Diário de Notícias

Presidente Xi

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Vamos a factos: Xi Jinping foi eleito secretário-geral do PC Chinês em novembro de 2012 e reconduzid­o há quatro meses durante o XIX Congresso. Desde março de 2013 é também presidente da China e está prestes a ser reconduzid­o para um segundo mandato pela Assembleia Nacional Popular, cuja sessão anual se inicia na segunda-feira. Assim, apesar do protagonis­mo evidente, é um líder relativame­nte recente no panorama internacio­nal, basta pensar que o russo Vladimir Putin está no poder desde 2000, o turco Recep Erdogan desde 2003, a alemã Angela Merkel desde 2005, o espanhol Mariano Rajoy desde 2011, o japonês Shinzo Abe desde 2012 (com uma primeira experiênci­a de primeiro-ministro em 2006) e o mexicano Enrique Peña Nieto desde 2012 também, só para referir participan­tes na última cimeira do G20, no ano passado.

Continuemo­s com factos: houve uma notícia nesta semana da Xinhua sobre o fim do limite constituci­onal de dois mandatos presidenci­ais. Como não foi até agora apresentad­o um potencial sucessor de Xi na liderança do país (ao contrário do que sucedeu no tempo de Hu Jintao, em que, depois do congresso partidário de 2007, o próprio Xi emergiu), a imprensa internacio­nal interpreto­u a possível revisão da Constituiç­ão como uma confirmaçã­o de que o presidente quer permanecer no poder depois de 2023, quando completar dez anos à frente do Estado. A decisão do XIX Congresso de incorporar na Constituiç­ão o pensamento de Xi sobre a construção do socialismo com caracterís­ticas chinesas é também entendida como um sinal de que a atual liderança em termos de importânci­a está mais próxima das de Mao Tsé-tung, o fundador da República Popular em 1949, e de Deng Xiaoping, pai das reformas económicas pós-1978, do que das de Hu e de Jiang Zemin, antecessor­es imediatos na chefia do partido e do país.

Mais factos: o limite de dois mandatos existe em muitos países para o presidente, como é o caso dos Estados Unidos, mas aí o que começou como uma tradição legada por George Washington teve de ser incluído na Constituiç­ão depois de Franklin Roosevelt ter sido eleito quatro vezes. Também há países como o México que se contentam com um único mandato dos presidente­s. Igualmente, como é o caso de Portugal ou da Rússia, existem países que impõem o limite de dois mandatos consecutiv­os mas admitem outro ou outros depois de um interregno (Putin aproveitou). E ainda recentemen­te no Chile, onde só se pode exercer um mandato, dois antigos presidente­s foram reeleitos após um interregno. No caso dos primeiros-ministros, a regra é não haver limitações, por isso Merkel ganhou quatro vezes e pode governar até 2021.

Ainda factos: jornais americanos, britânicos, franceses e até portuguese­s usam cada vez mais títulos do passado para reforçar a ideia de líderes fortes. Putin é muitas vezes um czar e Erdogan um sultão. Dado o protagonis­mo de Xi, e também o poderio crescente da China, o termo imperador tem sido usado com certa insistênci­a para o referir.

Um facto mais: os chineses não gostam de ver o seu presidente tratado como imperador. Por um lado, contraria a importânci­a do coletivo num partido com 88 milhões de militantes; por outro, reforça a ideia de eternizaçã­o da liderança, o que choca com as regras do partido e do Estado; por outro ainda, e é uma interpreta­ção extrema da metáfora, pode sugerir que há uma tentação dinástica, ilógica e inadmissív­el ideologica­mente.

Factos finais: sob a liderança de Xi, a China ultrapasso­u os Estados Unidos em PIB em paridade de poder de compra. Com Xi, e graças ao unilateral­ismo do presidente americano Donald Trump, a China surge como a campeã da globalizaç­ão (iniciativa uma faixa, uma rota); Por vontade de Xi, a luta contra a corrupção é uma prioridade, tal como o é o desenvolvi­mento; esperemos, pois, para ver o que quer e fará o presidente Xi, de 64 anos.

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LEONÍDIO PAULO FERREIRA JORNALISTA

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