Cohen vive nas vozes de David, Miguel, Márcia, Mazgani, Samuel e Jorge Músicos portugueses voltam a juntar-se, agora nos coliseus de Lisboa e do Porto, para interpretar temas de Leonard Cohen
MIGUEL JUDAS Foi no dia de aniversário de Leonard Cohen, a 21 de setembro, que este coletivo se reuniu pela primeira vez em palco, perante um lotado Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, para homenagear a obra do músico e cantor canadiano, falecido em 2016, com 82 anos. “A ideia original do espetáculo partiu da embaixada do Canadá, que convidou o Jorge Palma para fazer um espetáculo de tributo ao Cohen”, recorda PedroVidal, o diretor musical do projeto, entretanto também alargado a David Fonseca, Márcia, Mazgani, Miguel Guedes e Samuel Úria. “Quando chega a mim já tinha este formato, que me pareceu um modo muito bonito de homenagear a música de Leonard Cohen, através da voz de artistas que são seus fãs assumidos”, refere o também guitarrista de Jorge Palma. A parte mais complicada, confessa, foi mesmo a escolha dos temas para cada artista. “Cada um propôs quatro ou cinco, mas houve muitas coincidências e eu tive de fazer o papel do mau da fita” [risos]. Ninguém Leonard Cohen no concerto de 2009 em Lisboa. O músico
morreu em 2016 levou a mal e o resultado final, segundo o músico, “acabou por ser muito gratificante para todos”, como se viu nos três espetáculos que então se seguiram, no Porto, na Figueira da Foz e em Loulé, todos eles igualmente esgotados.
“Os concertos correram todos muito bem, não só porque esgotaram mas também pelo que se passou entre todos nós, em palco e fora dele. Demo-nos todos verdadeiramente bem”, adianta Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero, que começou a ouvir Cohen ainda adolescente, “por influência de uma tia”. As canções, “geniais”, também ajudaram muito a criar “este ambiente, que, não sendo de festa, também não é litúrgico”. Trata-se, sim, de “uma celebração do Leonard Cohen, com a dignidade que a palavra impõe, pois a palavra é muito importante na sua obra”, sustenta o cantor. A vontade de voltar a este repertório, na mesma companhia, era grande: “Tínhamos essa vontade de voltarmos a tocar juntos. Quando acabaram os primeiros concertos, isso foi muito visível em todos nós. O primeiro foi uma coisa quase adolescente, de querer fazer tudo bem, sem falhas, o segundo foi o da idade adulta, com tudo no sítio certo, ao terceiro já tudo nos parecia natural e ao quarto estávamos aflitos, porque era o fim e parecia a morte. Foi um ciclo de vida curtinho mas muito intenso. Felizmente, deu para voltar uma vez mais e logo nas salas mais emblemáticas do país”.
Ao alinhamento inicial, composto por alguns dos maiores clássicos de Leonard Cohen, este novo ciclo de concertos nos coliseus de Lisboa e Porto contarão com mais dois temas, um cantado por Mazgani e outro por Miguel Guedes, que além de Suzanne, Tower of Song e I’m Your Man irá também interpretar I Came So Far for Beauty. “Desta vez fui buscar uma que gostasse mesmo de cantar. É uma canção menos conhecida, mas igualmente genial na sua simplicidade”, revela.
Já David Fonseca voltará a interpretar dois dos temas que mais gosta, I Can’t Forget e Chelsea Hotel. “Pediram-nos para fazer uma seleção dos nossos temas favoritos e acabei por ficar com os que queria. Portanto, pelo menos para mim, não foi assim tão difícil a escolha”, diz com humor o músico e cantor, lembrando a surpresa que sentiu quando do convite para ingressar este elenco. “Não estava à espera, porque o Leonard Cohen não me parecia o artista mais óbvio para este tipo de homenagem, mas pareceu-me uma ideia maravilhosa. E como sou fã do Cohen há tantos anos, disse imediatamente que sim, até pelas pessoas envolvidas, todos elas artistas que admiro muito.” Para David, a maior fatia de responsabilidade coube aos músicos, que “tiveram de fazer os arranjos para tantas vozes diferentes, com o objetivo de que o público reconhecesse de imediato as canções, apesar do cunho pessoal de cada um”.
Em palco, além de Pedro Vidal (guitarra), os diversos cantores estarão acompanhados de um coletivo composto por João Correia (bateria), Nuno Lucas (baixo), João Cardoso (teclados) e Paulo Ramos e Orlanda Guilande (coros). “Estamos a tocar a obra de um grande músico e poeta, que apesar de ter passado por diferentes fases estético-sonoras sempre foi muito coerente no seu trabalho”, diz PedroVidal.
AS CANÇÕES DE LEONARD COHEN