SÍRIA APESAR DA TRÉGUA, CONTINUA A SENTIR-SE A MORTE EM GHOUTA
A trégua anunciada pela Rússia não está a ser respeitada. O que está a falhar? Do ponto de vista de Damasco, do Irão e da Rússia não está a falhar nada. As tréguas baseiam--se num equívoco. O equívoco consiste na ideia de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas e aquilo a que chamamos opinião pública internacional é suficiente para parar uma guerra horrível, num momento em que um dos lados está à beira de uma vitória muito importante nos subúrbios de Damasco. Esta será a mesma estratégia que a Síria e a Rússia usaram em Aleppo? De acordo. É uma estratégia extraordinariamente violenta no assalto e conquista de cidades. Não sei se as sociedades ocidentais estariam preparadas para aceitar que as suas forças armadas usassem este tipo de violência indiscriminada contra alvos urbanos. Por outro lado, o assalto a alvos urbanos tende a ser muito difícil para quem ataca e extremamente penoso em relação a baixas. Em Aleppo não suscitou protestos excessivos, pelo que Moscovo vai fazer o mesmo. Acredita que os EUA e o Reino Unido poderão intervir dado o uso de armas químicas? Não. Estaéadur ares posta. Não há vontade política? Porque não há vontade política e porque o tempo dos países europeus e dos EUA intervirem passou há muitos anos, uma decisão tomada no rescaldo do Iraque. Outros atores fizeram as suas intervenções e a iraniana e a russa foram decisivas. Sem juízos de valor, o regime mostrou uma capacidade de sobrevivência absolutamente extraordinária. Se olharmos para a realidade demográfica da Síria, e como a situação estava em 2012/13, ninguém esperava que ganhasse a guerra interna, mantendo uma base social de apoio. Crê que a Turquia vai respeitar a trégua em Afrine? Não. Este será um momento muito difícil para a credibilidade da ONU e do Conselho de Segurança, porque o que já aconteceu nesta guerra é horrível. Mas a história mostra que quando se recorre a milícias a violência e o caos ainda é maior.