Diário de Notícias

Cristas quer ser primeira-ministra e isso sente-se e dá votos, reuniu-se de gente muito competente, cosmopolit­a, liberal e social, pragmática para o programa eleitoral, uma equipa fresca que parece saber aquilo de que Portugal precisa

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guém uma vez me disse que havia um cronista brasileiro que tinha escrito um texto sobre o texto de reserva que sempre lhe tinham dito para ter pronto para um imprevisto, um pneu furado, uma ressaca, um almoço que se prolonga, como o que tive hoje, mas que nunca escreveu. Escrever textos de reserva é como perguntar caminhos. E já eram quase quatro da tarde e continuava a falar-se com tempo da situação em Angola e da situação de Angola, de Londres, do vinho, de filhos e das mulheres (ou seria dos filhos e de mulheres? Estou agora com esta indefiniçã­o preposicio­nal), do Costa.

No regresso a casa volto a passar pela maior imbecilida­de de sempre, escrita nas estradas e ruas de Portugal, nunca vi no estrangeir­o, mas deve haver porque há tudo no estrangeir­o, a começar pela imbecilida­de, que é aquela maneira de escrever as saídas na vertical no alcatrão dividindo a palavra em dois e escrevendo a palavra ao contrário com a primeira parte da palavra em baixo, e portanto mais próxima do carro que avança, e a segunda em cima. Por exemplo, Mão Porti na saída para Portimão, Rios Sete na saída para Sete Rios, Porto Aero na saída para o Aeroporto. A explicação, já me explicaram, é que se o carro vai a andar a primeira coisa que se lê é Aero, e depois, Porto. Mas o depois é uma fração de segundo depois, seus imbecis, e os olhos não leem em braile, ou tipo scanner, veem a palavra e leem aeroporto, pumba já está lido não é aaaaa eeee roooo poooo rrr tooo. É daquelas imbecilida­des de alguém que acha que é muito esperto. Um homem, claro. Engenheiro, talvez. Simpático, com ideias, daquele tipo muito português muito perigoso que é o burro que trabalha e que fala claro. E deve ter explicado tudo bem explicado e disseram-lhe que sim.

Não esteve um dia bom para a produção de texto, não. É que depois ainda houve mais o Congresso do CDS, e dei por mim a seguir um congresso do CDS, coisa que nunca tinha feito. Tinha, em 1998, no carro, com o meu avô, quando Portas limpou Manuel Monteiro entrando na sala, arrancando aplausos e mudando o CDS para sempre (andava na faculdade, infelizmen­te sem nenhum antigo primeiro-ministro como professor). Cristas quer ser primeira-ministra e isso sente-se e dá votos, reuniu-se de gente muito competente, cosmopolit­a, liberal e social, pragmática para o programa eleitoral, uma equipa fresca que parece saber aquilo de que Portugal precisa. Sob o carisma visionário do Adolfo Mesquita Nunes, cabeças sólidas e arejadas como a Ana Rita Bessa, a Graça Canto Moniz ou o Francisco Mendes da Silva vão de certeza ajudar a pensar num Portugal melhor. E reparei hoje, vinha no carro, o CDS assim quase que parece o CiudaDanoS, a sigla até já dá. Ia a pensar nisto a chegar à saída para o Porto Aero. Ainda lhes meto uma cunha para tratarem também disso quando lá chegarem.

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