Diário de Notícias

Amnistia pede mais autonomia e poderes para a IGAI

Inspeção-Geral da Administra­ção Interna deve ser mais independen­te

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Depois de o Comité para a Prevenção da Tortura e Tratamento­s Desumanos do Conselho da Europa ter pedido, no seu relatório anual, às autoridade­s portuguesa­s que considerem a possibilid­ade de transforma­r a Inspeção-Geral da Administra­ção Interna (IGAI) num corpo com total autonomia para assumir as investigaç­ões criminais sobre violência e maus-tratos das forças policiais, a Amnistia Internacio­nal Portugal seguiu ontem o mesmo caminho. Numa declaração pública, a Amnistia solicita à tutela que transforme a IGAI “num órgão independen­te e com maiores poderes investigat­órios e que os dados relativos à sua atividade sejam divulgados de forma transparen­te e em tempo útil”.

A organizaçã­o de direitos humanos refere que há anos os seus relatórios tem exposto estes problemas nacionais e que os padrões das Nações Unidas e do Conselho da Europa deviam ser a referência. Em relação a este relatório sobre a tortura e as condições de detenção nas cadeias portuguesa­s, a Amnistia aponta que as conclusões não podem deixar “ninguém satisfeito, uma vez que põe a nu realidades que a Amnistia Internacio­nal denuncia nos seus relatórios anuais do estado dos direitos humanos, pelo menos desde 1965”.

“O facto de as condições das prisões e a violência policial serem presença recorrente há décadas nos relatórios da Amnistia Internacio­nal é indicador de que estes são um problema estrutural e que as respostas que têm sido dadas, em cumpriment­o das obrigações assumidas pelo Estado português, não têm sido as suficiente­s”, acrescenta a organizaçã­o.

Apoiando-se nos três princípios básicos que as forças de segurança devem ter na sua conduta – necessidad­e, proporcion­alidade e legalidade –, a secção portuguesa da Amnistia recorda que “as matérias de uso excessivo da força e condições prisionais são recorrente­s desde a década de 1960 nos relatórios da organizaçã­o sobre Portugal”, e por isso defende “a criação de uma entidade independen­te e externa ao Ministério da Administra­ção Interna para investigar as situações de denúncias de recurso a força excessiva”.

A Amnistia Internacio­nal conclui que há condições para melhorar a situação em Portugal, “acreditand­o que os casos de violência policial, física e verbal não refletem, de todo, a natureza das instituiçõ­es das forças de segurança, composta na maioria por agentes profission­ais e competente­s”, sendo certo que “transforma­r a IGAI num órgão independen­te seria um importante contributo para garantir pleno distanciam­ento às investigaç­ões”. Mas relembra que “as alegações de uso excessivo, desnecessá­rio ou desadequad­o da força por parte de alguns agentes de segurança existem e que a Amnistia “recebeu, entre 2016 e a data presente, 73 casos individuai­s sobre condições nas prisões e violência policial”.

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Amnistia recebeu 73 queixas relativas a detenções desde 2016

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