CTT pagam mais do dobro dos lucros em dividendos
Lucros do operador caíram 56,1% em 2017. Desde novembro, 220 trabalhadores fecharam acordo para sair dos CTT. Indemnizações chegam a 11,9 milhões
ANA MARCELA “Os CTT têm uma situação financeira sólida. Não têm passivo bancário. Não nos vamos endividar para pagar dividendos”, garantiu Francisco Lacerda, CEO dos Correios, durante a apresentação de resultados da empresa, que fechou 2017 com os lucros a recuar 56,1%, para 27,3 milhões.
O operador postal, que tem em marcha um plano de reestruturação em três anos que, entre outras medidas, prevê o encerramento de lojas e a saída de 800 trabalhadores até 2020, propõe pagar 0,38 euros por ação em dividendos. Ou seja, 57 milhões de euros, mais do dobro dos resultados líquidos do ano passado. O dividendo, que será pago em maio, resulta da implementação de uma “política já anunciada. Estamos a cumprir com o compromisso”, justifica o gestor, lembrando que, durante o período de implementação do plano de transformação, os CTT decidiram mudar a política de remuneração acionista. “Mudamos a política para o futuro e não para o passado.” Entre 2018-2020 os CTT passarão a ter uma remuneração acionista baseada numa percentagem do resultado líquido gerado anualmente. Francisco Lacerda não quantificou.
“Sinto-me bem onde estou e com o apoio dos acionistas”, reagiu Francisco Lacerda quando questionado sobre uma eventual saída da liderança da companhia. “A Gestmin está representada no conselho de administração dos CTT. As posições do conselho de administração são obviamente as da Gestmin”, disse ainda quando questionado sobre se sentia o apoio dos acionistas à sua liderança. Com 10%, a empresa de Manuel Champalimaud é a maior acionista dos CTT.
Os CTT têm vindo a ser pressionados no mercado, bem como a nível político e pelas populações, após o anúncio das medidas previstas no plano de reestruturação. A Anacom, entretanto, apertou os critérios de qualidade do serviço postal, bem como da formação do preço, num projeto de deliberação sobre o qual os CTT ainda não se pronunciaram. E Francisco Lacerda também não o quis fazer quando instado a comentar o impacto da deliberação do regulador na operação. “O período para nos pronunciarmos sobre o sentido provável da deliberação sobre os indicadores de qualidade, bem como da formação de preço, termina para a semana”, justifica. Mas lembra que ao nível de preço, para este ano, as regras de formação são as mesmas de anos anteriores. “Já estamos a trabalhar nos aumentos de preços.”
Desde novembro, altura em que a empresa anunciou que seriam convidados a rescindir ou a reformar-se antecipadamente até 300 trabalhadores, os CTT já chegaram a acordo com 220 trabalhadores para a sua saída. “Neste processo mais central já atingimos o valor que tínhamos estabelecido das 200 pessoas e temos razões para acreditar que vamos chegar a acordo com um maior número de pessoas, porque temos tido recetividade ao que propomos”, diz Francisco Lacerda.
No último trimestre do ano passado saíram 161 trabalhadores dos CTT, tendo sido pagos 11,9 milhões de euros de indemnizações. “220 [representam] mais do que isto, mas não revelamos”, disse o gestor. Saídas que não estão incluídas nos 800 trabalhadores, sobretudo na área operacional, que a empresa quer reduzir até 2020. O gestor não adiantou qual é a redução de funcionários prevista para este ano, e fala em avaliação contínua quando o tema são os encerramentos de estações. Para já está previsto o fecho de 22 estações. A companhia antecipa que as iniciativas contidas no plano de reestruturação operacional tenham um impacto estimado de 20 milhões nos gastos operacionais não recorrentes em 2018.
Reestruturação dos CTT deverá custar 20 milhões, revelou Francisco Lacerda