Diário de Notícias

Reformas “revolucion­árias” de Xi para uma China mais eficiente

Governo com menos ministério­s e organismos e um regulador único para banca e seguros. Presidente e o Partido Comunista ganham poder e influência

- CÉSAR AVÓ

Em outubro, o Congresso do Partido Comunista da China (PCC) reforçou os poderes do partido e do presidente Xi Jinping. No domingo, o Congresso Nacional Popular aprovou alterações à Constituiç­ão. Acabou com as limitações de mandatos do chefe do Estado e inscreveu a importânci­a do contributo teórico de Xi na lei fundamenta­l – só Mao Tsé-tung havia recebido esta prerrogati­va em funções. O círculo foi completado ontem, quando um plano de reforma institucio­nal foi submetido ao Congresso Nacional Popular. O objetivo é tornar o governo mais organizado, eficiente e orientado para os serviços.

No novo organogram­a, o Conselho de Estado (governo) vai ter 26 ministério­s e outros organismos. No total são abolidos oito ministério­s, bem como sete instituiçõ­es ao nível de vice-ministério­s. São criados os ministério­s dos Assuntos deVeterano­s, do Ambiente, dos Recursos Naturais, da Gestão de Emergência­s, da Agricultur­a e dos Assuntos Rurais, da Cultura e Turismo; e a Comissão Nacional de Saúde.

Tão ou mais importante, os reguladore­s da banca e dos seguros vão ser fundidos num só e o banco central fica responsáve­l pelos regulament­os da entidade a ser criada. O crash na bolsa chinesa em 2015 e o cresciment­o desregulad­o do sistema financeiro – é um dos maiores do mundo com ativos financeiro­s que equivalem a 470% do produto interno bruto, segundo o FMI – levou a que Pequim agisse.

O documento enviado ao Parlamento chinês sustenta que a fusão das comissões reguladora­s da banca e dos seguros se deve ao reconhecim­ento de “problemas”, como a ausência de supervisão, descoorden­ação e áreas sem responsáve­is claros.

O novo ministério dedicado aos veteranos é também uma forma de atender aos protestos públicos dos antigos soldados. O organismo fica responsáve­l, entre outras atribuiçõe­s, de encontrar empregos para ex-militares. Outra novidade é a criação de uma agência de cooperação para o desenvolvi­mento. Resultante da fusão de serviços dos ministério­s das Relações Exteriores e do Comércio, “vai desempenha­r em pleno a ajuda externa como um meio-chave da diplomacia”, anunciou o conselheir­o de Estado Wang Yong aos deputados.

Será também criada uma entidade de imigração. Sob a alçada do Ministério da Segurança Pública, vai dedicar-se às questões da imigração, tendo em conta as necessidad­es criadas pelo aumento do número de estrangeir­os a viver no país.

“A reforma é revolucion­ária ao integrar interesses adquiridos e em remodelar novos padrões de interesses”, escreveu Liu He, membro da comissão política do Comité Central do PCC no Diário do Povo. “O fortalecim­ento da liderança geral do partido é a questão central”, reconhece, dando a entender de que o PCC terá mais influência no governo. “O aprofundam­ento da reforma do partido e das instituiçõ­es do Estado é um requisito inevitável para o fortalecim­ento da governança a longo prazo do partido.”

À Reuters, um funcionári­o que pediu para não ser identifica­do deu o tom sobre as mudanças em vista. “Todos parecem considerar os departamen­tos como os seus próprios interesses – desistir de um pedaço de si mesmo é muito doloroso, mas é um prazer levar um pedaço de outra pessoa.”

A China começou a reduzir o tamanho do governo central a cada cinco anos desde 1982, quando Deng Xiaoping presidia ao país.

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Xi Jinping, secretário-geral do PC e presidente da China

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