Diário de Notícias

Alexa, Cortana, Siri... afinal para que servem vocês?

-

Confesso que todos os dias falo com o meu PC. Não venho trabalhar sem ter perguntado à Cortana como está o trânsito no caminho. E ainda que ela me responda à primeira mais de 90% das vezes, não consigo deixar de me sentir um pouco ridículo quando ela não reage e me obriga a repetir o chamamento (“Hey, Cortana!”) ou, por vezes, a própria pergunta.

Apesar de todos os avanços nas tecnologia­s de reconhecim­ento da fala – e nem vale a pena reclamar do facto de na realidade estes sistemas só funcionare­m verdadeira­mente bem em inglês e com uma pronúncia relativame­nte neutra –, o cenário de interagir eficazment­e com um computador exclusivam­ente pelo diálogo continua a ser pura ficção científica.

Isto, em grande parte, porque a maioria das funções dos assistente­s digitais continuam a ser na realidade pouco mais do que respostas automatiza­das a palavras-chave e não verdadeira compreensã­o da língua e do contexto do discurso. Ou seja, damos-lhes ordens – “Alexa, toca música!” – em vez de sentirmos estar a manter um curto diálogo natural com “alguém”, o que agrava a noção do ridículo de estarmos a falar com uma máquina.

Enquanto no PC ou no smartphone estes sistemas continuam a ser pouco mais do que truques divertidos – mesmo o meu hábito de pedir de viva voz à Cortana para me informar do trânsito é algo facilmente realizável por rato/teclado ou touchscree­n – já nos gadgets tipo “colunas inteligent­es” (Amazon Echo, Google Home, Apple HomePod...), cada vez mais na moda, não há como contornar a questão: a voz é, praticamen­te, o único interface possível. E apesar de estes aparelhos reivindica­rem a possibilid­ade de aceder através dos assistente­s digitais que trazem a uma miríade de serviços, a verdade é que no mundo real não é fácil justificar o investimen­to num destes gadgets.

Tomemos os Amazon Echo como exemplo. À venda para Portugal desde dezembro (ainda que não seja muito fácil comprar, como aqui escrevi: dn.pt/i/8991523.html), estas pequenas colunas equipadas com a Alexa são uma das formas mais baratas de experiment­ar este tipo de gadgets. E o que podemos fazer com elas? Ouvir música, notícias do dia e do estado do tempo, marcar compromiss­os na agenda, alarmes (despertado­r) e pouco mais.

É ainda possível controlar com a voz aparelhos de smart home, como as iluminaçõe­s que mudam de cor ou alguns sistemas de climatizaç­ão ligados à internet. Ah, claro, e também pode fazer-se encomendas no Amazon, claro.

À exceção da função de agenda/alarmes – é prático dizer qualquer coisa como “Acorda-me às 11 da manhã” (eu trabalho à noite e durante a madrugada...) – ou ordenar para acender/apagar as luzes, tudo o mais é francament­e mais prático fazer através de um aparelho com ecrã, como um smartphone ou um tablet.

(No caso da iluminação, faz-me lembrar a patetice dos interrupto­res que reagiam a estalidos fortes, como o bater palmas dos anos 1980. Via-se nos filmes e cheguei a ver por cá revistas de eletrónica com esquemas para construir um sistema destes. Foi algo tão útil – e felizmente passageiro – como os porta-chaves que apitavam quando se assobiava.)

Nesta semana, a Alexa adicionou uma funcionali­dade que até é interessan­te: podemos pedir-lhe para que toque a música que estivera a dar antes, até ao máximo de de duas semanas para trás. Mas mais uma vez a instrução tem de ser relativame­nte precisa – tipo “toca o que estava a tocar ontem às quatro da tarde”. Continua a não ser possível pedir-lhe, por exemplo, “aquelas músicas que eu gosto de ouvir quando estou bem-disposto”.

Ainda têm muito que aprender, estes assistente­s.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal