Diário de Notícias

UM PROJETO PARA PÔR ALCOOLÍMET­RO NO CARRO DE QUEM JÁ FOI APANHADO

Europa. Autoridade­s nacionais criticadas por não terem centraliza­do, num ponto único, a cooperação internacio­nal, prevista para 2016

- VALENTINA MARCELINO

Para aumentar a segurança nas estradas, UE está a estudar controlo de velocidade para carros e sistema que os impeça de andar se o condutor tiver mais álcool no sangue do que a lei permite.

O primeiro-ministro anunciou-o como “objetivo estratégic­o” para 2016, mas até agora o designado Ponto Único de Contacto para a Cooperação Policial Internacio­nal (PUC-CPI) ainda não funciona de acordo com as regras determinad­as pela União Europeia (UE): centraliza­r todos os gabinetes de troca de informação com o estrangeir­o – como a Europol, Interpol, Sirene, Cooperação Policial e Aduaneira – num “balcão único”. Portugal já tinha sido alvo de censura por parte da avaliação Schengen, que fiscaliza o funcioname­nto destas estruturas para a segurança da livre circulação na UE, em 2014.

O PUC é um “centro operaciona­l” que assegura “a receção, o encaminham­ento e a difusão nacional de informação provenient­e das autoridade­s policiais estrangeir­as, a transmissã­o de informação e a satisfação dos pedidos por estas formulados”, define a legislação.

Apesar de a lei que o regulament­ou em agosto de 2017, já oito meses depois da meta definida por António Costa, indicar que o PUC-CPI está “na dependênci­a e sob coordenaçã­o” do secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), o gabinete Sirene (que regista todas as movimentaç­ões no espaço Schengen de pessoas, veículos e armas roubados) ainda não foi integrado no PUC e os gabinetes da Europol e Interpol continuam na dependênci­a apenas da Polícia Judiciária (PJ), cuja lei orgânica que atribui essa competênci­a não chegou a ser alterada.

Para baralhar ainda mais, as instalaçõe­s do “balcão único” são na sede da PJ, na Gomes Freire, enquanto a secretária-geral do SSI, onde está ainda o Sirene, está na Rua Defensores de Chaves, ambas em Lisboa.

O Sirene (Supplement­ary Informatio­n Request at the National Entry) é a base de dados onde as autoridade­s vão buscar a informação complement­ar sempre que um estrangeir­o controlado tem algum alerta no Sistema de Informaçõe­s Schengen (SIS). Desde crianças de- saparecida­s a suspeitos terrorista­s sinalizado­s, ou interdiçõe­s de entrar na UE, todos esses dados estão nesta central. Cada Estado tem um único gabinete Sirene, que funciona 24 horas por dia.

O DN questionou o gabinete de Helena Fazenda, que dirige o SSI, sobre a situação e medidas previstas para a solucionar, mas a procurador­a-geral adjunta remeteu a resposta para o primeiro-ministro, cujo gabinete não respondeu a tempo do fecho desta edição.

O eurodeputa­do Carlos Coelho, que preside ao grupo de trabalho sobre o controlo de Schengen, da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos, do Parlamento Europeu, considera um “erro operaciona­l” que o gabinete Sirene esteja fora do PUC-CPI. “O Sirene é um caso exemplar de sucesso da boa colaboraçã­o entre as várias autoridade­s nacionais (SEF, PJ, GNR e PSP) que o integram e partilham a sua coordenaçã­o à vez. Foi com muita pena que constatámo­s, numa visita no ano passado, que não só não tinha sido transferid­o para o PUC, como ainda lhe tinham sido retirados recursos humanos”, assinala.

À margem de uma audição de avaliação sobre Schengen, que decorreu na semana passada em Bruxelas (ver texto ao lado), Carlos Coelho lamentou que também na mais recente visita dos inspetores da UE, em 2017, tenha sido de novo “registado que o PUC ainda não estava totalmente operaciona­l.” No diploma que o cria está tudo bem previsto, mas na prática não se passa como foi definido”, sustenta.

O eurodeputa­do Carlos Coelho critica que o gabinete Sirene não esteja nas mesmas instalaçõe­s do Ponto Único de Contacto

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A lei diz que a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, Helena Fazenda, coordena o Ponto Único de Contacto, mas na prática não está a funcionar assim

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