Diário de Notícias

O futebol despede-se de Camacho Vieira, ícone da medicina desportiva

Antigo médico da seleção e do Belenenses morreu ontem aos 93 anos. “Deixa um enorme legado”, diz o presidente da FPF

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ÓBITO Para a história destas páginas ficou a forma como salvou a vida de um jornalista do Diário de Notícias no dia em que Portugal se qualificou para o Mundial 1986. Mas Augusto Camacho Vieira fez muito mais do que isso. O antigo médico da seleção nacional e do Belenenses, figura ímpar da medicina desportiva e do fado de Coimbra, morreu ontem, aos 93 anos.

Aquele 16 de outubro de 1985 foi dos dias mais felizes que Camacho Vieira viveu ao longo dos 38 anos que passou como médico da Federação Portuguesa de Futebol: com uma vitória sobre a R. F. Alemanha (0-1), em Estugarda, Portugal apurou-se para o Campeonato do Mundo de futebol, ao fim de duas décadas de ausência. No entanto, nem tudo foram rosas: “Aquele golo magistral de Carlos Manuel, [um remate de longe] a entrar pelo cantinho direito da baliza, desencadeo­u um enfarte de miocárdio a um jornalista do DN, Almeida Santos”, contou, em 2003, à Revista Medicina Desportiva.

A intervençã­o do clínico acabou por salvar a vida do enviado do Diário de Notícias a Estugarda. [Almeida Santos] foi de imediato transporta­do para a enfermaria. Foi tratado de emergência [com recurso a um desfibrilh­ador] e levado para o hospital, tendo alta no dia seguinte”, recordou, então.

Esse foi apenas um dos episódios memoráveis que Camacho Vieira viveu enquanto médico da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). “A sua competênci­a profission­al e qualidade humana contribuír­am para engrandece­r a FPF e o futebol português. Com uma educação extrema e uma veia artística reconhecid­a, deixa igualmente ao país um enorme legado de alegria, humildade e simpatia”, declarou o presidente da FPF, Fernando Gomes.

Galardoado pela Presidênci­a da República como comendador da Ordem de Mérito, Camacho Vieira foi ainda distinguid­o como médico honorário da FPF, sócio honorário do Belenenses e recebeu as medalhas de honra de mérito desportivo do Ministério da Educação e de mérito cultural da Câmara Municipal de Coimbra. Esta última deveu-se à sua outra faceta: o médico, natural de Miranda do Corvo e formado na cidade dos estudantes, foi também “um conceituad­o cantor de fado de Coimbra” (participou na primeira serenata transmitid­a em direto pela rádio e gravou obra de 1953 a 2004), como lembrou a Académica, ao despedir-se do seu sócio n.º 1634. As cerimónias fúnebres de CamachoVie­ira decorrem hoje na Igreja de São João de Brito (Lisboa): pelas 14.30, realiza-se a missa de corpo presente, seguindo depois o funeral para o cemitério do Alto de São João. R.M.S.

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