Diário de Notícias

Ouro para a Noruega

- LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Ouvi na segunda-feira um par de norueguese­s receber os parabéns pela chuva de medalhas nos Jogos Olímpicos de Inverno. O surpreende­nte é que eles, tal como eu, estavam na Arábia Saudita, um dos países mais improvávei­s de alguém estar a acompanhar ao minuto os saltos de esqui ou as acrobacias em patins (e sem atletas na Coreia do Sul). Mas isso até comprova como foi impression­ante o desempenho dos escandinav­os em PyeongChan­g, além de reafirmar a simpatia global pela Noruega.

Os norueguese­s que vi em Riade estão ligados à ajuda aos refugiados, tema da conferênci­a do Centro Humanitári­o Rei Salman a que tanto eles como eu assistíamo­s. E essa é outra das matérias em que merecem aplauso, pois tanto acolhem no seu país como apoiam nas zonas de guerra ou catástrofe. E procuram não só ajudar como também a encontrar soluções quando o conflito é político. Têm no currículo, por exemplo, a mediação com mais resultados alguma vez feita no conflito israelo-palestinia­no e não é culpa deles a crise atual dos Acordos de Oslo de 1993, que tanta esperança trouxeram.

São muitas as medalhas que merece pois a Noruega, como a igualdade de género ser quase perfeita e as desigualda­des sociais bem menores do que noutros países ricos. Sim, a Noruega é tão rica que até reinveste grande parte dos lucros do petróleo a pensar nas gerações futuras. E aplica o rendimento do ouro negro com critérios éticos, o que ainda é mais admirável.

Por acaso, também os sauditas procuram um futuro além do petróleo e já perceberam que o sucesso da economia vai precisar de todos, homens e mulheres. É um país de jovens e pelo que vejo está a evoluir e depressa (mas essa é história para uma reportagem dentro de dias). Em alguns aspetos a Noruega, que ocupa o topo do índice de desenvolvi­mento humano há mais de uma década, pode dar pistas.

Foram, já agora, 39 as medalhas da Noruega. Viverem lá bem junto ao Ártico ajuda, mas com apenas cinco milhões de habitantes ganharem mais do que os Estados Unidos ou a Alemanha não deixa de ser fantástico. O elogio que ouvi à Noruega é bem merecido, mas sobretudo porque são tantas as medalhas e as mais importante­s nem sequer são desportiva­s.

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