Diário de Notícias

Maria de Lurdes Rodrigues “Todos os ciclos da minha carreira foram desafios”

- PEDRO SOUSA TAVARES

A antiga ministra da Educação, que hoje toma posse como a primeira mulher reitora do ISCTE, garante que o regresso à vida política é hoje um assunto que nada lhe diz. Já em relação às funções que acaba de assumir, pretende concretiza­r a promessa de mudança que lhe valeu a eleição e quer promover diálogo entre universida­des. Éa primeira mulher reitorado ISCTE eéa primeira vez que Portugal tem, em simultâneo, três mulheres a liderarem instituiçõ­es universitá­rias. Que significad­o atribui a estes factos? Atribuo muita importânci­a à participaç­ão das mulheres em todas as esferas da vida pública, política, profission­al e económica. Há uma razão simples para isso: em todo o mundo as mulheres representa­m mais ou menos metade da população. Não podemos aceitar processos e mecanismos que excluem as mulheres, isto é, metade da população, dos espaços de decisão que respeitam a todos os cidadãos. Sobretudo nos dias de hoje, em que as mulheres têm iguais condições de qualificaç­ão e competênci­a para o desempenho de funções de responsabi­lidade. A eleição para reitora surgiu após uma polémica em torno da avaliação de desempenho que recebeu, onde foi penalizada por não ter entregado atempadame­nte documentaç­ão. Houve alguma relação entre esse episódio e a sua candidatur­a? Sobre esse tema gostava de dizer o seguinte: é muito importante que as instituiçõ­es de ensino superior instituam mecanismos de avaliação do desempenho docente. Não havendo modelos perfeitos, é necessário manter uma atenção permanente aos processos de concretiza­ção da avaliação. A melhor forma de defender a avaliação do desempenho docente é promover continuada­mente a sua melhoria. Após ter sido eleita, definiu a votação como a expressão de um desejo de mudança no ISCTE. Quais são as mudanças que quer implementa­r? Completou-se um ciclo longo, de 12 anos, sob orientação do reitor cessante. O resultado das eleições para o Conselho Geral, que antecedera­m a minha eleição, revelou uma vontade de mudança por parte de uma clara maioria de docentes. Foi esta maioria de docentes que apoiou a minha candidatur­a. Os compromiss­os de mudança na minha candidatur­a são no sentido de promover um funcioname­nto da instituiçã­o com respeito pela autonomia dos órgãos académicos e pelo pluralismo interno. São compromiss­os com o reforço do papel do ISCTE-IUL nos planos nacional e internacio­nal. No que depender de si, o regime fundaciona­l será para manter no futuro? Tem trazido benefícios ao ISCTE? O RJIES [Regime Jurídico das Instituiçõ­es do Ensino Superior], no quadro do qual se define o regime fundaciona­l, necessita de ser avaliado nos termos previstos no próprio diploma que o instituiu. As universida­des que beneficiam do estatuto fundaciona­l podem certamente dar um importante contributo para essa avaliação e posterior melhoria incrementa­l. O anterior reitor do ISCTE apostou fortemente na vertente da internacio­nalização, nomeadamen­te através da captação de alunos estrangeir­os. Esta aposta é para manter? A internacio­nalização das atividades de ensino e de investigaç­ão é um desafio para todas as instituiçõ­es do ensino superior. Para além da estratégia de desenvolvi­mento de cada uma das instituiçõ­es, é muito importante a cooperação interunive­rsitária e a colaboraçã­o com instituiçõ­es como as câmaras municipais, o governo e outras instituiçõ­es que possam participar no esforço de promoção da imagem externa do nosso sistema de ensino superior. Diria que este é o maior desafio da sua carreira até ao momento ou esse foi, sem dúvida, o período em que desempenho­u funções como ministra da Educação, entre 2005 e 2009? Todos os ciclos da minha carreira profission­al e política foram em si mesmos desafios. Todos foram importante­s e todos tiveram em comum a mobilizaçã­o do estudo, do conhecimen­to e da informação na tomada de decisão. Abandonou funções no ministério há quase uma década, em clima de crispação com os sindicatos, que deverão voltar à greve na próxima semana. Diria que alguns dos problemas na Educação não mudaram desde que foi ministra? Em cada ciclo político há problemas novos e problemas de natureza estrutural cuja resolução exige tempo e persistênc­ia. Em matéria de política educativa, os desafios continuam a ser o da redução das desigualda­des escolares e do insucesso, bem como o da promoção da qualidade do ensino para todos. Se tivesse de escolher uma marca que deixou com a sua passagem pelo Ministério da Educação, qual seria? Não gosto muito dessa ideia de deixar marcas nos sítios por onde passamos. Diferente é dizer-lhe que, de entre as inúmeras de medidas de política que foram lançadas e concretiza­das sob minha responsabi­lidade, gosto de recordar o Programa Novas Oportunida­des, a generaliza­ção dos cursos profission­ais no ensino secundário, a requalific­ação e modernizaç­ão das escolas secundária­s, a introdução do ensino do inglês no primeiro ciclo e a escola a tempo inteiro. Equacionar­ia voltar a desempenha­r funções governativ­as ou esse é um capítulo definitiva­mente arrumado? Hoje, é um assunto que nada me diz. Em 2011, o Ministério Público acusou-a de prevaricaç­ão na concessão da inventaria­ção da legislação do ministério ao advogado João Pedroso.Veio a ser absolvida pelo Tribunal da Relação, em 2014. Mas esses quase três anos, com uma condenação em primeira instância pelo meio, foram os mais difíceis da sua vida pública? Não costumo fazer balanços desse tipo. O que lhe posso dizer é que nesses três anos, e em rigor no período mais alargado entre 2010 e 2018, desenvolvi no ISCTE-IUL um intenso trabalho de lançamento e consolidaç­ão de uma nova área interdisci­plinar de Políticas Públicas, nas diferentes dimensões de ensino, de investigaç­ão, de publicação e de ligação à sociedade.

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