Diário de Notícias

Novos requisitos técnicos do Exército fazem atrasar concursos junto da NATO

Algumas alterações propostas à agência de compras da NATO não encontram resposta por parte das empresas do setor

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Pelo menos parte dos atrasos nos concursos de compra de armamento para o Exército, em curso através da NATO, são da responsabi­lidade do ramo, afirmam diferentes fontes ouvidas pelo DN.

A principal razão desses atrasos deve-se à natureza dos requisitos definidos pelo Exército, alguns inexistent­es nos produtos disponívei­s no mercado, explicaram duas das fontes, enquanto uma terceira adiantou – a propósito das armas ligeiras – que o ramo apresentou pedidos adicionais à Agência de Compras e Apoio da NATO (NSPA, sigla em inglês) que alteravam o caderno de encargos inicial.

O Exército – a quem o ministro da Defesa delegou as competênci­as de execução e acompanham­ento dos concursos – assegurou que “o processo aquisitivo decorre dentro da normalidad­e”. Acresce que as reuniões de trabalho com a NSPA “visam, como é natural, assegurar a coordenaçã­o e a melhor adequação das necessidad­es” do ramo “aos aspetos técnicos inerentes” aos concursos, adiantou o Exército ao DN.

Importa “garantir que as especifica­ções técnicas e os requisitos operaciona­is por nós pretendido­s são integralme­nte entendidos” pela NSPA, sublinhou ainda o ramo, na sequência da notícia publicada há dias pelo DN sobre o assunto, atribuindo à NSPA a responsabi­lidade pelos atrasos nos concursos.

Certo é que responsáve­is da NSPA já estiveram em Portugal para compreende­rem o que quer o Exército, ao apresentar requisitos e exigências que, nalguns casos, nem existem no mercado ou que as empresas têm dificuldad­e em satisfazer devido à sua especifici­dade e ou complexida­de, afirmaram algumas das fontes.

Outro aspeto admitido por uma das fontes envolvidas diz respeito aos montantes inscritos na Lei de Programaçã­o Militar para cada um dos diferentes programas: há casos em que as verbas já são insuficien­tes para “tantas exigências técnicas” apresentad­as pelo Exército.

Há cinco concursos para o Exército lançados através da NSPA: um para a aquisição de mais de 18 000 armas (espingarda­s automática­s e de precisão, metralhado­ras ligeiras e médias, caçadeiras, lança-granadas e aparelhos de precisão), a concretiza­r até 2022 e por 42,8 milhões de euros; outro para sistemas de artilharia antiaérea (terminais de armas, radares de aviso local, viaturas blindadas e sistemas de mísseis ligeiros integrados nesses veículos), até 2026 e por 32 milhões; um terceiro para compra de 12 drones, a concretiza­r até 2021 e por seis milhões de euros; um de 167 viaturas ligeiras blindadas de quatro rodas (2020 e até 60,8 milhões) e o quinto para 47 viaturas táticas médias blindadas e não blindadas (2023, 13,3 milhões).

O Ministério da Defesa disse na altura ao DN que “alguns processos negociais demoram mais do que o desejado” e que a demora resultará da “elevada complexida­de de alguns projetos em que existem requisitos muito exigentes, bem como à necessidad­e de dar resposta a um número elevado de configuraç­ões”.

Sobre a possibilid­ade de centraliza­r as compras de material militar (vigente noutros países aliados), como consequênc­ia da opção de realizar os concursos através da NATO – algo que uma das fontes admitiu ter sido “mal recebida” em vários setores da Defesa – para garantir “maior transparên­cia” a esses processos e evitar sucessivas alterações de requisitos, a tutela rejeitou essa política. Contudo, deixou um alerta: “Teremos de intervir se acharmos que o prazo está a exceder o razoável.”

A NSPA não respondeu às questões do DN sobre esta matéria. O oficial de ligação português junto daquela agência da NATO remeteu quaisquer posições para o ministério ou para a Aliança. MANUEL CARLOS FREIRE

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Ministro da Defesa entregou concursos à NATO para garantir transparên­cia

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