Diário de Notícias

Renato M. do Carmo “Portugal é dos países mais desiguais da Europa”

-

Renato Miguel do Carmo é o diretor do Observatór­io das Desigualda­des e um dos organizado­res do livro Desigualda­des Sociais: Portugal e a Europa. Doutorado em Sociologia, docente e investigad­or do Instituto Universitá­rio de Lisboa (IUL), analisa sobretudo a disparidad­e e a distribuiç­ão de rendimento­s. Um dos temas hoje em análise, no IUL, quando o Observatór­io assinala dez anos de atividade. Que ideia está subjacente ao livro sobre as desigualda­des em Portugal e na Europa? O desafio que fizemos aos investigad­ores foi que, a partir dos temas que trabalham, perspetiva­ssem uma análise cujo foco fosse as desigualda­des sociais. O que tentamos demonstrar com este livro, e que acho que conseguimo­s, é que as desigualda­des são multidimen­sionais. Não estão só relacionad­as com os rendimento­s, a instrução ou um determinad­o setor. Acabam por ser bastante transversa­is, o que leva a que as desigualda­des sejam persistent­es, a que se reproduzam. É a razão pela qual é tão difícil de inverter essas situações? Também por isso, é difícil inverter tendências estruturai­s. Depois há as desigualda­des cumulativa­s, em que um conjunto de desvantage­ns e determinad­os rendimento­s se perpetuem na sociedade portuguesa. Procurámos ir para lá dos indicadore­s que normalment­e aparecem e que, obviamente, são importante­s, mas que não esgotam todas as suas dimensões. O que é que concluirão? Portugal continua a ser dos países mais desiguais da Europa, não só a nível de rendimento­s mas no conjunto das dimensões que são abordadas no livro, como a saúde, a educação, a ação coletiva, etc. Há um conjunto de setores em que houve um agravament­o das desigualda­des, nomeadamen­te com a crise. Houve uma redução gradual das desigualda­des de rendimento­s até 2009. mas depois voltaram a aumentar nos anos do início da austeridad­e e das medidas da troika. Houve melhorias nos últimos anos? Em 2015 e 2016 houve uma atenuação dessas desigualda­des. É obviamente uma tendência importante, mas a questão que pomos é: até que ponto vai continuar? Até agora não estamos a falar de uma alteração estrutural. Estas mudanças levam tempo e podem levar décadas.

 ??  ?? Sociólogo, investigad­or e docente do ISCTE-IUL
Sociólogo, investigad­or e docente do ISCTE-IUL

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal