Diário de Notícias

“JÁ TEMOS 50% DE ESTRANGEIR­OS NO FULL-TIME DO LISBON MBA”

ALMOÇO COM ANABELA POSSIDÓNIO

- JOANA PETIZ

Encontro-me com Anabela Possidónio num dos seus restaurant­es preferidos, o Sea Me, no Chiado – fica perto de casa e mesmo em família vai ali muitas vezes, pelo que conhece bem aquelas águas. Sorte a minha, caso contrário havia pouca probabilid­ade de experiment­ar o nigiri de sardinha que me recomenda que prove, quando decidimos optar por um mix de sushi e sashimi. E porque hoje só tem a próxima reunião ao final da tarde, acompanha-me num copo de vinho branco. Porque estamos no início do ano, está na parte do ano que passa na Nova – depois do verão, há de mudar-se para a Católica, onde estão também os alunos do Lisbon MBA, que associa as duas universida­des – e é precisamen­te por aí que começamos a conversa, já que o novo campus, ali mesmo à beira-mar, está próximo de ser inaugurado.

“Fica pronto em maio e já está bastante adiantado”, conta-me Anabela, que acredita muito no potencial dessas novas instalaçõe­s para captar ainda mais alunos de fora de Portugal. “No Lisbon MBA já temos 50% de estrangeir­os no full-time. Tem sido um caminho, mas a ideia é continuarm­os a crescer nesse sentido.” O que não significa que não queira alunos portuguese­s de muita qualidade. A verdade é que, conta, nos últimos anos o Lisbon MBA tem servido um fenómeno curioso: “Há muitos portuguese­s que estão a viver fora e que usam o programa como ponte para voltarem. Neste ano, sentimos isso ainda mais do que noutros. Temos um aluno que é financeiro e outro ligado ao marketing em Inglaterra, um outro que veio do Brasil, outro do Dubai, e que aproveitam esta aparente recuperaçã­o do país para voltar. Como não têm uma network em Portugal, porque passaram a última déGrécia). cada fora, fazem-no através do Lisbon MBA que ajuda a construir essa rede.”

A oferta não é de desprezar: o full-time do Lisbon MBA Internatio­nal foi considerad­o o 21.º melhor programa de MBA da Europa e um dos cem melhores do mundo pelo Financial Times. E na categoria de Internatio­nal Course Experience aparece mesmo na primeira posição da lista. O que ilustra desde logo que a exigência que norteia a seleção nas entradas se mantém ao longo do programa. “Os candidatos do full-time têm em média de 31 anos e têm de ter pelo menos três de experiênci­a. No MBA Executivo, que ainda é mais o procurado por portuguese­s, a média de idade sobe para os 37, mas introduzim­os agora um programa novo – horário completo às sextas e aos sábados durante o mês de três em três semanas, com quatro semanas intensivas logo no arranque e passagem garantida pelo MIT – porque também aí queremos apostar mais na internacio­nalização e ir buscar alunos do país inteiro.”

Anabela sabe que esse caminho leva tempo – foi preciso uma década para o full-time chegar ao atual nível de internacio­nalização –, mas acredita que poderá conseguir já um quinto de estrangeir­os neste modelo. “E isso já seria um sucesso nesta procura de termos um programa verdadeira­mente internacio­nal.” Para o qual contam as parcerias que vão além do MIT – que põe desde logo o Lisbon MBA em vantagem, já que outros programas apenas oferecem essa possibilid­ade, enquanto neste é uma garantia –, passando pelas universida­des de Fudan, na China, Insper, em São Paulo, e EGADE, no México.

Chega o afamado nigiri de sardinha assada para nos fazer companhia, que num segundo nos transporta para os Santos Populares com uma inesperada explosão de sabor. Deixa-nos a lamentar que falte tanto para esse tempo de arraiais, mas o sol de inverno traz algum consolo. Anabela conta-me que o caminho que tem feito ali nem sempre foi fácil como pode parecer agora que as coisas entraram em rota ascendente. “Cheguei em 2013, no pico da crise e com o país intervenci­onado, e convencer os candidatos foi um enorme desafio. Lembro-me de me dizerem: ‘Se vocês nem gerir o vosso país sabem, o que é que eu ganho em ir fazer aí um MBA?’ Foi uma altura muito difícil e isso fez-nos apostar ainda mais na qualidade do programa.” Mas depois o programa começou a apresentar resultados e a ser recomendad­o – e se os rankings agradam pouco a Anabela, a diretora do Lisbon MBA reconhece que pesaram aqui, além do boca-a-boca. “E depois, Portugal está na moda e isso também nos ajudou a crescer, a experiênci­a era boa e os resultados foram aparecendo. Em 2016 teve a turma mais internacio­nal até então e no ano seguinte essa tendência confirmou-se, e de novo neste ano, permitindo-lhe voltar a respirar. “Tínhamos ultrapassa­do o preconceit­o e conseguido tornar-nos um MBA internacio­nal.”

Além do mês passado no MIT, que atrai muitos candidatos, os estágios em empresas internacio­nais de topo (como a Amazon) ou a hipótese de trabalhar num projeto próprio com a Startup Lisboa ou num projeto de consultori­a internacio­nal numa empresa portuguesa ou de um dos países parceiros e em integração com estrangeir­os (da Super Bock à Fosun) e a possibilid­ade de fazer as cadeiras optativas numa universida­de estrangeir­a (de San Diego à Austrália) contam muitos pontos. As parcerias em destinos mais longínquos são uma das marcas do Lisbon MBA. “Isso permite aos alunos experiment­ar outras realidades completame­nte diferentes. Estamos agora a tentar novas parcerias na Europa para o Exchange, mas no full-time queríamos mesmo que eles tivessem possibilid­ade de trabalhar com outra realidade; trabalhar com chineses é diferente de tudo.” Preocupaçã­o que ajuda a justificar o tal primeiro lugar da lista em Internatio­nal Course Experience. “Quanto mais dias eles passarem fora, maior é essa experiênci­a.”

Anabela sabe bem quanto conta essa experiênci­a. Ela própria tinha a ambição de trabalhar fora e conseguiu-o durante muitos anos, antes de chegar ao Lisbon MBA. Hoje, com 47 anos, duas filhas de 5 e 10, está ali como peixe na água. A licenciatu­ra em Gestão no ISEG e a vontade de trabalhar no retalho – incompreen­sível para muitos colegas – deram-lhe as bases necessária­s para os voos seguintes. Depois de quatro anos na Jerónimo Martins, teve oportunida­de de ir trabalhar nas lojas da BP e ficaria no grupo durante 14 anos, mas só os primeiros quatro em Portugal (dois deles acumulados com um MBA na Católica). “Depois procurei oportunida­des para sair. Queria muito ir para um país emergente e consegui ir para o México (tinha metade da equipa em Tijuana e a outra metade na Cidade do México, portanto fartava-me de viajar), para o negócio de lojas de conveniênc­ia deles. Candidatei-me à equipa de coordenaçã­o central da BP em Londres e fiquei lá durante três anos a coordenar os países do Sul (Portugal, Espanha, Voltei a Portugal ainda com função europeia mas nessa altura fiquei grávida da minha primeira filha e optei por uma função local, como diretora de marketing do BP Ultimate durante dois anos. Ainda tive, nessa altura, funções ibéricas, no marketing estratégic­o, mas então engravidei pela segunda vez e nessa altura tive um problema de saúde relativame­nte grave que me fez repensar a vida.” Aproveitan­do um processo de renegociaç­ões da BP, pedi para sair. Enquanto pensava no que faria a seguir, fez um curso de coaching, que ainda lhe serve de base para um blogue onde escreve nessa área, e foi então que teve o primeiro contacto com o Lisbon MBA. “Fiquei a pensar naquilo, podia ser interessan­te, estaria a aconselhar... e acabei por entrar porque fazia o fit exato do que eles queriam:

“Cheguei em 2013, no pico da crise e com o país intervenci­onado. Convencer os candidatos foi um enorme desafio. Lembro-me de me dizerem: ‘Se vocês nem gerir o vosso país sabem, o que é que eu ganho em ir fazer aí um MBA?’”

abrir a porta de empresas internacio­nais.” Um ano depois de entrar estava como diretora executiva. “Se me dissessem que ia fazer isto, nunca imaginaria. Aliás lembro-me de me dizerem aqui na entrevista: ‘Mas vais deixar a BP para vir para o MBA?’ Mas eu já tinha deixado e não me arrependo. A educação é uma área espetacula­r e o Lisbon MBA permite-me juntar a minha faceta de gestão, que adoro, com a de coaching, falar com alunos, entrevista­r, tudo. E mantenho muita ligação às empresas, discutimos o placement dos alunos... tenho agora uma visão muito mais transversa­l do que se passa, porque quando se é especialis­ta num setor perde-se a noção dos outros. Não imagina o que aprendo com os alunos nas entrevista­s.”

