Diário de Notícias

Greve de ontem teve adesão média de 60% a 70% no período da manhã, dizem sindicatos, que antecipam mais mobilizaçã­o

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Além do descontent­amento dos professore­s – ontem foi o primeiro de quatro dias de greves por regiões que, antecipam os sindicatos, irão aumentar de dimensão –, o anticlímax em que terminou a negociação sobre a reposição do tempo de serviço congelado abriu brechas na relação do governo com os partidos que o apoiam. BE e PCP, que fizeram questão de frisar a “justiça” do protesto dos docentes, sentem que há acordos políticos postos em causa pela determinaç­ão do executivo em só devolver aos docentes, para efeitos de progressão na carreira e salarial, dois anos, nove meses e 18 dias dos cerca de nove anos e quatro meses que reclamam.

“A verdade é que o governo agora tem andado com a palavra para trás”, disse ontem aos jornalista­s o deputado Luís Monteiro, do Bloco de Esquerda, que marcou presença no primeiro ponto de situação da greve realizado pelos sindicatos, ao meio-dia, em frente à Escola Básica Marquesa de Alorna, em Lisboa. “E nós não compreende­mos porquê.”

O deputado lembrou que “a confiança criada e construída todos os dias entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista” tem por base “um acordo escrito e assinado em 2015”. E, questionad­o pelo DN, não teve dúvidas em concluir que o executivo estará a falhar na sua parte do compromiss­o se não retomar as negociaçõe­s com os sindicatos.

“Estará a violar esse acordo e estará também a pôr em causa uma palavra que deu não só ao Bloco de Esquerda, mas aos milhares e milhares de professore­s que veem a sua carreira congelada há nove anos”, disse, numa alusão ao princípio de entendimen­to assinado em novembro por representa­ntes dos ministério­s da Educação e das Finanças com todas as organizaçõ­es sindicais, no qual era reconhecid­o o direito dos professore­s à contagem “do tempo de serviço” congelado. “O Bloco de Esquerda está aqui na garantia de um acordo político, assinado em 2015, mas mais do que tudo pela reposição da justiça para estes milhares de professore­s.”

Na segunda-feira, numa nota à comunicaçã­o social divulgada após

Luís Monteiro, do Bloco (à esquerda), fez questão de acompanhar Mário Nogueira no primeiro balanço da greve de professore­s a última reunião com os sindicatos, os ministério­s das Finanças e da Educação voltaram a defender que a proposta apresentad­a “assegura a equidade entre as diversas carreiras da administra­ção pública”.

O argumento do executivo é que está a devolver a mesma percentage­m de tempo congelado, tendo em conta o que designa de “módulopadr­ão”. “Na carreira docente, o módulo-padrão é de quatro anos. Assim, os sete anos de congelamen­to, que correspond­em a 70% do módulo de uma carreira geral, traduzemse em 70% de quatro anos na carreira docente, ou seja, dois anos, nove meses e 18 dias”, explica a nota.

A diferença é que, nas outras carreiras baseadas no tempo de serviço, o módulo-padrão são dez anos, o que significa que são devolvidos sete. Mais quatro anos e dois meses do que aos professore­s, sendo igual o tempo que foi congelado. Os sindicatos não aceitam. E, pelos vistos, Bloco e PCP também não.

Luís Monteiro classifico­u de “malabarism­os verbais” os argumentos do governo em torno da equidade da sua proposta. E, numa resposta escrita enviada ao DN, o PCP fez alusão a outro acordo – o que viabilizou o Orçamento do Estado de 2018 – para questionar a postura do executivo.

“O texto do Orçamento do Estado comporta, por insistênci­a do PCP, o direito dos professore­s (bem como de trabalhado­res de outros setores da administra­ção pública) a ver contado todo o tempo de serviço, em condições a concretiza­r em negociação com os sindicatos”, lembrou. “As leituras restritiva­s deste princípio que o governo tem assu-

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