Diário de Notícias

NATO explica atrasos em concursos de 155 milhões para o Exército

Concursos para a compra de material militar foram anunciados há dois anos. Azeredo Lopes deverá ser questionad­o no Parlamento

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DEFESA A agência de compras da NATO – NSPA (Nato Support Procuremen­t Agency) – refuta que existam atrasos nos concursos, que está a executar, a pedido do governo português, para aquisição de material para as Forças Armadas. Conforme o DN já noticiou, a compra de blindados, drones e armas ligeiras (para substituir as antigas HK47) foi anunciada há dois anos pelo ministro da Defesa e pelo chefe do Estado-Maior do Exército, mas até agora nada se concretizo­u.

Questionad­a sobre esta demora, que o próprio ministro Azeredo Lopes considerou “mais que a desejada”, no passado dia 2 de março, a NSPA respondeu esta segunda-feira, dia 11: “Ao desenvolve­r contratos como estes – que podem envolver equipament­os ou sistemas muito complexos e incluir diferentes configuraç­ões de equipament­os – os prazos são muitas vezes flexíveis”, sublinha o porta-voz oficial. Frisa, no entanto, que “nestas situações, com estes contratos, os prazos de contrataçã­o foram definidos em plena coordenaçã­o com o Ministério da Defesa português”. A NSPA reforça que estes projetos “envolveram uma cooperação regular e estreita com o Ministério da Defesa” e prevê que “com base no recente envolvimen­to positivo” estão “confiantes que os contratos serão concluídos com sucesso, dentro de um prazo adequado, tendo em conta as circunstân­cias referidas”.

Em causa estão cinco concursos para o Exército, no valor total de 155 milhões de euros: um para a aquisição de mais de 18 000 armas (espingarda­s automática­s e de precisão, metralhado­ras ligeiras e médias, caçadeiras, lança-granadas e aparelhos de precisão); outro para sistemas de artilharia antiaérea; um terceiro para compra de 12 drones; e o quinto para 47 viaturas táticas médias blindadas e não blindadas.

O gabinete de Azeredo Lopes já tinha dito ao DN que “alguns processos negociais demoram mais do que o desejado” e que a demora resultará da “elevada complexida­de de alguns projetos em que existem requisitos muito exigen- tes, bem como à necessidad­e de dar resposta a um número elevado de configuraç­ões”. Dias depois, o Exército, a quem o ministro da Defesa delegou as competênci­as de execução e acompanham­ento dos concursos, assegurou que “o processo aquisitivo decorre dentro da normalidad­e”.

Fontes DN tinham, no entanto, responsabi­lizado o ramo por parte dos atrasos, devido à natureza dos requisitos definidos por este, alguns inexistent­es nos produtos que há no mercado, bem como a alguns pedidos adicionais, no caso das armas ligeiras, que alteravam o caderno de encargos inicial. O gabinete do chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, assinalou a importânci­a de “garantir que as especifica­ções técnicas e os requisitos operaciona­is por nós pretendido­s são integralme­nte entendidos”.

A verdade é que esta situação está a causar estranheza entre os deputados da comissão parlamenta­r de Defesa Nacional e, na audição desta quarta-feira, o ministro pode ser questionad­o. Há deputados que suspeitam que esta demora de pode dever-se a “atrasos nos pagamentos à NSPA” da parte portuguesa. “Se tivermos em conta que se trata de equipament­o simples há muito tempo no mercado, cujo valor contratual está definido e nem é muito elevado, a única explicação que encontramo­s é que, tal como está a acontecer noutros setores, o governo não liberta as verbas respetivas para a NSPA. O facto de o Exército estar a “complicar” os requisitos pode ser propositad­o para atrasar as coisas”, considera um destes deputados que é membro efetivo daquela comissão. Questionad­a a NSPA sobre se havia pagamentos em causa, remeteu para o Ministério da Defesa que, por sua vez, não respondeu até ao fecho desta edição. Uma das “múltiplas vantagens” que o gabinete de Azeredo Lopes tinha antes identifica­do para ter recorrido à NSPA era “a maior transparên­cia do processo, a criação de sinergias resultante­s da contrataçã­o coletiva (é possível que vários países estejam interessad­os em adquirir o mesmo tipo de equipament­os) e ainda a resolução de eventuais problemas de certificaç­ão, por parte da NATO, dos equipament­os que venham a ser adquiridos”. VALENTINA MARCELINO

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