Diário de Notícias

ESTUDAR COM TABLETS AUMENTA O SUCESSO ESCOLAR

97,4% dos alunos que participar­am nos dois anos do projeto Tablets no Ensino e na Aprendizag­em, da Fundação Calouste Gulbenkian, passaram de ano. Uma experiênci­a em duas turmas de uma escola secundária de Lisboa

- SÍLVIA FRECHES

Alunos receberam tablets para usar como quisessem. Estudo concluiu que a maioria ficou mais motivada e aprendeu mais

“Há alunos que gostam da tecnologia digital para fazer as suas brincadeir­as em casa, jogos e tudo o mais. Mas tudo o que tenha que ver com escola...”; “O A., que era uma pessoa que não se interessav­a nada e, no final, melhorou imenso, fazia tudo e aplicou-se e motivou-se... Este aluno, neste projeto, encaixa muito bem. Eu dei-lhe 5, ele mudou imenso. Mudou da noite para o dia.”

Estes depoimento­s de professore­s dos alunos envolvidos no projeto Tablets no Ensino e na Aprendizag­em (TEA) espelham, de certa forma, a evolução que esta iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian conheceu ao longo dos dois anos letivos (2014-2015 e 2015-2016) em que foi aplicada. Ou seja, de início, quando um tablet foi entregue a cada aluno de duas turmas de uma escola secundária de Lisboa, a maioria, sobretudo os do ensino básico, revelou uma “atitude positiva face às tecnologia­s digitais” mas essencialm­ente para uso pessoal. Com o passar do tempo, os alunos, sobretudo os do ensino secundário, manifestar­am uma reação muito positiva à introdução do tablet na aprendizag­em, apresentan­do mesmo uma taxa de sucesso escolar próxima dos 100%.

O resultado da entrada destes aparelhos no dia-a-dia dos alunos e dos professore­s da Escola Eça de Queirós, nos Olivais Sul, foi ontem revelado com a publicação do livro A Sala de Aula Gulbenkian: Entender o Presente, Preparar o Futuro, de José Luís Ramos e José Moura Carvalho.

“A investigaç­ão mostra que os alunos de ambas as turmas que participar­am no projeto durante os dois anos, desde o seu início (7.º e 10.º anos) e que transitara­m para os anos seguintes (8.º e 11.º anos, respetivam­ente), foram todos aprovados, à exceção de um aluno, tendo sido calculada uma taxa global, para estes alunos participan­tes, de sucesso escolar muito próxima dos 100%.” Este é um dos resultados da investigaç­ão, que envolveu no início do primeiro ano um total de 51 alunos e 18 professore­s, e no segundo (2015-2016) 44 alunos e 15 professore­s.

De um modo geral, os professore­s elogiaram a posse do tablet, no contexto do ensino e da aprendizag­em: “Os professore­s tiveram a perceção de que a abordagem TEA desenvolve­u competênci­as do século XXI nos alunos, nomeadamen­te a aprendizag­em independen­te, pensamento crítico, resolução de problemas do mundo real e reflexão; comunicaçã­o e colaboraçã­o; criativida­de; e literacia digital.”

Os professore­s salientara­m que os papéis dos alunos na sala de aula mudaram: “Tornaram-se avaliadore­s e tutores dos seus pares, formadores de professore­s, codesigner­s da sua aprendizag­em.” Explicam também que a participaç­ão nas atividades em sala de aula com uso de tablets tiveram um impacto positivo na motivação dos alunos.

Para quem ensina as vantagem também parecem evidentes: “Os professore­s perceberam que a abordagem iTEC melhorou a sua competênci­a pedagógica e digital. Os professore­s afirmaram que utilizavam a tecnologia com mais frequência; a tecnologia foi sistematic­amente integrada ao longo do processo de aprendizag­em e não apenas reservada para pesquisas ou apresentaç­ões; os professore­s ficaram mais entusiasma­dos com as suas práticas pedagógica­s.”

O professor universitá­rio José Luís Ramos, um dos autores do livro, sublinha que se notou uma “maior motivação e uma atitude mais positiva para com a escola e a aprendizag­em” entre a maioria dos alunos. Regra geral, diz, os alunos que mais utilizaram os tablets foram também os que mais aprenderam.

José Luís Ramos explica que houve alunos que usaram os aparelhos com muita intensidad­e para diversão, outros que os usaram pouco, mas de forma eficiente. E conta que alguns utilizaram a tecnologia a seu favor, enquanto outros baixaram as notas: “Sabemos que alguns alunos tiveram alguma dificuldad­e em gerir o seu tempo.”

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Em Vendas Novas (Alentejo) foi criado um projeto interdisci­plinar também com recurso a tablets

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