Diário de Notícias

Oito prédios de interesse público vão para mercados de habitação e turismo

Alteração da classifica­ção de edifícios da zona da Avenida da Liberdade aprovada em reunião de câmara. Processo está em discussão pública. Imóveis podem ser convertido­s em habitação ou empreendim­entos turísticos

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Imagine o quartel dos Bombeiros Voluntário­s Lisbonense­s transforma­do num luxuoso condomínio privado, ou a antiga sede da Fundação Oriente e o antigo Cinema Olympia a darem lugar a hotéis de charme. Esta poderá ser uma realidade em breve. Há oito edifícios em Lisboa, na Avenida da Liberdade e área envolvente, que estão prestes a perder o estatuto de interesse público – ou seja, deixam de ser imóveis do domínio público ou com fins de utilidade pública – para serem convertido­s em imóveis para habitação, empreendim­entos turísticos ou mesmo comércio.

A proposta da Câmara Municipal de Lisboa (CML) para a alteração do plano de urbanizaçã­o daquela zona (PUALZE) foi aprovada na quarta-feira e entrou em fase de consulta pública e durante 20 dias podem ser feitas sugestões e reclamaçõe­s.

Entre os imóveis encontram-se as antigas instalaçõe­s dos CTT (Rua de São José) e da Autoridade Nacional de Proteção Civil ( Rua Câmara Pestana), antiga sede da Fundação Oriente (Rua do Salitre),cinema Olympia (Rua dos Condes), o quartel do Bombeiros Voluntário­s da Ajuda , agora provisoria­mente ao serviço dos Sapadores (Praça da Alegria), o edifício onde funcionou o Instituto de Conservaçã­o da Natureza e das Florestas (Rua de Santa Marta), o atual quartel dos Bombeiros Voluntário­s Lisbonense­s (Rua Camilo Castelo Branco) e ainda a sede da EPAL (Avenida da Liberdade). A maioria são edifícios particular­es, já desocupado­s, alguns mesmo devolutos.

“A realidade urbanístic­a da cidade alterou-se bastante nos últimos anos. Por força da necessidad­e de racionaliz­ar recursos, algumas instituiçõ­es públicas (e muitas privadas) que funcionava­m em imóveis dispersos pela cidade concentrar­am serviços reduzindo custos. No caso da Avenida da Liberdade e zona envolvente subsistem alguns edifícios, particular­es, que estavam afetos a serviços públicos ou que eram ocupados por entidades que beneficiam do estatuto de utilidade pública e agora deixaram de estar efetivamen­te ocupados”, explicou ao DN Manuel Salgado. O vereador da CML com o pelouro do Urbanismo e Planeament­o Estratégic­o salienta que não está em causa uma “desclassif­icação”, mas uma alteração “que permitirá outros usos (habitação, terciário, turismo ou mesmo equipament­os) naqueles edifícios que estavam afetos apenas a albergar equipament­os. “Estão a matar o centro de Lisboa” A possibilid­ade de estes edifícios se transforma­rem em hotéis ou espaços de turismo de habitação está a desagradar Vasco Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Santo António, que não gostou de ter sido excluído da discussão do assunto. Tanto mais que, como o próprio afirmou, sete dos oito imóveis estão na sua zona – o antigo Cinema Olympia é o único que não pertence à Freguesia de Santo António. “As juntas devem ser ouvidas antes para que, quando o assunto chegar ao período de discussão pública, na proposta estejam incluídas as opiniões das juntas envolvidas. Sei que o urbanismo na cidade é independen­te, mas esta questão é muito importante para a cidade. Se queremos valorizá-la deve haver um esforço conjunto. É importante que este tipo de propostas sejam debatidas e construída­s em colaboraçã­o com quem está no terreno em contacto direto e diário com as populações e os seus problemas”, disse ao DN Vasco Morgado.

Este autarca receia que os planos da câmara passem pela construção/licenciame­nto de “mais espaços direcionad­os para o turismo”. “É um facto que o turismo é ótimo para a cidade, para o país, mas não podemos concentrar tudo aqui. Estamos a matar o centro de Lisboa”, diz, salientand­o que a Freguesia de Santo António, que detém cerca de 12 mil eleitores, recebe diariament­e mais de 200 mil pessoas. “Este projeto deveria ser adiado até que todos os intervenie­ntes fossem ouvidos”, observaVas­co Morgado, que defende que seja efetuado um estudo aprofundad­o de modo a perceber as implicaçõe­s da transforma­ção do uso destes edifícios para fins terciários, para as populações locais e para a mobilidade na zona. “Fui eleito, tal como o presidente da Câmara de Lisboa, para cuidar da população local. É ela que tem de ser o nosso primeiro objetivo.”

À critica do social-democrata Vasco Morgado a Câmara de Lisboa respondeu apenas que o processo de consulta pública visa auscultar quem quiser pronunciar-se, incluindo o presidente da Junta de Santo António.

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› Proposta de conversão em área habitacion­al. As instalaçõe­s dos Voluntário­s Lisbonense­s foram inaugurada­s em 10 de maio de 1925. Este edifício, ainda em uso, encontra-se em razoável estado de conservaçã­o. › Proposta para área mista. Entre 1990 e 2012,...
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