Diário de Notícias

Em dez dias choveu o dobro da média para o mês de março

A norte do Tejo, as barragens estão a recuperar as suas disponibil­idades de água, mas a sul ainda persistem problemas. Na agropecuár­ia as perspetiva­s estão agora mais positivas

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CARLOS FERRO e FILOMENA NAVES Nos primeiros dez dias de março já choveu “praticamen­te o dobro do que é habitual em março”, afirmou ao DN o ministro da Agricultur­a, Capoulas Santos, sublinhand­o que as expectativ­as são de “mais pluviosida­de até ao final da primavera”, o que “dá alguma tranquilid­ade de que as culturas de primavera/verão vão poder realizar-se”. A seca, porém, ainda não é passado, avisa o governante.

A chuva que caiu desde o início do mês “ainda não é o fim do problema da seca, mas é já parte da sua resolução”, resume o ministro.

A precipitaç­ão média para o mês de março é da ordem dos 61 milímetros e as estimativa­s feitas anteriorme­nte mostravam que, para que a situação de seca fosse ultrapassa­da, seria necessário que ao longo deste mês se registasse cerca do dobro da sua pluviosida­de habitual – isso já ficou cumprido nestes primeiros dez dias –, sendo necessário também que abril registe precipitaç­ão acima da média. Se vai ser assim, não é possível dizer com certezas absolutas, mas as previsões, pelo menos até dia 18, são de continuaçã­o da chuva.

A tempestade Félix atinge Portugal neste fim de semana e só dá tréguas a partir de amanhã, mas para quarta-feira prevê-se novo agravament­o do tempo, com possibilid­ade de mais vento e agitação marítima. E a chuva é para continuar até ao próximo fim de semana, segundo o IPMA.

Com esta precipitaç­ão desde o final de fevereiro, “as barragens estão a ganhar volume a norte do Tejo”, mas no Sul do país “subsistem problemas, particular­mente na O ministro da Agricultur­a, Capoulas Santos,

está otimista baía do Sado”, garante o ministro da Agricultur­a, ressalvand­o que “ainda estamos longe de ter o armazename­nto ideal no país”.

Os dados mais recentes sobre as reservas das albufeiras, desta sexta-feira, mostram que, das 61 monitoriza­das, dez já apresentam disponibil­idades superiores a 80% do seu volume total (são agora mais cinco do que a 28 de fevereiro), enquanto 12 mantêm volumes inferiores a 40% – no início do mês eram 23.

A situação continua por resolver nas regiões do sul, particular­mente, na bacia do Sado, onde persistem oito albufeiras nessa situação, como Campilhas, com apenas 7% do total das suas disponibil­idades, Monte da Rocha (10%), Monte Miguéis (12%) ou Vale de Gaio (22%). Já na bacia do Tejo, a albufeira mais depauperad­a é a de Divor, com 16% do volume, e na bacia do Guadiana há três com níveis abaixo dos 28%.

Apesar disso, com a precipitaç­ão a manter-se, bem como as medidas de precaução no consumo, a situação poderá evoluir favoravelm­ente nestas albufeiras também nas próximas semanas.

Para a agricultur­a, esta precipitaç­ão “é ouro a cair do céu para as pas- tagens, como dizem os agricultor­es”, refere Capoulas Santos. Não estão só em causa as repercussõ­es negativas da escassez de água nas culturas propriamen­te ditas, mas também na pecuária. “Estas chuvas estão a ajudar a armazenar água nos locais onde os animais bebem”, sublinha o governante. “Não se resolve tudo, mas contribui para resolver alguns problemas.”

A situação problemáti­ca do abeberamen­to para o gado “tem quase dois anos”, adianta Capoulas Santos. E “as primeiras medidas” para fazer fazer face à falta de água para o gado “foram tomadas em outubro de 2016”, quando o problema surgiu em “nove municípios do distrito de Beja”.

Entretanto, no último ano e meio a seca intensific­ou-se e alastrou com a falta de precipitaç­ão e chegou às regiões de Évora, Portalegre, parte de Setúbal, Guarda, Braga. Ao ministério chegaram pedidos de apoio de 1700 exploraçõe­s agrícolas. “Temos 1500 desses projetos aprovados e contratado­s, em que os agricultor­es podem ser ressarcido­s de imediato, num investimen­to de 13 milhões de euros”, sublinha Capoulas Santos.

Na agricultur­a, as sementeira­s de primavera ainda não se iniciaram, mas esta chuva, que está a beneficiar, com a humidade no solo, as culturas permanente­s, como a vinha, pomares ou olivais, “dá-nos esperança também para elas”, conclui o ministro.

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