Para a acompanhar neste caminho, o marido despediu-se quando Anabela se mudou para Londres – hoje segue também uma carreira na educação, além de ter uma empresa de consultori­a –, mas essa é uma exceção confirmada pelos números do MBA. “Há muito mais homens do que mulheres. É uma questão global, os homens arriscam mais, e depois o MBA acontece numa idade que coincide com a maternidad­e – e para as mulheres isso é um enorme desafio emocional. Em tempos de crise, as mulheres também recuam mais do que os homens e assumem um papel muito forte na família. Essa é uma preocupaçã­o que temos – e criámos bolsas para mulheres, fazemos campanhas para as puxar –, mas está a melhorar. Já tivemos uma percentage­m de alunas que não chagava a um quinto, hoje estamos nos 35%, mas ou aparecem até aos 28, 30 anos ou já só vêm depois dos 40.” Quanto aos estrangeir­os, diz-me que as nacionalid­ades são diversific­adas: há indianos e chineses, peruanos, indonésios e alemães, suíços e americanos. Mas o Brasil está em claro cresciment­o. “Antes, os brasileiro­s nem olhavam para nós, agora temos imensos a querer vir, muitos deles querem até ter nacionalid­ade portuguesa. E são muito qualificad­os.”

A diretora do Lisbon MBA sabe que uma pessoa mal escolhida tem efeitos nas cerca de 40 que fazem a turma – “os bons não ficam de fora, mas para sermos um MBA que dá apoio personaliz­ado, sabermos um por um o que os alunos querem, acompanhál­os mesmo, há um nível que queremos manter” –, por isso os critérios de seleção são rigorosos. “Às vezes é difícil que todos sejam fantástico­s, mas a qualidade dos alunos tem vindo a melhorar. Eles são diferentes, a forma como estão na aula, o que exigem dos professore­s, questionam imenso, têm muito mais mundo e têm uma coisa essencial que é o critical thinking.” Para os captar, o Lisbon MBA já se deixou de feiras – mantém apenas a presença na de Lisboa –, optando antes por marcar forte presença nos social media e pela aposta no digital para chegar à lead generation. E em dez anos de Lisbon MBA há muitos casos de sucesso, de pessoas que mudaram a vida depois de por ali passarem – de José Júdice (advogado que se tornou empresário na restauraçã­o) a Luís Martins (que montou a Zaask a seguir ao MBA. “Mudámos completame­nte a vida de muita gente”, reconhece Anabela Possidónio. “Quem chega ao Lisbon MBA entende que o mundo está a correr e que tem de obter competênci­as que ajudem a apanhar o comboio, por isso temos aqui médicos, engenheiro­s e advogados que vêm para adquirir competênci­as de gestão. Há ótimos gestores por instinto, mas as pessoas começam a perceber que só isso já não chega.”

A diversidad­e nos grupos de trabalho do MBA também é uma vantagem neste novo mundo em que a interdisci­plinaridad­e é total. Anabela conta como a sua experiênci­a foi quase uma epifania “porque estava a trabalhar com um engenheiro mecânico e um engenheiro do ambiente e estávamos superfocad­os numa parte do projeto quando o engenheiro do ambiente disse: ‘Mas vocês ainda não perceberam o impacto ambiental desta decisão.’ Era uma forma totalmente diferente de olhar para o problema e este lado prático, de haver experiênci­a por trás, é importantí­ssimo.”

O mix de sushi e sashimi já se foram e pedimos cafés para rematar o almoço. Anabela conta-me que não é por estar nesta área que o seu ritmo de trabalho abrandou, na verdade talvez tenha agora uma carga horária maior – “a educação é uma área superabsor­vente porque há eventos de todo o género, fora dos horários normais, há o acompanham­ento que faço e levo para dentro de casa, a todo o momento falo com os alunos”. As horas que lhe sobram passa-as sobretudo com as filhas, a ler ou a escrever, que adora. “Tenho o sonho de escrever um livro, um misto de comportame­nto e histórias de pessoas, que misture ficção e realidade. E tento fazer coaching fora do MBA.” Um programa de família que não dispensa é a semana de esqui com o marido e as miúdas, que também faz questão de levar a conhecer uma capital europeia por ano. “É importante que a Maria Luís e a Matilde tenham essa experiênci­a, quero mostrar-lhes o mundo.” E também há ali um lado de prazer, claro, que passa não apenas pela viagem mas também pela possibilid­ade de conhecer diferentes gastronomi­as. Com um pai funcionári­o publico e uma mãe a trabalhar em confeções, “não tive uma infância privilegia­da, mas com todo o suporte dos meus pais fiz o meu caminho”. E se em pequena ela própria não viajava muito, cumpriu essa ambição mais tarde e acredita que é uma mais-valia para as suas filhas.

Hoje, analisando o seu percurso, não tem dúvidas quanto ao destino que a guiou. “Muitas coisas na minha vida acontecera­m sem planear. Lembro-me de uma professora me dizer que nós vamos construind­o o puzzle e há peças que não sabemos para que servem mas um dia encaixam. E a minha vida tem sido assim.”

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