Tendências alimentares mudam lojas e cozinhas
As novas dietas trazem com elas dificuldades e novos desafios para quem trabalha na área do retalho, no setor da saúde e, também, para os de culinária
ALIMENTAÇÃO A dieta mediterrânica continua a ser a dominante, mas há cada vez mais quem opte por dietas vegetarianas, vegan ou sem glúten. Estas novas tendências de consumo vão estar em discussão na conferência Portugal Saudável, que se realiza na terça-feira de manhã na Fundação Oriente, em Lisboa. Organizada pela Missão Continente, esta terceira edição das conferências propõe-se a debater “O futuro da alimentação”, explorando as novas tendências de consumo e dando pistas para os desafios e respostas que a área agroalimentar enfrentará nos próximos anos.
No presente, já são muitos os desafios que as novas tendências alimentares criam a produtores e distribuidores de alimentos, assim como aos profissionais de saúde. Paulo Oom, pediatra há mais de 20 anos, também teve de se adaptar a esta nova realidade. “Há muito mais pais que adotam para si uma filosofia e querem que a criança adote essa alimentação”, destaca, não sem deixar um alerta: “Essas crianças implicam uma vigilância pelo pediatra mais apertada, uma vez que os alimentos alternativos podem acarretar riscos sérios para os mais novos.” “Para os pediatras, estes novos hábitos de consumo também são um desafio, para podermos ensinar os pais”, destaca. Contudo, a questão que continua a merecer maior atenção são os maus hábitos alimentares na infância, que têm vindo a aumentar. “É fundamental abrir os olhos aos pais. Muitas vezes, a minha dúvida é se nos dirigimos aos pais ou às crianças”, salienta. As novas dietas também obrigam a reorganizar o negócio do retalho alimentar. “Os nossos espaços têm de ser capazes de responder a esta procura”, explica Inês Valadas, administradora do grupo Sonae MC, que tem introduzido novas marcas e produtos biológicos e criados espaços específicos para estes alimentos, seja através de lojas autónomas ou dentro dos super e hipermercados da marca. “Nos últimos anos verificamos um crescimento na venda dos produtos biológicos, o que revela uma maior consciência da população relativamente ao impacto que a alimentação tem na saúde, na qualidade de vida e, até, no ambiente”, explica InêsValadas, destacando a grande procura que a marca regista na área dos frescos (frutas e legumes). Os doces também não fogem à crescente preocupação dos consumidores em adquirirem produtos mais saudáveis e sustentáveis, nem às novas dietas. “Hoje em dia aparece muita gente glúten e lacto free e temos de conseguir assegurar ao cliente que pode consumir o produto”, explica Francisco Siopa, chef pasteleiro no Penha Longa Resort, que só adquire matéria-prima na qual confia 100%. Para o chef, os clientes deviam habituar-se a pedir a “ficha técnica” de tudo o que lhes é servido, para saberem exatamente o que estão a comer. Criador de chocolates em que cabem todos os ingredientes – desde que de qualidade –, Siopa acredita que hoje os consumidores estão dispostos a pagar mais por alimentos melhores, mas reforça que há que ser mais exigente: “Saber o que se compra, onde se compra e comprar produtos honestos.”