Diário de Notícias

Em Ghouta há bairros inteiros em escombros

As forças pró-regime de Damasco destruíram bairros inteiros. A cidade de Duma aguarda pela chegada de ajuda humanitári­a

- CÉSAR AVÓ

Cercados, em penúria de alimentos, e vítimas de bombardeam­entos, 400 mil sírios que vivem às portas de Damasco, em Ghouta Oriental, vivem dias de desespero, apesar da trégua aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e da pausa diária de cinco horas anunciada pela Rússia. A recente campanha das forças pró-regime de Bashar al-Assad, iniciada no dia 18 de fevereiro, está à vista através de uma imagem de satélite de dia 23, e ontem divulgada pela ONU, que demonstra o grau de destruição dos bombardeam­entos naquele subúrbio.

Em Jobar, por exemplo, 93% dos edifícios já tinham sido destruídos na totalidade ou sofrido danos graves em dezembro. No bairro vizinho de Ein Terma a proporção era de 75%, segundo a BBC. As imagens e os dados revelados ontem não especifica­m o grau de destruição nos bairros. A análise da UNITAR – Instituto das Nações Unidas para a Formação e Investigaç­ão, foi elaborada a partir da divisão da imagem em quadrícula­s. Conclusão: 29% destas receberam novos e grandes danos durante dois meses e meio. Além disso, outros 24% das quadrícula­s foram alvo de novos danos, embora em grau mais moderado.

Noutra imagem trabalhada a partir do satélite, mas apenas referente a Duma, cidade de Ghouta Oriental, os danos são calculados para o dia 23 de fevereiro e ontem. Do espaço de 17 quilómetro­s quadrados, 17% das quadrícula­s receberam danos graves e 22% danos moderados.

No terreno, há vários dias que as forças governamen­tais estão a atacar os rebeldes em Maraj. O Observatór­io Sírio para os Direitos Humanos informou ontem que Damasco capturou duas aldeias, Hawsh al-Dawahra e Hawsh Zreika, além de terras agrícolas.

O comandante da aliança militar que apoia Assad confirmou os avanços, que classifico­u de “notáveis”, no extremo ocidental do enclave rebelde em Harasta. “O que está a acontecer é que estamos a atacar e tomar algumas aldeias do lado leste”, afirmou o comandante à Reuters.

O porta-voz do Jaish al-Islam, um dos principais grupos rebeldes de Ghouta, disse que as forças do governo abriram uma nova frente na área de Hazerma, enquanto também batalhava nas cercanias de Hawsh al-Dawahra. Através de disparos de artilharia, os rebeldes terão conseguido estacar dois tanques.

A estratégia militar da aliança

A trégua de cinco horas declarada pela Rússia é “uma anedota” para os Estados Unidos. “Não sentimos confiança”, diz um habitante

pró-Assad é igual à usada em Aleppo: uma combinação de ataques aéreos e de bombardeam­entos de artilharia. E, mais uma vez, não se esperam contemplaç­ões. Até porque, apesar de os grupos rebeldes terem apoios de diversos países (ver texto ao lado), estão entregues à sua sorte.

Pressão ocidental

Ontem, os presidente­s da França e dos Estados Unidos falaram ao telefone sobre a situação na Síria e na aplicação da trégua aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Segundo o comunicado do Eliseu, Emmanuel Macron e Donald Trump concordara­m que a Rússia tem de “exercer inequivoca­mente pressão máxima sobre o regime de Damasco” para que este respeite a trégua.

Macron também disse que a França dará uma “resposta firme” se for provado que o regime sírio tenha matado civis com armas químicas. O governo sírio tem negado o uso de armas químicas. Os Estados Unidos pediram ao Conselho de Segurança da ONU para iniciar uma nova investigaç­ão após relatos de ataques de gás de cloro. Trump falou também com a chanceler alemã, Angela Merkel. “O regime sírio será responsabi­lizado pela contínua deterioraç­ão da situação humanitári­a em Ghouta Oriental”, disseram em comunicado.

Através do Departamen­to de Estado, Washington reagiu ainda ao cessar-fogo russo – “uma anedota”, porque os habitantes terão medo de sair através do corredor humanitári­o. Segundo a AFP, apenas um casal paquistanê­s saiu pelo seu pé pelo dito corredor. “Não sentimos confiança, não sabemos se há trégua ou não”, disse à AFP um habitante de 27 anos, Raëd.

Em sentido contrário, o governo sírio compromete­u-se com a UNICEF em permitir a entrada de uma caravana de ajuda humanitári­a em Duma. O diretor daquela agência da ONU para o Médio Oriente, Geert Cappelaere, revelou que a caravana tem autorizaçã­o para avançar amanhã, e que tem mantimento­s para ajudar 180 mil pessoas. A Organizaçã­o Mundial da Saúde espera poder entrar no mesmo comboio humanitári­o. Segundo o vice-diretor Peter Salama, há 84 pessoas, incluindo crianças, dos mais de mil doentes e feridos, a necessitar de tratamento urgente. Salama lembrou ainda a percentage­m de crianças com menos de 5 anos que sofrem de desnutriçã­o aguda, 12%.

A trégua também não está a ser cumprida no noroeste do país. Em Afrine, a aviação turca continua a atacar a região, tendo matado 14 combatente­s pró-Assad e três curdos. Em sentido contrário, uma milícia curda matou oito soldados turcos e feriu outros 13.

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A destruição de Duma, cidade de Ghouta Oriental, está à vista

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