Juros para a compra de casa caem para metade em três anos
A taxa de juro dos novos empréstimos à habitação atingiu um mínimo histórico. A agência de rating DBRS elogia medidas do Banco de Portugal para prevenir excessos no crédito
A concessão de crédito à habitação tem aumentado nos últimos meses. Só em janeiro os novos empréstimos superaram os 630 milhões de euros
RUI BARROSO Nunca foi tão barato pedir crédito à habitação. O preço cobrado pelos bancos para concederem empréstimos voltou a cair em janeiro. Está num novo mínimo histórico. A taxa de juro das novas operações é menos de metade do que em dezembro de 2014. Além das Euribor em valores negativos, essa redução reflete também as descidas dos spreads feitas pelos bancos, numa fase de maior concorrência na concessão de crédito. E isso tem-se traduzido numa aceleração dos novos empréstimos.
Em janeiro, a taxa de juro média dos novos créditos à habitação foi de 1,47%, segundo dados divulgados esta terça-feira pelo Banco de Portugal, o valor mais baixo desde o início da série estatística do supervisor, que remonta a janeiro de 2013. Em pouco mais de três anos, o custo de contratar um novo crédito à habitação caiu em mais de metade. Em dezembro de 2014, a taxa de juro dos novos empréstimos era de 3%. Em 2008, o custo tinha chegado a superar os 5,7%, altura em que as Euribor estavam em máximos. Atualmente, estas taxas estão em valores negativos. Mas o mercado estima que já tenham batido no fundo e que regressem a valores positivos em 2019, o que terá reflexos nas prestações do crédito.
Já do lado dos spreads antecipam-se mais descidas. No último inquérito ao setor bancário do Banco de Portugal, divulgado em janeiro, o supervisor constatava que havia bancos a indicar que “as pressões exercidas pela concorrência contribuíram ligeiramente para uma menor restritividade dos termos e condições aplicados, designadamente para reduzir ligeiramente os spreads dos empréstimos de risco médio”. Desde o início do ano, entidades como a CGD, o Crédito Agrícola e o EuroBic já anunciaram, segundo o Jornal de Negócios e o Eco, descidas nas margens cobradas.
Esta maior disponibilidade dos bancos para darem crédito permitiu que os novos empréstimos acelerassem. E também existem sinais de um maior apetite dos portugueses para pedir crédito à habitação. “Entre os fatores que contribuíram para o aumento da procura, os bancos destacaram a melhoria da confiança dos consumidores”, observa o Banco de Portugal.
Com a oferta dos bancos a coincidir com a procura dos clientes em janeiro, o montante das novas operações foi de 634 milhões de euros. Ou seja, mais de 20 milhões por dia. Apesar de ter representado uma diminuição face aos últimos meses de 2017, comparando com arranques de ano anteriores, a torneira está muito mais aberta. Desde 2010 que não havia tanto crédito concedido no primeiro mês do ano. Nessa altura, os bancos emprestaram 771 milhões de euros. Em janeiro de 2017, o montante tinha sido de 553 milhões de euros.
A tendência de crescimento do novo crédito, não só à habitação mas também ao consumo, levou o Banco de Portugal a anunciar limitações que os bancos deverão seguir na hora de conceder crédito. Essas recomendações começam a ser aplicadas em julho deste ano e tentam limitar a proporção do rendimento das famílias que possa ser destinado para fazer face aos juros do crédito, por exemplo. Para a DBRS, as diretrizes impostas pelo supervisor são “positivas” já que atenuam eventuais riscos para a estabilidade financeira (ver entrevista). Em Portugal a maior parte do crédito à habitação é feita a taxa variável. Isso pode ser um risco num cenário em que se antecipa o início da subida de juros? Sim. O crédito à habitação com taxa variável deixa as famílias portuguesas, assim como as de outros países, expostas a uma rápida subida das taxas de juro. Ainda assim, as subidas das taxas de juro devem ser vistas num contexto de crescimento da economia, melhoria do mercado de trabalho e subida dos salários. Estas condições favoráveis melhoram a resistência das famílias portuguesas a choques. Nos últimos meses houve uma subida do crédito concedido e, em simultâneo, dos preços das casas. Isto pode ser uma preocupação para as famílias e para a estabilidade financeira? Se sustentado no tempo, um mercado imobiliário sobreaquecido conjugado com uma forte concessão de crédito à habitação pode causar preocupações sobre os riscos para a estabilidade financeira. Esse cenário aumenta os riscos de uma correção nos preços das casas. Neste momento, não pensamos que esse seja o caso para Portugal. Mas iremos continuar a observar a tendência dos preços das casas e do crescimento do crédito. O Banco de Portugal anunciou, pela primeira vez, medidas macroprudenciais para prevenir excessos na concessão de crédito. Isto é positivo? As medidas macroprudenciais são desenhadas para resolverem a acumulação de riscos para a estabilidade financeira e para concederem resistência aos bancos e às famílias. Assim, a adoção de medidas macroprudenciais – como os limites recomendados para os rácios entre o montante do empréstimo e o valor do imóvel dado em garantia, entre o montante da prestação mensal calculada com todos os empréstimos do mutuário e o seu rendimento e nos prazos dos empréstimos tanto à habitação como ao consumo – é positiva.