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Segurança. Ideia é ter um mecanismo que impede o carro de andar se o condutor tiver mais álcool do que o permitido por lei. Prevenção europeia quer travar elevada mortalidade de crianças
À espera das medidas de segurança rodoviária que a União Europeia vai anunciar em maio, o Conselho Europeu de Segurança nos Transportes (ETSC, na sigla em inglês) quer travar a elevada mortalidade de crianças nas estradas – oito mil nos últimos dez anos (ver infografia)– e recomendou que os carros fabricados a partir de 2020 tenham todos assistente inteligente de velocidade, travagem automática de emergência e o interface eletrónico que permite colocar alcoolímetros nos carros dos condutores reincidentes na condução com álcool, que impede o carro de andar se o nível de álcool for superior ao permitido.
Esta última medida tem sido proposta pela Prevenção Rodoviária Portuguesa “há muitos anos”, referiu ao DN o seu presidente, José Miguel Trigoso, dada a elevada prevalência de condutores apanhados com álcool. Só nos primeiros sete meses de 2017, mais de 12 mil condutores foram multados por álcool, dos quais 4834 tinham uma taxa-crime. A boa notícia é que “na última reunião com o ministro da Administração Interna houve abertura para se aplicar esta medida”. Admite, todavia, que ainda há um longo caminho a percorrer: “Tem de haver um trabalho legislativo e de organização para haver controlo do mecanismo, e programas de tratamento e formação dos condutores. Não é apenas carregar num botão.” O DN questionou o Ministério da Administração Interna (MAI), mas não obteve resposta sobre a possível aplicação desta medida.
A intenção da Prevenção Rodoviária Portuguesa, que faz parte do ETSC, é que os condutores que já foram apanhados a conduzir com excesso de álcool sejam submetidos a programas “de formação e tratamento” e que só possam voltar a conduzir “com o sistema de alcoolímetro instalado”, à semelhança do que já acontece no Canadá, alguns estados dos EUA, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Polónia, Suécia e França.
“Essas pessoas deviam apenas ser autorizadas a conduzir com esse sistema instalado e, de acordo com as experiências nos outros países, o alcoolímetro deve ser acompanhado de programas de formação e/ou tratamento, que levem a acabar com essa dependência e a conduzir com taxas de alcoolemia elevadas”, defende José Miguel Trigoso.
No entanto, recorda, este sistema implica um reforço na fiscalização, uma vez que os aparelhos que medem a taxa de álcool têm de ser aferidos regularmente. Segundo os estudos do ETSC, os acidentes causados por excesso de álcool matam 5000 pessoas na Europa, por ano.
O único senão para o investigador da área de segurança rodoviária João Dias é a possibilidade “de contornar o sistema”. Um problema que foi detetado, por exemplo, nos EUA. Por isso, o professor do Instituto Superior Técnico defende que estas medidas sejam complementadas “com maior fiscalização e penalização” das infrações. A mesma opinião tem o especialista em relação às tecnologias de redução de velocidade automática. “Para os condutores que passam os limites por distração, vai funcionar muito bem. Já os grandes prevaricadores, vão arranjar maneira de contornar o sistema.”
A indústria automóvel vê com bons olhos a introdução em todos os carros destas tecnologias que procuram reduzir os acidentes, referiu ao DN o secretário-geral da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel, Adão Ferreira.