Caso do ex-espião: aliado de Merkel sugere resposta do Ocidente contra a Rússia
Moscovo nega envolvimento e pede amostra de gás nervoso. Mais um opositor russo aparece morto em Londres
PATRÍCIA VIEGAS Apesar das divergências que existem sobre o dossiê do brexit, a UE está pronta a apoiar os britânicos no caso do ex-espião russo envenenado com gás nervoso.
Londres acusa Moscovo de estar na origem do ataque a Serguei Skripal no dia 4 em Salisbury. Moscovo nega, fala em orquestração, exige provas e uma amostra do gás.
Segundo as autoridades britânicas, a substância é Novichok, uma arma química desenvolvida pela então União Soviética no final do período da Guerra Fria.
“A descoberta de uma substância militar russa significa que a Rússia não pode recusar cooperação para resolver isto, e se não cooperar, então tem de haver uma resposta conjunta por parte do Ocidente”, disse à Reuters Norbert Roettgen, membro da CDU de Angela Merkel e presidente da comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros do Parlamento da Alemanha.
Na véspera a primeira-ministra britânica, Theresa May, declarara perante os deputados do Parlamento do Reino Unido que considera “altamente provável” que a Rússia seja responsável pelo ataque a Skripal.
Também a filha deste, Yulia, foi visada no ataque. Ambos estão hospitalizados em estado crítico mas estável. Foram encontrados num banco da catedral de Salisbury já inconscientes. O agente da polícia que primeiro os socorreu também está internado.
Ontem, a polícia britânica lançou um apelo a todas as testemunhas que possam ter visto o BMW vermelho do ex-espião e da filha antes de o ataque ocorrer. May deu até hoje para o regime do presidente Vladimir Putin (que deverá ser reeleito nas eleições de domingo) dar explicações.
No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo negou já ontem qualquer responsabilidade de Moscovo no caso. Serguei Lavrov disse que a Rússia está “inocente e pronta a colaborar”, mas pediu uma amostra do gás nervoso de que os britânicos falam.
“Estamos ao lado do Reino Unido na procura da justiça neste caso e estamos prontos a oferecer o nosso apoio caso seja necessário”, disse ontem, à Reuters, uma porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
“Se gás nervoso está a ser ativamente usado contra civis num dos nossos Estados membros, penso que o Conselho Europeu deve expressar, nos termos mais claros, a sua solidariedade para com o povo e o governo britânico no que toca a esta situação”, declarou por seu lado o vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans.
Enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros da Holanda, Timmermans acusou os russos de terem abatido no Leste da Ucrânia o avião da Malaysia Airlines que ia de Amesterdão para Kuala Lumpur com 298 pessoas a bordo.
Entretanto, no Sul de Londres, foi encontrado morto o opositor russo Nikolai Glushkov. Foi descoberto em casa, na segunda-feira à noite, por familiares, apresentando “sinais de estrangulamento”. Glushkov era próximo de Boris Berezovsky, oligarca russo, que apareceu morto, também em casa, a 23 de março de 2013. A ministra do Interior britânica, Amber Rudd, indicou entretanto que vai ordenar um inquérito a 14 mortes com ligações à Rússia no Reino Unido.
“Se a Rússia não cooperar, então tem de haver uma resposta conjunta por parte do Ocidente”
NORBERT ROETTGEN PRESIDENTE DA COMISSÃO PARLAMENTAR DE NEGÓCIOS ESTRANGEIROS NO BUNDESTAG “Estamos ao lado do Reino Unido na procura da justiça neste caso e estamos prontos a oferecer o nosso apoio caso necessário”
PORTA-VOZ DE FEDERICA MOGHERINI
CHEFE DA DIPLOMACIA EUROPEIA “Se gás nervoso está a ser ativamente usado contra civis num dos nossos Estados membros, penso que o Conselho Europeu deve expressar, nos termos mais claros, a sua solidariedade para com o povo e o governo britânico no que toca a esta situação”
FRANS TIMMERMANS
VICE-PRESIDENTE DA COMISSÃO EUROPEIA “Parece-me que eles acreditam que foi a Rússia, e eu certamente tomarei isso como um facto”
DONALD TRUMP
PRESIDENTE DOS EUA “O Reino Unido é um aliado muito importante e este incidente é de grande preocupação para a NATO”
JENS STOLTENBERG
SECRETÁRIO-GERAL DA NATO