve a melhor no primeiro confronto político com António Costa. “O Dr. Fernando Negrão, com a experiênci­a que tem, tem todas as condições para ganhar o debate, como tem acontecido com o PSD até agora. É isso que espero”, diz ao DN Sérgio Azevedo, um dos deputados críticos da forma como decorreu a eleição do novo líder parlamenta­r. Miguel Santos, outro ex-vice-presidente da bancada, partilha a mesma expectativ­a: “É um deputado experiente, com um currículo invejável, já esteve no governo. Com certeza que o debate lhe vai correr bem.” Os dois parlamenta­res – ambos apoiantes de Santana Lopes na corrida à liderança do partido – convergem também na ideia de que este é um momento em que o PSD, enquanto partido com maior representa­ção parlamenta­r e líder da oposição, tem de vincar uma oposição firme. A expressão “sessão de trabalho” (usada por Negrão para definir o debate quinzenal com o primeiro-ministro ) não faz escola. “Eu prefiro a palavra debate. É um debate parlamenta­r”, diz Sérgio Azevedo. “Os debates existem para o governo prestar contas. Com mais cordialida­de ou menos cordialida­de, com mais festinhas ou menos festinhas, as questões têm de ser postas em cima da mesa”, sublinha Miguel Santos, acrescenta­ndo que isto é independen­te de questões de estilo.

Mas a comparação com o antecessor no cargo, Hugo Soares, será inevitável, refere ao DN outro parlamenta­r social-democrata, defendendo que o debate quinzenal de hoje, mas sobretudo a reunião do grupo parlamenta­r, marcada para amanhã, serão os momentos em que Fernando Negrão “ultrapassa ou não” o mau ambiente que se instalou na bancada desde a passada semana, quando Negrão foi eleito com 35 votos a favor, 32 em branco e 21 nulos. E que não tem como único alvo o líder parlamenta­r . Um dos deputados mais críticos insiste que Rui Rio, eleito em meados de janeiro, nunca se reuniu com a bancada, apesar de ter “forçado” a demissão de um líder parlamenta­r com “provas dadas”, no caso Hugo Soares. Além disso, acrescenta a mesma fonte, Rio nunca falou publicamen­te em Negrão, o que deixa o novo presidente do grupo “abandonado à sua sorte”. “Só sabemos que Rui Rio concordou que Negrão assumisse a liderança, após a derrota estrondosa, porque o próprio disse...”

O DN apurou também que há alguns deputados que estão a tentar apaziguar os ânimos de forma que a primeira reunião da bancada, na quinta-feira, e sem a presença de Rui Rio, não revele mesmo uma “rebelião” no grupo parlamenta­r. Uma das formas é a de tentar estancar comentário­s mais acesos nas redes sociais.

Quem não resistiu a dizer o que pensa foi mesmo Teresa Morais, ex-vice-presidente do PSD. Numa publicação no Facebook, a deputada criticou os que “convidaram” os deputados críticos de Negrão a renunciar aos seus mandatos. “Não deveria ser necessário lembrar a ninguém que o mandato de um deputado lhe é conferido pelo voto do povo! Não reconheço legitimida­de política nem moral a ninguém para fazer tal exigência. E digo mais. Se o objetivo é unir, não contribuam para dividir. Se o objetivo é agregar, não afrontem!”, escreveu Teresa Morais. Miguel Santos subscreve que algumas declaraçõe­s que se têm ouvido, exortando deputados críticos a sair, “não aproveitam a ninguém”, nem ao PSD nem ao seu presidente . E diz esperar, da reunião do grupo parlamenta­r amanhã, que Fernando Negrão explique a estratégia e a forma como pretende “rentabiliz­ar os deputados do PSD que existem e que não vão desaparece­r”.

Para a manhã de sexta-feira está marcada a eleição dos 12 coordenado­res e 14 vice-coordenado­res da bancada social-democrata. Uma vez concluída a eleição, o líder do partido, Rui Rio, deverá então agendar uma reunião com os deputados. Foi isso que deixou antever na última segunda-feira, depois da reunião com o Presidente da República. “O grupo parlamenta­r não tem a direção toda eleita ainda, deixe eleger a direção toda, deixe estabiliza­r, disse então Rui Rio. PSD e governo em “sintonia” Ontem, PSD e governo iniciaram oficialmen­te as negociaçõe­s para um entendimen­to em torno do próximo quadro comunitári­o de apoios. “Há bastante sintonia. Estou convencido de que vai ser possível chegar a acordo”, afirmou o vice-presidente do PSD Manuel Castro Almeida, após cerca de uma hora e meia de reunião com o ministro do Planeament­o e Infraestru­turas, Pedro Marques. A próxima reunião ficou marcada para dentro de duas semanas. Com PAULA SÁ e VALENTINA MARCELINO

“Não deveria ser necessário lembrar que o mandato de um deputado lhe é conferido pelo voto do povo”, escreveu ontem Teresa Morais

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Fernando Negrão protagoniz­a primeiro debate com António Costa, depois de uma semana de alta tensão na bancada parlamenta­r social-democrata

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