Diário de Notícias

Nem Canadá nem Noruega. May quer acordo com a UE feito à medida dos britânicos

Primeira-ministra britânica apresentou ontem os cinco pilares do que, em seu entender, deve ser o acordo pós-brexit

-

May avisou que a unidade do Reino Unido não pode ser ameaçada por acordo para o pós-brexit

PATRÍCIA VIEGAS Nem Canadá nem Noruega. O tipo de parceria que existe entre estes países e a União Europeia não é modelo para o que deve ser a relação futura entre o Reino Unido e a UE depois do brexit. Os britânicos devem poder ter um acordo feito à sua medida, segundo os seus interesses e os da UE. E durante a negociação não pode ser posta em causa a unidade do Reino Unido (Bruxelas sugeriu nesta semana que a Irlanda do Norte permaneces­se no mercado único). Esta foi uma das mensagens ontem deixadas pela primeira-ministra britânica, Theresa May, num discurso em que apresentou os pilares do que deve ser o acordo entre o Reino Unido e a UE, depois de o país sair do clube em 2019.

“Vamos sair do mercado único e a vida vai ser diferente. É preciso encontrar um novo equilíbrio. Mas não aceitaremo­s os direitos do Canadá e as obrigações da Noruega”, frisou a chefe do governo, na Mansion House de Londres (residência do lord mayor de Londres). O futuro acordo com a UE deve “ser desenhado segundo as necessidad­es da nossa economia”, disse May, sublinhand­o que a UE tem diferentes acordos de parceria com vários países e que cada um tem as suas especifici­dades. Por isso também os britânicos têm direito às suas. “O acordo da UE com a Coreia do Sul contém disposiçõe­s que reconhecem os requisitos de ambos para novos automóveis, enquanto o acordo com o Canadá não”, lembrou a líder conservado­ra. Ao mesmo tempo em que exemplific­ou o que não quer para o seu país, May enumerou também os pilares do que deve ser o acordo do brexit. E são cinco ao todo.

O primeiro é que o acordo deve respeitar o referendo de 2016, em que 52% dos britânicos votaram a favor da saída do Reino Unido, e esse foi “um voto para controlar o nosso dinheiro e as nossas fronteiras”. O acordo deve permanecer e não se deve voltar atrás para negociar de novo porque as coisas não ficaram bem feitas. O acordo deve proteger os empregos das pessoas e garantir a sua segurança. Tem de definir que país vai ser o Reino Unido, inovador mas com valores. E tem de voltar a unir os britânicos (tanto os que são a favor como os que são contra o brexit). “A paz é um legado que queremos preservar. Não queremos uma fronteira física na Irlanda do Norte”, declarou, em jeito de crítica à proposta feita nesta semana pela Comissão Europeia no sentido de a Irlanda do Norte ficar no mercado único europeu (tal como a República da Irlanda, mas não como Reino Unido, país ao qual pertence o território).

Insistindo na necessidad­e de um acordo sobre segurança e defesa, como defendeu em Munique, May reafirmou que o Reino Unido e a UE têm muitos interesses em comum e que por isso a sua futura relação não se pode resumir a uma simples parceria comercial ou a acordo de cooperação. Mesmo assim especifico­u cinco pontos-chave do que devem ser as relações económicas no futuro: haver reciprocid­ade com práticas de concorrênc­ia justas e abertas, estabelece­r um mecanismo de arbitragem, ter mecanismos de diálogo e de consulta permanente­s a funcionar, definir um entendimen­to sobre a questão da proteção de dados e manter os laços entre os cidadãos britânicos e do resto da UE. A líder britânica manifestou vontade de março A data prevista de saída do Reino Unido da UE é 29 de março de 2019, dois anos depois de o país ter acionado o pedido.

pilares Futuro acordo que vai definir a relação entre o Reino Unido e a UE no

deverá ficar assente nos cinco pilares apresentad­os por May. de o Reino Unido permanecer em algumas agências europeias, como por exemplo a de Medicament­os. E frisou ainda que depois do brexit o Tribunal Europeu de Justiça deixará de ter jurisdição no Reino Unido.

“Isto é uma negociação. Ninguém conseguirá tudo o que quer. Mas acredito que é possível um acordo com um acesso justo aos mercados. Concorrênc­ia. É preciso encontrar um equilíbrio”, afirmou a primeira-ministra, terminando o discurso com a frase: “Vamos lá despachar isto.” Em reação, o negociador da Comissão Europeia, Michel Barnier, considerou que este discurso veio trazer alguma “clareza” ao debate do brexit. Mas o líder do Labour, Jeremy Corbyn, afirmou que não mostra “clareza” nem “sentido real das prioridade­s”. “Mais uma vez, May evitou tomar decisões sérias sobre o futuro”, disse o líder dos liberais-democratas Vince Cable. No passado, a primeira-ministra chegou a dizer que o país sairia da UE mesmo sem acordo. Questionad­a pelos jornalista­s sobre se mantém tal posição afirmou: “Estamos preparados para todos os desfechos.”

ANA MEIRELES

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal