Electra habita uma casa deixada vazia pelos media
Nova revista da fundação será apresentada no sábado, com a presença de Boris Groys
MARIANA PEREIRA Uma entrevista a Boris Groys, um dos mais relevantes pensadores do nosso tempo, conduzida por António Guerreiro, um portfólio de Lourdes Castro em torno do poeta Rainer Maria Rilke, uma “ficção teórica” do filósofo francês Frédérique Neyrat, Marx nas Estrelas: Notas para Uma Saída da Época, ou um texto de Maria Filomena Molder escrito sobre a passagem de Jules Michelet “Cada época sonha com a seguinte”. Estas são algumas das peças que dão corpo ao primeiro número da Electra, a nova revista trimestral da Fundação EDP, que se estreia com o tema “Nesta grande época: à procura do nosso tempo”.
José Manuel dos Santos, administrador e diretor cultural da Fundação EDP, que dirige a publicação, explicava ontem aos jornalistas que “esta revista quer ser contra a superficialidade dos juízos” nesta época de “imediatez”, em que somos “sugados para uma espécie de vertigem”, citando ainda Harold Bloom ao afirmar que “a função da crítica literária é transformar a opinião em conhecimento”.
António Guerreiro, editor da Electra, situa-a num lugar “fora daquilo em que os jornais se transformaram”, dizendo que ela “parte do pressuposto de que os media deixaram um espaço por habitar, uma casa vazia”. Casa essa que a revista pretende habitar, numa contradição, explicava o crítico e editor, entre “um polo [que] nos diz que já não vivemos no tempo das revistas” e outro a dizer “que as revistas são necessárias”. O editor deixou ainda um aviso: “Não vamos estar preocupados em fazer de guardas de fronteiras disciplinares.”
Nessa casa, especificava depois José Manuel dos Santos ao DN, evocando uma espécie de “livro de estilo implícito”, falar-se-á uma linguagem em que “os assuntos sejam tratados com profundidade e densidade, mas queremos que eles sejam tratados numa linguagem que torne possível a um não especialista ler e perceber o que está a ler”.
Electra já está nas bancas (a nove euros), com uma tiragem de cinco mil exemplares em português e mil em inglês, e só existe em papel. “Pelo menos numa fase inicial, enquanto a revista estiver nas bancas não faz sentido pô-la online, explicou o diretor, que no sábado apresentará a revista ao público às 17.00 no Museu de Arte e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, ao lado de António Guerreiro e de Boris Groys.
Através de secções como Primeira Pessoa, inaugurada com Boris Groys, ou Figura, com um texto de João Oliveira Duarte sobre o poeta António Franco Alexandre, surge a Electra, neste “tempo que é um edifício de muitas portas, de muitos andares, e é preciso ter chaves para entrar lá”, segundo José Manuel dos Santos.