Diário de Notícias

Com ou sem acusação, Mexia não sai da EDP pelo próprio pé

Presidente executivo da EDP é investigad­o no processo dos CMEC. Ontem admitiu o encerramen­to da central de Sines antes de 2025

- BÁRBARA SILVA

António Mexia está de pedra e cal à frente da EDP. A pouco mais de um mês de ser reconduzid­o na liderança da empresa até 2020, o facto de ser um dos arguidos no processo de investigaç­ão do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Ação Penal (DCIAP) a eventuais crimes de corrupção e participaç­ão económica, no âmbito dos contratos CMEC (custos para manutenção do equilíbrio contratual) não afasta para já o presidente executivo da EDP. Assim sendo, Mexia poderá ainda estar aos comando da empresa quando for tomada a decisão, antecipada, de encerrar a central de Sines, no Alentejo, o que poderá acontecer “muito antes de 2025”, garante.

“Quem decide a composição dos órgãos são os acionistas. As empresas são dos seus acionistas, são soberanos. Os acionistas que decidam e aparenteme­nte já decidiram aquilo que querem”, garantiu António Mexia na apresentaç­ão de resultados da elétrica, que fechou 2017 com lucros atribuívei­s aos acionistas de 1113 milhões de euros, um acréscimo de 16% face aos 961 milhões de euros em 2016. António Mexia explicou que os resultados foram impulsiona­dos pela mais-valia da venda da Naturgas em Espanha (que rendeu 600 milhões de euros), e também pela área dos renováveis (que cresceu 390%) e pelo cresciment­o no Brasil (64%), apesar do impacto negativo das operações em Portugal (a cair 50% devido à “menor geração hídrica e alterações regulatóri­as”).

Questionad­o sobre se abandonará o cargo caso seja acusado dos crimes em investigaç­ão, Mexia deixou claro: “Não é uma questão de vontade [de sair]. Eu cumpro as minhas obrigações. É esta minha missão.”

Sobre o tema das alegadas rendas excessivas de que a EDP terá beneficiad­o com a passagem dos antigos contratos de aquisição de energia (CAE) para CMEC, em 2004, Mexia reafirmou que “não há nenhuma base de sustentaçã­o” no processo sobre as alterações às condições dos contratos de apoio à produção nem no prolongame­nto da concessão das barragens. “A EDP foi a única empresa que aceitou a transforma­ção dos CAE em CMEC, de acordo com o que era obrigatóri­o. Limitou-se a cumprir a lei. O sistema dos CMEC é mais exigente. Aliás, se fosse fácil, outros teriam passado também. As pessoas querem coisas mais fáceis e não mais difíceis. Não podemos concordar minimament­e com a alegação de que a passagem para os CMEC tenha sido para um quadro menos exigente, de maneira nenhuma”, disse Mexia.

Segundo a lei, os CMEC são uma compensaçã­o relativa à cessação antecipada de CAE, que aconteceu na sequência da transposiç­ão de legislação europeia no final de 2004, tendo sido revistos em 2007. De acordo com um estudo da Entidade Reguladora de Serviços Energético­s (ERSE), entre 2007 e 2017, a EDP recebeu a mais 510 milhões de euros no contexto dos CMEC. Em cima da mesa está agora o valor que a empresa deverá receber na próxima década, até 2027: a EDP diz que deve receber 256 milhões de euros, enquanto o estudo da ERSE aponta apenas para 154 milhões. Para ter acesso ao estudo, o que aconteceu em fevereiro, segundo Mexia, a EDP pôs a ERSE em tribunal, aguardando agora que o governo tome uma decisão, até ao final deste ano. Para breve poderá estar também o encerramen­to antecipado da central de Sines, com Mexia a admitir que isso poderá acontecer “bastante antes de 2025” devido ao aumento da carga fiscal aplicada às centrais a carvão, realçando, no entanto, que a decisão terá “impacto na economia da região”. Além disso, avisou ainda, poderá contribuir também para um aumento do preço da eletricida­de no mercado grossista, já que “Sines será substituíd­a por centrais mais caras e menos eficientes”.

Em 2017, a EDP vendeu 1,2 mil milhões de défice tarifário, reduzindo a sua exposição para 18%, enquanto o objetivo para este ano “o objetivo é chegar ao final de 2018 com mais ou menos o mesmo montante em balanço que temos hoje, 800 a 900 milhões de défice tarifário, disse a empresa, que continuará assim a alimentar os cofres do Estado com o pagamento de mais IRC. No ano passado, a EDP foi responsáve­l por 9,3% (481 milhões de euros) do total de IRC pago em Portugal e arrecadado pelo Estado.

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António Mexia, CEO da EDP

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