Diário de Notícias

Ideias para trazer mais mulheres à política dividem partidos

Listas com mais mulheres, alargadas às freguesias. PCP é contra, PS e BE a favor, restantes partidos esperam para ver

- MIGUEL MARUJO

PÁGS. 4 E 5

O governo quer obrigar os partidos a terem mais mulheres eleitas, mas por enquanto os partidos têm reticência­s e dúvidas sobre a proposta que foi aprovada no Conselho de Ministros no Dia Internacio­nal da Mulher, a 8 de março. PS e BE estão de acordo, mas o PCP é, por princípio, “contra a lei da paridade”.

No diploma aprovado, cujo texto ainda não chegou ao Parlamento, o governo aumenta o limiar de representa­ção de 33,3% para 40%, amplia o âmbito de aplicação da lei às freguesias, altera a regra de ordenação das listas, com os dois primeiros lugares a serem ocupados por candidatos de sexo diferente, obriga à substituiç­ão dos eleitos por um candidato do mesmo sexo da lista, e como sanção aplica “a regra geral de rejeição da lista incumprido­ra”.

O PS saudou estas propostas, por entender que se deu – nas palavras da deputada Elza Pais – “um passo importante no sentido de eliminar as desigualda­des entre géneros e que continuam a afetar, sobretudo, as mulheres, em matérias como a conciliaçã­o entre vida profission­al e familiar, a desigualda­de salarial e a segregação ocupaciona­l”.

O PSD ainda não discutiu o diploma, mas o deputado Carlos Peixoto notou que o partido “não deve manifestar qualquer resistênci­a” à alteração de 33,3% para 40%. Já as outras propostas merecem mais atenção, defendeu, como a da substituiç­ão direta, por poder introduzir “alguma disfunção” sobre quem se elege. Insistindo que esta é a sua opinião, Carlos Peixoto notou que o PSD não tem uma posição fechada.

A deputada bloquista Sandra Cunha notou ao DN que falta uma “análise mais detalhada das propostas”. Em todo o caso, “concordamo­s e apoiamos estas propostas”, ainda que “possa existir dúvidas sobre se a substituiç­ão direta por uma pessoa do mesmo género pode colidir com direitos dos eleitos” nessa mesma lista.

Sandra Cunha disse que está ciente de que “esta proposta vai dificultar a vida dos partidos, BE incluído”. “Partidos que defendem e lutam pela igualdade de género terão de trabalhar um bocadinho mais e cumprir as regras e a lei”, afirmou, notando que o que acontece é que as listas cumprem a lei da paridade, mas depois, na hora de assumir funções, há menos mulheres efetivas. O próprio BE tem seis deputadas em 19 parlamenta­res, o que é menos do que os 33% das listas (ver infografia). Ainda assim, o aumento do limiar de representa­tividade para os 40% é “bem-vindo”, defendeu.

O PCP, “por princípio, está contra”, notou ao DN a deputada Rita Rato. “É uma posição de princípio, pelo que representa de condiciona­mento na vida interna de um partido”, explicou-se, “além de tentar tratar de forma administra­tiva problemas estruturai­s”.

Rita Rato recordou que o Parlamento na legislatur­a anterior (de 2011 a 2015) foi o que teve mais mulheres e “foi também dos que mais decidiram contra os direitos das mulheres”, ao aprovar cortes

nas pensões ou o aumento das horas de trabalho na administra­ção pública, medidas que penalizara­m sobretudo mulheres. “Não basta dizer que os direitos das mulheres ficam defendidos se existirem mais mulheres.”

Os dois partidos mais partidário­s, PEV e CDS, remetem uma posição mais definitiva para depois de uma análise mais aprofundad­a, mas o PEV fez saber, por fonte oficial, que tem desde já dúvidas sobre a substituiç­ão dos mandatos por pessoas do mesmo sexo. Por enquanto, “não há sentido conclusivo de voto do PEV”.

Fonte da bancada do CDS remeteu uma análise para a comissão executiva e grupo parlamenta­r, “até porque ainda não existe agendament­o”, mas fez notar ao DN que “o líder parlamenta­r lembra que sempre houve opiniões diversas sobre esta matéria”.

Também André Silva, do PAN, disse estar “a analisar as especifici­dades das duas propostas apresentad­as”, notando que “por princípio concorda com as medidas estudadas pelo governo”, que dão “corpo a um anseio social, nacional e internacio­nal para que haja um maior equilíbrio efetivo no acesso a cargos de liderança e a cargos de gestão na função pública”.

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António Costa tem 20 mulheres no governo, 17 secretária­s de Estado (24 são homens) e três ministras (e 15 ministros)
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