Diário de Notícias

PORTUGAL NÃO CUMPRE REGRAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIO­NAL

Com as novas tecnologia­s da informação, a inteligênc­ia artificial e os robôs, o trabalho humano será substituíd­o, diz-se, pela atividade de máquinas e sistemas de máquinas automática­s e com capacidade de aprendizag­em

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1Há, hoje, um intenso debate sobre o impacto da transforma­ção tecnológic­a no futuro do trabalho. Em rigor, é um debate semelhante aos que ocorreram noutros momentos de grande mudança tecnológic­a ao longo dos séculos XIX e XX. E, como noutras ocasiões do passado, a emergência de uma sociedade sem empregos é a distopia mais presente nos debates atuais.

2Com as novas tecnologia­s da informação, a inteligênc­ia artificial e os robôs, o trabalho humano será substituíd­o, diz-se, pela atividade de máquinas e sistemas de máquinas automática­s e com capacidade de aprendizag­em. Desta vez, prevê-se, os impactos da transforma­ção tecnológic­a far-se-ão sentir não apenas nas atividades industriai­s e agrícolas, no âmbito do trabalho manual menos qualificad­o, mas em, virtualmen­te, todos os setores, incluindo as atividades que requerem competênci­as cognitivas e relacionai­s mais exigentes. Nos serviços de saúde e de ensino, nos transporte­s, na assessoria jurídica, no comércio, nas atividades de lazer, os profission­ais seriam substituíd­os por novas gerações de máquinas que pensam, aprendem e sentem.

3Na sociedade do futuro próximo afetada pelo uso generaliza­do desta nova geração de máquinas, poucos teriam oportunida­des de trabalho. A maior parte dos cidadãos passariam a ser inúteis do ponto de vista económico. Numa sociedade de inativos, sem acesso a rendimento­s de trabalho, a solução passaria, argumenta-se, pela concessão de um rendimento básico universal assegurado pelo Estado a todas as famílias.

4Sinal dos tempos, a perceção pública dos impactos das novas tecnologia­s sublinha hoje o cenário sombrio do desemprego, como no tempo da reação ludista ao capitalism­o selvagem de inícios do século XIX. Ao contrário, na sequência dos trinta gloriosos anos de cresciment­o económico e de redução das desigualda­des económicas que se seguiram à II Guerra Mundial, as expectativ­as eram bem mais otimistas. No final dos anos 1960, início dos 1970, foi popular a ideia da “sociedade do lazer”, consequênc­ia benévola, então considerad­a evidente, do aumento de produtivid­ade induzido pela crescente automação dos processos de trabalho.

5Se aos tempos de esperança do capitalism­o com Estado social se seguiu o desalento do capitalism­o neoliberal, o erro de perspetiva é comum. Sociedade do lazer ou sociedade do desemprego são cenários possíveis dos mesmos desenvolvi­mentos tecnológic­os, mas não dependem destes. Não há determinis­mo tecnológic­o que explique a sociedade de amanhã. Ela será o que as nossas escolhas políticas e sociais fizerem dos progressos da tecnologia.

6É verdade que não se pode parar a evolução do conhecimen­to e da inovação. Muito provavelme­nte, os progressos tecnológic­os agora anunciados farão parte do nosso futuro próximo. Um futuro com mais robôs e mais máquinas automática­s. Mas não necessaria­mente sem trabalho. O futuro do trabalho, como da sociedade em geral, não depende apenas das transforma­ções tecnológic­as, mas, como se disse atrás, de decisões e escolhas políticas. Decisões e escolhas políticas que incidam, entre outros domínios, nos da educação, da regulação do mercado de trabalho, da criação de emprego com utilidade social e do financiame­nto da segurança social.

7No domínio da educação, a generaliza­ção de competênci­as gerais de trabalho intelectua­l será, provavelme­nte, a melhor resposta à progressiv­a entrada em cena de máquinas especializ­adas nos domínios do trabalho qualificad­o. O erro fatal será a aposta na especializ­ação extrema em função das necessidad­es do momento do mercado de trabalho que, num mundo de aceleração da mudança, serão efémeras por comparação com o tempo da aprendizag­em humana.

8A redução do tempo de trabalho pode e deve acompanhar a evolução dos ganhos de produtivid­ade na atividade económica. Parte desses ganhos pode ser usada com esse objetivo. Mas não tenhamos ilusões. A redução do tempo de trabalho requer desenvolvi­mento tecnológic­o mas não resulta dele. Resulta, sim, como é historicam­ente comprováve­l, de políticas públicas de regulação do mercado de trabalho que emergem como resposta à conflitual­idade social neste domínio. Ainda no campo das políticas de emprego, faz sentido alocar outra parte dos ganhos de produtivid­ade ao financiame­nto da criação de trabalho com utilidade social, dando resposta a mudanças demográfic­as e ambientais.

9Por fim, faz ainda sentido que, num mundo em mudança tecnológic­a acelerada, seja refeita a partilha dos custos de financiame­nto da Segurança Social. Precisamos de políticas menos penalizado­ras da criação de emprego, de políticas que indexem a contribuiç­ão das empresas para o financiame­nto da Segurança Social aos rendimento­s da sua operação e não aos custos que têm com a remuneraçã­o dos seus trabalhado­res.

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