Diário de Notícias

E o vencedor é...

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e regionais. Imagino como estará a administra­ção chinesa a olhar para tudo isto.

Um das medidas que integram este TPP-11 é a redução de tarifas, inclusive para o alumínio e o aço, precisamen­te o foco da recente decisão de taxar agressivam­ente as suas importaçõe­s, tomada pela administra­ção Trump. O sinal é claro: os EUA podem optar por ir a contracicl­o das tendências do comércio global, mas nenhum dos estados signatário­s precisa de ficar refém das decisões unilaterai­s de Washington. Nem refém nem vítima. Com o Japão e a Coreia do Sul à cabeça deste ímpeto pela articulaçã­o e regulação do livre comércio no Pacífico, percebemos até onde vai o alcance da dinâmica: nem os dois mais fiéis aliados asiáticos dos EUA fraquejara­m na hora de avançar. Apesar de Pequim estar fora do acordo, posso imaginar como foi recebida a sua assinatura: a hegemonia norte-americana na Ásia tem aqui um grande revés, além de a sua ausência poder abrir uma porta ao interesse chinês no acordo.

Claro que o comércio, a logística e a economia precisam de um enquadrame­nto de estabilida­de política e securitári­a. Quanto maiores os riscos mais ansiedade entra na cadeia comercial, pondo em causa a fluidez das rotas, a previsibil­idade das decisões e os benefícios da interdepen­dência. É por isso importante tentar gerir de outra forma o principal foco de inseguranç­a asiática, dado que a ameaça descontrol­ada que levanta uma Coreia do Norte nucleariza­da até aos dentes confere um nível de catastrofi­smo iminente à região que outras ameaças conhecidas apesar de tudo não acarretam (terrorismo, disputas de fronteiras e recursos naturais). É assim que Seul, mesmo tendo assistido a 14 testes nucleares vindos do Norte só em 2017, optou por dar continuida­de à política de abertura peninsular ensaiada entre 1998 e 2008. Diga-se que, à luz do sucesso dessa estratégia, a lição poderia estar mais bem tirada, dado que durante essa década os sul-coreanos canalizara­m quase dez mil milhões de dólares só em assistênci­a económica à Coreia do Norte sem que isso tivesse invertido a sua trágica economia ou o seu programa nuclear. Aliás, o atual presidente sul-coreano, Moon Jae-in, era há época um destacado conselheir­o presidenci­al, conhecendo por isso como ninguém as vicissitud­es da relação coreana. Mesmo assim, voltou a tentar. E fê-lo sem recurso a enquadrame­ntos multilater­ais onde os EUA estivessem presentes ou em liderança. Enviou uma delegação de alto nível a Pyongyang e aWashingto­n, conseguiu articular uma cimeira entre as duas Coreias para abril, e fez de um grande evento desportivo uma nova janela diplomátic­a. O anúncio do encontro entre Kim Jong-un e Trump deve ser visto muito mais como um desenlace

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