Diário de Notícias

Os últimos dias da peregrinaç­ão de Ratzinger para “casa”

Papa que resignou vive dentro dos muros do Vaticano mas é pouco visto em público. E admite “declínio físico”

- MIGUEL MARUJO

A carta entregue em mão na redação do Corriere della Sera, com data de 5 de fevereiro na folha datilograf­ada, remetida do Monastero Mater Ecclesiae, V-120 Città del Vaticano, é revelada ao mundo a 6 pela pena do diretor deste diário italiano.

Bento XVI, retirado naquele mosteiro dentro dos muros do Vaticano, vive hoje (quase a fazer 91 anos) a quietude do “lento declínio” da sua “força física”, como escreve na referida carta em que responde às preocupaçõ­es dos muitos leitores do jornal que queriam saber como estava o papa que resignou há cinco anos. “Estou numa peregrinaç­ão interior para a Casa”, assim, com maiúscula, numa referência a Deus (para a casa do Senhor).

Quando resignou, cansado e sem forças para mudar as coisas numa Igreja dilacerada pela corrupção e escândalos sexuais, o Papa Ratzinger prometeu a si mesmo um tempo de oração e escrita. E assim permaneceu, surgindo em público apenas algumas vezes, sobretudo nas visitas do seu sucessor (e abrindo assim porta à inquietaçã­o dos leitores do Corriere della Sera).

Nas fotografia­s que a Fundação Ratzinger-Bento XVI vai disponibil­izando na sua página do Facebook é possível ver o “declínio da força física” que o próprio admite na carta.

Muitas vezes de boina branca, amparado por quem o visita ou com um andarilho que o ajuda a caminhar, essa fragilidad­e física contrasta com a sua cabeça, sugeriu o monsenhor Angelo Becciu, que recentemen­te esteve com Ratzinger.

“Fisicament­e tem alguns problemas, mas faz as suas caminhada diárias, e mentalment­e continua muito fresco”, descreveu o responsáve­l da Secretaria de Estado do Vaticano, no dia seguinte à divulgação da carta de Bento XVI. E está bem, insistiram os jornalista­s. “Sim, sim”, confirmou Becciu.

O mosteiro Mater Ecclesiae, nos jardins do Vaticano, onde reside hoje Bento XVI, dista uns 750 metros da residência de Santa Marta, onde o Papa Francisco optou por viver na companhia do pessoal que trabalha na Santa Sé, do lado oposto ao apartament­o papal onde viveram os seus antecessor­es.

Anda muitas vezes de boina branca, amparado por quem o visita ou de andarilho para caminhar. Contrasta com a “frescura” da cabeça

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Bento XVI fotografad­o no jardim do Vaticano

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